Português (Brasil)

Barão não recebeu de Grão Mogol, de Minas e do Brasil o devido reconhecimento

Barão não recebeu de Grão Mogol, de Minas e do Brasil o devido reconhecimento

Contava o falecido professor Geraldo Fróis que o barão dividiu a fortuna em partes iguais para ele, a mulher e os filhos. O que coube ao barão, ele teria dividido com os escravos

Compartilhe este conteúdo:

060-06-2023 – 11h:38

Anes Otrebla*

O Barão de Grão Mogol, coronel Gualtér Martins Pereira morreu na fazenda Santa Angélica, em 1890. Tinha 64 anos quando os ex escravos o sepultaram nas terras da propriedade dele. Para a baixa expectativa de vida, naquela época, ele viveu bastante. Mas viveu quase a vida toda em Grão Mogol, tendo nascido em 1826, na fazenda Santo Antônio, cujo nome foi mudado para Cafezal.

O título de barão, ele o recebeu de Dom Pedro II, aos 53 anos de idade, meio a contragosto, porque era republicano. E teria deixado Grão Mogol, depois de vendida a fazenda Cafezal, em 1880. Considerando que ele morreu em 1890 viveu só dez anos em Rio Claro (SP), onde cultivou café.

O barão era neto de Antônio Martins Pereira e de dona Francisca Martins Pereira e filho legítimo de Caetano Martins Pereira e de dona Josepha Carolina Dias Bicalho. Casou-se com dona Emília Martins Pereira, tendo o casal os seguintes filhos: Gualtér, Sérgio e Matilde. Teve também uma filha natural por nome Erlinda.

O barão foi um dos vultos mais importantes do sertão mineiro e chefe do partido Liberal, em Grão Mogol. Foi presidente da Câmara Municipal, em 1861, e, seguidamente, vereador (ele foi também presidente da Câmara Municipal de Rio Claro).

O coronel Gulatér organizou o 7º batalhão de Voluntários da Pátria, em 1865, para lutar na “Guerra do Paraguai”, no qual incluiu quatro de seus irmãos, vários parentes e escravos da fazenda Cafezal. Os escravos receberam a promessa de liberdade após o conflito. Ele não acompanhou o batalhão até a área de guerra. Conduziu-o ao Rio de Janeiro, fardado e armado à sua própria custa, o que lhe valeu os brasões de Barão de Grão Mogol.

O fato de o barão ter vivido mais de meio século em Grão Mogol justifica plenamente o traslado dos restos mortais dele para a terra natal. E por outro lado, a ficar o túmulo dele abandonado em meio a um canavial, em Rio Claro, é melhor que os seus restos mortais sejam trasladados para Grão Mogol.

Em realidade, o barão ainda não recebeu de Grão Mogol, de Minas e do Brasil o reconhecimento dos serviços prestados numa época de transição do regime monárquico para o republicano. E também pelas ideias abolicionistas. Muita antes da Lei Áurea, o barão libertou alguns escravos. Três meses antes de princesa a Isabel assinar a lei, ele libertou todos os seus escravos.

A não ser a Serra do Itacambiruçú com o seu nome e a trilha de 15 quilômetros nada mais há que lembre o nome do barão em Grão M ogol. Entretanto, até as pedras falam dele na cidade e clamam por ele.

Gualtér tinha como irmãos João Batista Martins Pereira, Emígdio Martins Pereira, Pedro Martins Pereira, Maria Vicência de Oliveira Martins e Ramiro Martins Pereira. Eram filhos dele: Matilde Martins, Orlinda Martins e Sérgio Martins.

Segundo registra Manuel Esteves, no livro de capa vermelha intitulado Grão Mogol, no Arquivo Nobiliário Brasileiro, organizado pelos barões Vasconcelos e Smith de Vasconcelos, editado em Lausanne, em 1918, “repositório do brasonário nacional, nele não encontramos o brasão de armas dos Martins, de Grão Mogol”.

Esse registro de Esteves gera especulações, como por exemplo: será que o fato de ele ter recusado o título dado por Dom Pedro II, no primeiro momento, tendo sido quase que obrigado a aceitá-lo teria desgostado o rei ao ponto de ele próprio não ter levado a honraria a sério? Será que o título foi só de boca?

Na hipótese do coronel Gualtér não ter sido barão de direito, o foi de fato, tanto é que o título se incorporou ao nome. Ele foi considerado “um homem bom”. Rico, com prestígio na corte de Dom Pedro II, ele abriu o mercado brasileiro para trabalhadores das Ilhas Canárias, quando vivia em São Paulo.

Pessoalmente, não conheço nem tenho notícia da existência de sequer um parente direto do barão, que segundo a lenda teve 78 filhos, sendo a maioria deles com escravas. Contava o falecido professor Geraldo Fróis que o barão dividiu a fortuna em partes iguais para ele, a mulher e os filhos. O que coube ao barão, ele teria dividido com os escravos. E mais: em vida, ele teria reconhecido 15 filhos com escravas.

Mas estou desconfiado de que conheço pelo menos um descendente do barão, considerando o sobrenome Martins. Ele é conhecido de muita gente pelo texto impecável, pelas crônicas e artigos publicados em jornais. E pelos livros escritos. Sebastião Martins é o nome dele, de saudosa memória, cujas raízes estão fincadas em Grão Mogol. Tem tudo pra ser parente do barão.

Imagem da Galeria Grão Mogol está em dívida com o Barão Gualtér, Minas Gerais e o Brasil também
Compartilhe este conteúdo:

 

Synergyco

 

RBN