Na sala dos Grandes de Minas, no Palácio da Liberdade, no dia nacional da “consciência negra”, uma justa homenagem ao pintor maior da nossa América
22-11-2024 às 10h:11
Sérgio Moreira*
O dia nacional dedicado à Consciência Negra, 20 de novembro, foi marcado por um fato histórico em Minas Gerais com o importante momento de reconhecimento e valorização. Antônio Francisco Lisboa, o Aleijadinho – patrono das Artes no Brasil e maior expoente da arte barroca nas Américas, foi instalada um quadro a óleo na Sala dos Grandes de Minas, no Palácio da Liberdade, ao lado de ícones como Santos Dumont, Juscelino Kubitschek, Tancredo Neves e Tiradentes. É a primeira vez que um negro é homenageado com tal distinção, reafirmando a importância de Aleijadinho na construção da identidade cultural e artística do Brasil e das Américas. Neste 20 de novembro, Dia da Consciência Negra, ao lado de heróis e visionários que moldaram Minas Gerais, o retrato do Aleijadinho será um lembrete perene da riqueza cultural e do poder transformador da arte. A iniciativa é do Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Cultura e Turismo.
A obra, reconhecida como efígie oficial de Aleijadinho pela Lei nº 5.984, de 1972, é um óleo sobre tela de Euclásio Penna Ventura, produzida no século XIX. A entronização do retrato de Aleijadinho na Sala dos Grandes de Minas é muito mais do que uma homenagem.
É um ato de reparação histórica e celebração de sua genialidade, colocando-o ao lado de grandes nomes que moldaram a trajetória do Estado e do País. Sua inclusão simboliza o reconhecimento de que a história de Minas Gerais é inseparável da contribuição dos povos negros e de sua arte, cultura e resiliência.
Durante a cerimônia, o secretário de Estado de Cultura e Turismo de Minas Gerais, Leônidas de Oliveira, ressaltou a importância do legado de Antônio Francisco Lisboa. “Está faltando o povo negro aqui nessa sala, no Palácio da Liberdade. E nós, por muitos anos, esquecemos que Aleijadinho representa a própria cultura e identidade brasileira, na medida em que é mestiço, filho de um português e de uma negra escravizada. E é o negro Aleijadinho quem instaura, no século XVIII, nas Américas todas, uma grande escola de arte, trazendo o povo negro as feições negras para sua obra. As obras de Aleijadinho são o primeiro monumento nacional declarado pelo então Serviço Nacional do Patrimônio Histórico, que depois se transformaria no IPHAN. Congonhas, Ouro Preto, Minas Gerais inteira tem marcado seu legado”, destacou Oliveira.
O evento também foi um marco cultural no Palácio da Liberdade. Além das falas que enaltecem o papel do Aleijadinho na formação da identidade brasileira, a solenidade contou com apresentação do Coral Vozes de Campanha, do Quilombo de Justinópolis, em Ribeirão das Neves.
O Dia da Consciência Negra ganha, assim, uma nova dimensão em Minas Gerais, como uma data de reflexão e exaltação dos talentos que, apesar de apagados por muitos anos, deixaram marcas eternas na história.
Aleijadinho no panteão – Antônio Francisco Lisboa, conhecido como Aleijadinho, nasceu em Ouro Preto, em 1738, filho de uma escravizada e de um mestre de obras português. Apesar das adversidades de sua época e de uma grave doença que lhe deformou o corpo, Aleijadinho transformou a dor em arte, criando um legado que transcende séculos. Ele fundou a primeira escola de arte barroca das Américas no século XVIII, desafiando preconceitos e abrindo caminhos para artistas e artesãos negros.
Sua obra-prima, os Doze Profetas de Congonhas, integra o Santuário de Bom Jesus de Matosinhos, declarado Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco em 1985. Aleijadinho não é apenas o maior artista barroco das Américas. Ele é um símbolo de resistência, superação e da profunda conexão entre arte e espiritualidade. Sua obra transcende o tempo, reafirmando a força de um povo e sua capacidade de transformar adversidades em beleza eterna.
*Coluna Minas Turismo Gerais Jornalista Sérgio Moreira informações para a coluna sergio51moreira@bol.com.br