
“Memórias Visíveis” explora, por meio de relatos pessoais de oito moradores. CRÉDITOS: Freepik
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24-03-2025 às 09h32
Sérgio Augusto Vicente*
A jovem jornalista mineira, Alice Costa, acaba de produzir um documentário sobre as memórias de sua terra natal, o município de Matias Barbosa. Com esse trabalho, ela concluiu o curso de Jornalismo na Universidade Federal de Juiz de Fora em 2024. Intitulado “Memórias Visíveis: Retratos de Matias Barbosa”, o vídeo está ao alcance de um clique no canal do You Tube.
“Memórias Visíveis” explora, por meio de relatos pessoais de oito moradores, fragmentos da história da cidade. Com um olhar sensível, “o média-metragem faz um mergulho nas memórias e identidades que moldam Matias Barbosa, revelando como o lugar e suas pessoas se entrelaçam em uma narrativa única” – destaca Alice Costa, a nossa entrevistada de hoje.
Sérgio Augusto Vicente – Conte-nos um pouco sobre a sua formação acadêmico-profissional e sobre sua trajetória.
Alice Costa – Sou formada em Jornalismo pela Faculdade de Comunicação da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Durante a graduação, fui bolsista em diferentes projetos que ampliaram minha experiência na área. Iniciei como bolsista de Treinamento Profissional (TP) na Produtora de Multimeios da Facom, onde participei da produção de um programa semanal de cultura para a TV Câmara de Juiz de Fora. Mais tarde, aprofundei meu olhar para a memória e o audiovisual ao ingressar no projeto de iniciação científica “Cinemas de Rua de JF”, vinculado ao grupo de pesquisa “Cidade e Memória”, coordenado pela Profa. Dra. Christina Musse.
No campo profissional, atuei como estagiária por um ano na Secretaria de Comunicação Pública da Prefeitura de Matias Barbosa, onde iniciei minha trajetória na comunicação institucional. Em seguida, assumi a assessoria de comunicação do Museu Mariano Procópio, cargo que ocupei por dois anos e meio, aprofundando minha atuação na área cultural. Atualmente, sou assessora de comunicação da Câmara Municipal de Matias Barbosa.
SAV – O que a motivou a produzir esse documentário? Fale-nos um pouco sobre esse processo.
AC – Meu interesse pelo audiovisual, especialmente pelo documentário, surgiu muito antes de ingressar na faculdade de Jornalismo. Sempre fui fascinada por essa forma de contar histórias e, ao longo da graduação, tive a oportunidade de aprofundar esse interesse, tanto nas disciplinas quanto nos projetos em que fui bolsista. Quando chegou o momento do Trabalho de Conclusão de Curso, decidi produzir meu próprio documentário como forma de aplicar tudo o que aprendi ao longo dos cinco anos de formação e, ao mesmo tempo, retribuir esse conhecimento à sociedade.
Inicialmente, a ideia era desenvolver uma produção mais simples, feita inteiramente por mim – desde o roteiro até a captação e edição. No entanto, em 2023, enquanto trabalhava no roteiro, soube que Matias Barbosa seria contemplada pelos repasses da Lei Paulo Gustavo. Vi nessa oportunidade a chance de transformar o projeto em algo maior e mais significativo, tanto para o município quanto para minha trajetória profissional. Inscrevi a proposta e, no final do mesmo ano, tive o projeto aprovado. Com o apoio da lei, o que seria um documentário quase “caseiro” ganhou uma estrutura mais profissional, ampliando seu alcance e reforçando sua importância como registro da memória e identidade da cidade.
SAV – O que a levou a escolher Matias Barbosa como objeto de investigação?
AC – Nasci e cresci em Matias Barbosa, e, ao longo dos meus 29 anos, sempre nutri um carinho enorme pelo “meu lugar” e pelas pessoas que fazem parte dele. Esse vínculo esteve presente em toda a minha trajetória acadêmica – minhas matérias jornalísticas e pesquisas sempre tiveram a cidade como pano de fundo, e eu sabia, desde o início da graduação, que meu trabalho final também seria dedicado a Matias Barbosa.
