
Escritor e poeta, Fernando Pessoa - créditos: Escritor Carlos Carvalho
09-02-2025 às 07h47
Clodoaldo Mesquita (*)
Guerra faz guerreiros e a paz…. Para Oliveira Martins. Ele era o intelectual. O Cérebro. A Memória.
Sabia de detalhes da vida de Fernando Pessoa. Suas poesias, ele declamava, sem nenhum temor em tirar ou acrescentar palavras e versos para ajudar o poeta português a se expressar com a poesia. Fernando Pessoa ficava melhor e palatável naquele cenário de cárcere.

Contávamos também histórias sobre um escritor argentino chamado Jorge Luiz Borges. Ainda um desconhecido, então. Ele exercitava-se narrando para nós as notícias do dia, que ele lia e decorava.
No exercício da memória era capaz de repetir o jornal da última para a primeira página, notícia por notícia.
Tirava as dentaduras e fazia papel de velho. Interpretava falas de Sófocles e escrevia versos de Bilac e Castro Alves.
– Viva Vitor Hugo!
Gritava enquanto coloria as paredes da cela com versos que, segundo ele, se observássemos atentamente, todos tinham coloridos.
“Versos têm cores e texturas, assim como as palavras, as palavras são em si poéticas”. Ele nos surpreendia com os seus pensamentos que nos alimentava.
Quando foi embora, deixou seus bens divididos, a cama, o lençol e as outras peças da cama para um, seus livros para outros, para mim, ele deixou um pedaço de papel.
Um recado:
“Isto é mais seu do que meu.
Isto eu extraí de você: a vida,
a vontade de viver,
a esperança de viver,
a alegria de viver
e a certeza de que somos apenas eternos guerreiros da paz,
nunca,
jamais guerreiros da guerra…
e só, apenas, não mais do que sobreviventes”.
(*) Clodoaldo Mesquita é jornalista