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12-08-2025 às 09h31
Caio Brandão*
Nos Estados Unidos, onde a guitarra come solta, imprimindo impunemente os dólares que alimentam a locomotiva global, a política deveria ser mantida no celeiro das famílias que dominam aquele país ao longo de décadas. São os seus membros os reis da astúcia e do ardil, capazes de justificar o injustificável a ainda ficarem credores por terem feito algo que não deveria ter acontecido.
Trump é novidade no cenário e quebrou as regras do poder mediante a indiscrição de seus atos e a brutalidade do óbvio que pratica, construído à margem do pincel e mediante o uso atabalhoado da marreta e da borduna.
Trump é o inusitado em meio a estupefação de muitos, que pugnam por cafetina discreta e elegante, quase uma noviça, e não por proxeneta desbocado, acostumado à intimidação por gestos, palavras, chantagem, expressões e até pelo avantajado de rubrica indecorosa, tanto pela forma, quanto pelo negrito.
Lula ainda não se encontrou nesse confronto, toma fôlego sem entrar na briga e tenta decifrar a criatura indecifrável, cuja lógica não habita os labirintos das negociações, como costumavam acontecer em seu registro histórico, quer na política, quer nas relações trabalhistas, comerciais ou empresariais. Está aí a novidade abjeta, o fato novo, que pede prudência.
Putin é jogador tinhoso, no sentido de obstinado. Sabe o que quer, dá um passo de cada vez e não abre o jogo. Discreto, articulador e calculista, se alia ao tempo para esperar sem ansiedade, aguardar o que tiver que ser aguardado e queimar sem dó os peões que tiver que sacrificar.
Xi Jinping, inspirado em sabedoria milenar chinesa sabe que no silêncio está a sua melhor estratégia, que não fala e nem consente, não abre e não fecha a folia, mas que está o jogo por ele sendo jogado, está.
Na soleira da porta a trupe bolsonarista, inclusive o seu líder maior. Não está a récua nem dentro e nem fora, mas apenas no limbo de futuro que não promete loas, sequer as hosanas desejadas, mas apenas o sofrer de angustiosa esperança daquilo que certamente não vai acontecer.
Lula não tem vez nesse jogo, que nunca jogou. Em outros tempos ele era o rei, às vezes a rainha, em alguns momentos a torre, mas jamais o peão que fingia ser para os leigos, porque comandava o jogo nos portões e no chão das fábricas e lidando com interlocutores que se valiam de regras conhecidas e razoavelmente éticas. Contudo, não mais existem regras, nem lógica, nem justificativas razoáveis para explicar o injustificável.
No cenário, modestamente, surge a figura de Geraldo Alkmin, ex-governador de São Paulo por mais de uma vez, dentre outros encômios. Católico praticante, casado com Dona Lu, senhora de discretíssima presença e de absoluta relevância na vida desse guerreiro, Alkmin assume por delegação de Lula, relevante papel na crise das tarifas e na batalha de gestos, palavras e recados postados nas redes sociais.
Alkmin, que também é médico, não disputa bola dividida abertamente. Não dá canelada e nem diz palavra feia. Articulador, não rouba, como Putin, o sorriso de Mona Lisa, e nem faz o bico labial de Trump, que atiça alhures sua fala malfazeja. Não tem às costas e disponível a fortuna de um Musk, e jamais buscou nos quartéis prontidão para sustentar os seus projetos na vida pública. Recatado, mas articulador e competente na arte de jogar na cartilha política, Alkmin, o Geraldo pindense de Dona Miriam, que começou como vereador e secunda Lula na presidência não está de passagem, veio para contribuir.
Lula acertou na mosca, quando entregou a Alkmin a missão de enfrentar a crise das tarifas impostas ao Brasil pelo governante americano e a sua metralhadora econômica giratória. Tentará o impossível, com a sua paulistana mineiridade e, caso não chegue ao topo, mostrará que o Monte Castelo ora revivido em outros termos terá de novo a mostra da bravura de um pracinha obstinado, competente e discreto.
Na sucessão, melhor com o Geraldo do que sem ele ou quiçá com algum aventureiro de ocasião. Confiável, pisará terrenos movediços com sabedoria, sem hesitação e mediante ambição sob controle, como sempre o fez. Melhor, muito melhor presença do que a de José Alencar, quase um casmurro, que nos oito anos de vice na presidência formulou apenas um projeto, e sem plano B, a baixa dos juros. Não restou de José Alencar legado algum na política e afora, naturalmente, o seu crescimento como empresário, a partir das viaturas de venda de armarinho na empresa União dos Cometas, nas rotas da zona da Mata, em Minas Gerais, empresa que se agigantou na Coteminas, hoje em via descendente, infelizmente. Que o diga Josué Alencar, seu filho e atual presidente da Fiesp, que ainda não disse a que veio naquela entidade, uma das instituições mais relevantes no tocante aos interesses do empresariado paulista e da sua inserção na economia global.
Os bolsonaristas vão se tocar e aprender com Alkmin que, em Mateus 5:5 está a verdade, que para eles ainda não se revelou: “Bem-aventurados os mansos, porque herdarão a terra”.
(*) Caio Brandão é jornalista