Crianças disfarçadas de adultos: créditos: divulgação
16-11-2025 às 14h34
Solange Mendes*
Tenho observado que algumas pessoas carregam para sua vida adulta algumas atitudes infantis. Percebidas às vezes como irresponsáveis ou como um parafuso a menos, elas coincidentemente também tem facilidade de comunicação, atitude e são mais felizes.
Quando criança, rir e brincar é tido como normal, pois demonstra saúde e felicidade. Os pais mostram orgulhosos seus pimpolhos sorridentes e saltitantes e à medida que vão crescendo já começam a cobrança da seriedade, da postura adulta e da responsabilidade.
Criança sobe em árvores, come fruta no pé, se lambuza, também corre pra chuva, senta-se no chão, chupa pirulito, lambe os dedos, faz careta com o que não gosta, ri de qualquer coisa que é engraçado e se não gosta de um presente o atira longe …
Nós nos lembramos disso com saudade e nos impomos que na nossa idade nada disso é permitido. É normal vermos com os olhos brilhando os pequenos em suas peraltices e termos muita, mas muita, saudade mesmo do nosso tempo.

Também é certo vermos que todo velho vira menino, pois na velhice as atitudes se modificam e é normal cuidarmos deles para que suas inconsequências não nos atrapalhem.
Quando somos pequenos, a vida nos parece tranqüila e divertida, tudo é leve, solto, não nos preocupamos com aluguel, comida ou contas a pagar, as nossas necessidades são supridas por todos à nossa volta, para nos manter alegres. Quando tem algum problema, os adultos poupam os pequenos e o mundo gira em torno desse bem geral.
Aí, ficamos adultos e nessa fase é que vemos a alegria e a tranqüilidade perdida. Somos solicitados para todas as responsabilidades, contas a pagar, conselhos a dar, atitudes a tomar … Temos que ter maturidade e seriedade para tudo resolver, não podemos nunca mais pensar em esperar que alguém nos acuda, somos robotizados a pensar, e de acordo com a demanda de trabalho e das nossas decisões.
Antigamente existiam até as pessoas tidas como sistemáticas, que eram pessoas sisudas, isto é em resumo, as não fugiam do sistema, eram sérias, honestas, trabalhadoras, responsáveis, tidas como grandes partidos, pois todo pai sonhava com uma pessoa assim pra entregar seu filho ou filha, pois tinham certeza da garantia do casamento.
Hoje vemos que nada disso funciona, temos mais certeza da incerteza e da instabilidade da vida. Amanhã você pode não estar mais aqui e não adianta construir grandes patrimônios, sem saber se vai ter vida para viver e usufruir.
Pensando bem, chegamos à conclusão que a vida precisa de saúde, e a saúde é a alegria de viver. Já foi constatado por pessoas que tiveram ou têm todo bem material e que sofrem de alguma doença grave, que dariam todo o ouro conseguido pra viver diferente se pudessem voltar atrás. Cantariam, dançariam, brincariam e principalmente amariam mais. Quando digo amar, é amar a si mesmo, buscando ser feliz, fazendo coisas bobas para o seu prazer pessoal, sem se preocupar com os outros.
A receita disso tudo é voltar à infância perdida, é não esperar por uma doença ou pela velhice para se arrepender de viver o que não viveu. As terapias de autoajuda estão aí para você descobrir que a alegria e a felicidade não custam nada e estão em suas mãos, e que você não precisa pagar por elas.
Faça surgir a criança escondida, guardada a sete chaves dentro de você. E ao olhar para elas, com o brilho de saudade nos olhos, transforme em realidade a sua alegria perdida, a sua leveza esquecida, comece sozinho sem precisar falar com ninguém. Faça careta para alguém de dentro do ônibus ou do carro, e tenho certeza de que ao longo do dia vai rir toda vez que lembrar dessa travessura. Depois na praça ou no parque de diversão, onde as crianças estão, com desculpa de ajudar, brinque de carrinho, escorregue, suba em árvores e bote língua ou faça careta para o menino do lado, no primeiro momento ele vai se assustar, mas depois vai retribuir com uma mais feia ainda. Aproveite a chuva, tire os sapatos e pise na enxurrada, chupe pirulito e, acima de tudo, ria de tudo e de todos, ria do que achar engraçado e no momento que achar engraçado, sem se importar com o que achem ou digam. Se disserem que você tem um parafuso a menos ou é doido de pedra, deixa pra lá, e quando entenderem que você é mais feliz e mais saudável que eles, aí então você verá que vale a pena.
Solange Mendes

