
Expressão e sentimento do artista na tela - créditos: divulgação
05-03-2025 às 09h00
Daniela Rodrigues Machado Vilela (*)
É complexo definir o que seja arte. Na pintura, por exemplo, tem-se o exercício das cores, o recorte de nuances da paleta do artista e o resultado da mistura. Carrega-se ou não na intensidade. Escolhem-se quais serão as tonalidades do desenho, sua forma plástica, a percepção de luz e sombra, claro e escuro. O que se vai representar. Mas, de um modo ou outro, a arte abstrai o sujeito da concretude rotineira dos dias. Acontece, geralmente, um extravasamento de possibilidades contemplativas e emocionais diante de uma obra artística.
Há uma singularidade de sentimentos experienciados diante do belo. O gosto da experiência estética, imediatamente, toca o sujeito que passa a ser tomado pela emoção.
A arte revela algo de seu criador para quem a aprecia. Também, há uma dimensão cultural. As expressões artísticas, por vezes, remetem à resistência, representam fatos, acontecimentos pretéritos, tragédias e, assim, propiciam ao sujeito reflexões objetivas, e outras tantas vezes, subjetivas.
Inconscientemente, pode ser produzida a arte pelo que emerge do interior da pessoa, suas emoções, percepções não racionais, dores, inquietações e visões não aparentes ou perceptíveis para lidar com os acontecimentos da vida, propiciar cura do próprio artista ou de quem aprecia a arte deste.
A arte representa, inventa e complementa. Pressupõe talento, habilidade para produzir. Por vezes, sublima a realidade.
Aspectos psicológicos interferem no trabalho do artista. Sua concepção de mundo e valores, assim, como as circunstâncias de vida.
A temporalidade de uma obra não é estritamente cronológica. Regras fixas não existem, o artista genial é aquele que tem uma subjetividade aflorada para a criação e inovação.
O artista se orgulha do que produz e dos sentidos que possam nascer de sua arte. Não há valores prontos ou uníssonos. A obra artística é incompleta e cabe ao público avaliá-la, criticá-la, elogiá-la para que cumpra sua função.
O homem pela arte pode expressar a transcendência, a morte e a vida. A linguagem pode se dar através do olhar sobre o belo, a plasticidade das circunstâncias, a decrepitude ou a morte. Os objetos retratados são reconhecidos por si mesmos ou pela percepção histórica e cultural do sujeito.
A obra de arte pode ser apreciada por sua estética ou propiciar elementos para imaginação, desconstrução de padrões. Pode ser expressa por uma percepção do artista sobre o belo e seus traços simétricos ou pela assimetria de algo. Enfim, o olhar do artista define e redefine os objetos.
O artista pode ser “expert” em copiar, reproduzir, criar, desconstruir, performar de modo diferente, reconfigurar. Trazer para a arte a sua percepção e olhar.
Uma obra de arte é uma forma de comunicação, remete a perguntas, implica em argumentações. Reafirma valores, coloca outros em evidência, constrói, reconstrói, confirma e devasta paradigmas.
Arte é indefinição. Pergunta-se: o que torna algo raro e valioso? A resposta é incompleta e, muitas vezes, permeada por subjetividade. Uma pintura pode se tornar valiosa por aspectos tão dispares. Às vezes, o valorizado é a ruptura, em outras ocasiões: beleza, simetria, ousadia, excentricidade. Por fim, há momentos em que o clássico e linear interessam mais.
Quem frequenta exposições, às vezes, se pergunta: o que determinada obra tem de diferencial, comparativamente, com outras, para fazer sucesso? O que um trabalho específico tem a mais para receber valor agregado tão vultoso? Talvez, o diferencial de um artista de sucesso tenha a ver também com ser descoberto, alguém lhe dar crédito ou oportunidade. Observam-se excelentes trabalhos sendo comercializados em feiras de artesanato ou praças públicas, ao passo que há quadros renomados que não despertam tanto interesse e nos quais não se percebe algo tão extraordinário.
O que determina o valor da arte é o que ela causa? Sua leitura perspicaz de um tempo histórico? Do que é visto como valor pela sociedade? Trata-se de uma questão de oportunidade ou oportunismo?
Arte não é assunto para amadores, mas para amantes da contemplação e transformação. Quem vai a exposições percebe que umas dentre outras, tocam de modo diferente e particular. Representações artísticas são de difícil explicação e racionalização.
Caro leitor, metaforicamente, pinte o “quadro” da sua vida, use os tons e matizes que lhe tocam a alma. Faça seu traçado. Aliás, é tempo de carnaval e de cinema brasileiro. Extravase em possibilidades!
(*) Daniela Rodrigues Machado Vilela é doutora, mestra e especialista em Direito pela UFMG. Residente Pós-doutoral UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG. Diletante na arte da pintura.