
O ser humano é um astronauta, viajando entre ilusões. CRÉDITOS: Divulgação
18-07-2025 às 09h30
Raphael Rodrigues*
Tem dias que a gente se deita com a estranha sensação de que o dia passou –
cumprimos compromissos, nos deslocamos pela cidade, estivemos ocupados,
mas…não estávamos lá.
O ser humano é um astronauta, viajando entre ilusões. Explorador das dores
do passado e das incertezas do futuro, passa boa parte do dia longe de si
mesmo, em órbita emocional, tentando se localizar em tempos imaginários.
E isso faz sentido. O cérebro humano preza, desesperadamente, pela
sobrevivência. Por isso, prefere o que é familiar, enquanto o futuro — incerto e
incontrolável — representa uma ameaça potencial que desencadeia ansiedade.
Pelo mesmo motivo, ele vive analisando o passado, buscando aprender com os
erros cometidos para não “morrer”, mesmo que seja socialmente. Contudo,
muitas vezes, se perde em meio à culpa, melancolia e letargia.
Vagando pelo infinito universo de pensamentos desbravados pelo nosso
cérebro, esquecemos de estabelecer a nossa base na terra do presente. O
único planeta onde podemos agir, transformar e ser.
Marco Aurélio, imperador e estoico, já escrevia em seu diário, ainda no século
II d.C., que não devemos ser dominados pelo que está fora do nosso controle.
E não há nada mais fora do nosso controle do que o que passou — e não pode
ser mudado — e o futuro, que por não ter chegado, é impossível de manipular.
O hoje é real. O hoje é nosso.
Do outro lado do mundo, os budistas já praticavam há milênios a atenção
plena, o sati. Para eles, a mente é como um macaco saltando de galho em
galho: inquieta, impulsiva, difícil de conter — mas não impossível de observar.
E observar já é um passo imenso para sair do automático.
Hoje, chamamos isso de mindfulness — um estado de presença atenta e sem
julgamento. A psicologia moderna abraçou essa prática e já comprovou seus
efeitos positivos no tratamento do estresse, da ansiedade e da depressão.
Uma das formas mais simples e eficazes de começar é com a respiração
consciente. Apenas isso: sentar-se, respirar, e observar o ar entrando e saindo.
Sem tentar controlar, sem lutar contra os pensamentos. Quando a mente
escapar, apenas note, e com gentileza, volte.
A respiração é tão poderosa para nos trazer ao presente porque ninguém
respira no passado, nem no futuro. Você pode tentar, mas só se respira aqui,
neste exato momento.
Então, pare a nave. Desembarque da sua viagem e respire fundo.
Você chegou ao seu destino!