Ministro Jorge Messias e Senador Rodrigo Pacheco - créditos: URB NEWS
24-11-2025 12h06
Samuel Arruda*
A nomeação de Jorge Messias para a cadeira do ministro Luís Roberto Barroso no STF não é apenas mais um movimento rotineiro de sucessão: reflete um duelo profundo de influência entre o Planalto e o Senado, e carrega riscos para a independência do Judiciário.
Apesar de Messias ter o apoio declarado de Lula, seu nome não é consenso, há uma corrente significativa no Senado que avalia seu perfil com desconfiança, além de aumentar significativamente o descontentamento de amigos do senador Rodrigo Pacheco.
O senador Carlos Portinho (RJ) expressou preocupação clara: ele defende que o novo ministro “não tenha vínculos pessoais com o presidente”, criticando o que enxerga como indicações muito próximas ao Executivo.
Já Eduardo Girão (Novo-CE) foi ainda mais duro, dizendo que a relação Executivo–Judiciário já chegou a um “nível delicado” e que a independência institucional estaria comprometida.
Parte significativa do centrão e de partidos da base deve resistir: segundo o O Tempo, os senadores do PP, PL, Podemos, entre outros, não teriam entusiasmo por Messias.
Um contraponto forte à indicação de Messias vem do próprio Senado: muitos parlamentares preferem o senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para a vaga.
Pacheco seria visto como um nome mais moderado e conciliador, com maior respaldo institucional.
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, seria um dos principais fiadores desse nome, segundo fontes.
Para parte do Senado, a nomeação de Pacheco seria uma forma de preservar mais equilíbrio institucional, evitando o que alguns veem como uma “captura” da Corte por aliados do governo.
A estratégia de Lula: firme no seu favorito
No entanto, no Planalto, Messias parece ser realmente o escolhido de Lula — por afinidade política e lealdade.
Messias é aliado de longa data, e sua história na Advocacia-Geral da União dá ao presidente confiança sobre seu posicionamento.
Segundo reportagem da FolhaPress, Lula estaria fazendo uma “rodada final de conversas” para assegurar os votos necessários no Senado, mostrando que ele sabe das resistências — mas parece decidido.
Mesmo com a pressão, há no Planalto a avaliação de que Messias seria mais facilmente “cobrado” e alinhado com o Executivo em momentos difíceis, algo que um Pacheco independente talvez não ofereça tão facilmente.
Essa disputa revela tensões sérias que vão além da simples nomeação, mas o futuro nas relações institucionais:
Autonomia do STF: A forte ligação de Messias com o governo levanta questionamentos sobre até que ponto ele poderá atuar com independência. A crítica de senadores de que poderia ser “mais um Dino” (referência a Flávio Dino, outro indicado por Lula) sugere temores de influência política na Corte;
Processo de indicação: Alguns parlamentares já falam em reformar o modelo de escolha de ministros do STF, justamente por não gostarem da “escolha exclusiva do chefe do Executivo” sem critérios independentes;
Velha política: A tensão escancara o entrelaçamento clássico de poder entre Executivo, Legislativo e Judiciário — e para críticos, isso pode reforçar a ideia de que o STF pode se tornar uma extensão do Planalto, minando a separação de poderes.
O que esperar da sabatina no Senado
Messias deverá passar pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), onde será sabatinado por senadores. De acordo com o regimento do Senado, o indicado precisa da maioria de presentes na CCJ para seguir para o plenário;
No plenário, será necessário pelo menos 41 votos favoráveis entre os 81 senadores para confirmar a indicação;
O fato de a votação ser secreta (tanto na CCJ quanto no plenário) pode facilitar a aprovação, mas também abre espaço para surpresas e barganhas políticas de última hora;
Mesmo com resistência, se o Planalto conseguir negociar suficientemente (via líderes, centrão, senadores chaves), Messias tem chances reais — mas não garantidas.
A nomeação de Jorge Messias para o STF é mais do que um ato institucional: é um movimento político estratégico de Lula para reforçar sua influência na Corte, mas enfrenta uma base sensível no Senado que teme a perda de independência do Judiciário. A resistência a Messias não é apenas pessoal, mas estrutural: há um desconforto genuíno entre senadores sobre a cultura de indicações, e o centro desse desconforto é justamente a relação entre Executivo e STF.
Se for aprovado, Messias poderá trazer uma Corte mais alinhada com o Planalto — o que pode ser vantajoso para o governo, especialmente em momentos de conflito institucional, mas pode também provocar críticas severas de que o Supremo está se tornando menos instituição de autonomia e mais braço político.
Para o Senado, apoiar Pacheco significaria afirmar um contrapoder real; para Lula, insistir em Messias é arriscar, mas também é afirmar controle. A sabatina será, portanto, muito mais do que um rito formal — será um teste de forças.
*Samuel Arruda é jornalista e articulista