Além do afeto, havia uma inquietação. Sempre senti falta de conhecer mais sobre a história da minha cidade, algo que não foi abordado durante minha formação escolar. O pouco que sabia vinha da memória oral compartilhada por familiares e conhecidos. Essa ausência me despertou um senso de urgência em registrar e contar essa história, não apenas para os moradores, mas também para aqueles que desejam conhecer Matias Barbosa. O documentário surgiu, então, como uma forma de preencher essa lacuna e contribuir para a preservação da memória do município.
SAV – Sabemos da sua predileção e experiência prévia com assessoria de comunicação em espaço de memória, patrimônio histórico, museu, etc. A sua primeira experiência profissional no Museu Mariano Procópio teve alguma influência na escolha de seu objeto? Conte-nos um pouco sobre isso.
AC – Com certeza, minha experiência no Museu Mariano Procópio teve grande influência na escolha do meu objeto de pesquisa. Trabalhar em um espaço dedicado à conservação da memória e ao patrimônio histórico me proporcionou um contato profundo com historiadores, museólogos, conservadores e outros profissionais que dedicam suas vidas ao cuidado e à preservação da história local. Esse convívio ampliou ainda mais minha percepção sobre a importância de registrar e preservar a memória de Matias Barbosa, algo que sempre senti como uma necessidade pessoal e profissional. A experiência no museu não só fortaleceu esse desejo, como também me deu ferramentas para entender melhor o valor desses registros e a responsabilidade de torná-los acessíveis para a comunidade.
SAV – Elenque cinco razões pelas quais “Memórias visíveis” deve ser assistido.
1) “Memórias Visíveis: Retratos de Matias Barbosa” é um resgate valioso da história de Matias Barbosa. O documentário oferece uma visão única sobre as pessoas, os lugares e os eventos que definiram a identidade do município.
2) Ao retratar as histórias e vivências dos moradores da cidade, o documentário reforça o orgulho local e a conexão da comunidade com sua própria história, criando um sentido de pertencimento e valorização das raízes culturais.
3) Ao focar em Matias Barbosa, o documentário não apenas fala sobre a cidade, mas também transmite a importância de dar visibilidade a todas as cidades e culturas que são, muitas vezes, invisibilizadas nas produções midiáticas.
4) O filme traz uma perspectiva pessoal e afetiva. Como alguém que nasceu e cresceu na cidade, o documentário carrega um carinho e uma conexão emocional que proporcionam uma experiência mais rica e genuína para o público. O filme transmite essa afinidade com a cidade, tornando-se um testemunho autêntico de amor à sua terra.
5) Como um projeto realizado com o apoio da Lei Paulo Gustavo, mas com uma essência independente, o documentário reflete a importância da iniciativa de jovens produtores que buscam contar histórias que muitas vezes ficam à margem da grande mídia.
SAV – Conte-nos um pouco sobre os seus planos futuros. Tem algum outro projeto em mente?
AC – Após as gravações do documentário, percebi que muitos dos temas mencionados nas entrevistas e abordados de maneira mais breve poderiam se transformar em outros projetos cinematográficos. Um exemplo é a chegada dos italianos a Matias Barbosa, que é um assunto com grande potencial. Acredito que minha pesquisa sobre minha cidade está apenas começando, e isso pode gerar mais obras que explorem diferentes aspectos da sua história e cultura.
Além disso, um projeto mais concreto, sugerido pela minha orientadora, é a criação de um livro com as transcrições das entrevistas. Durante as gravações, capturei cerca de 8 horas de material, que foram condensadas em um documentário de 29 minutos. Com tanto conteúdo ainda inexplorado, o livro seria uma maneira de aproveitar esse material rico e expandir o alcance da história para outras pessoas.
Para assistir ao documentário, basta acessar o link a seguir:
*Sérgio Augusto Vicente é professor de História e historiador. Graduado, Mestre e Doutor em história pelo PPGHIH/UFJF. Atualmente, trabalha no Museu Mariano Procópio – Juiz de Fora (MG)