Academia de Letras do Vale do Jequitinhonha – ALVA – traz mais luzes à região
Cada acadêmico escolheu o seu patrono, de uma lista de quase 70 nomes indicados por todos. Foram também escolhidos acadêmicos Eméritos e Correspondentes
05-08-2023 – 08h:34
Tadeu Martins*
Em abril de 1977 quatro jovens universitários em Belo Horizonte, filhos do Vale do Jequitinhonha, se uniram para defender a região chamada na época de “Vale da Fome”, “Vale da Miséria” ou “Vale do Marcha à Ré”, títulos que os enfureciam, pois sabiam não ser aquilo e sim uma região rica, de povo empobrecido pela exploração política. Assim, Aurélio Silby (Economia na PUC, de Santana do Araçuaí), Carlos Castilin Figueiredo (Sociologia na UFMG, de Itaobim), George Abner (Comunicação na PUC, de Pedra Azul) e Tadeu Martins (Engenharia Química na UFMG, de Itaobim), criaram em 16 de março de 1978 o jornal GERAES que pretendia ser, e foi, o elo entre as 52 cidades da região. Um jornal que defendia o povo do Vale e as suas lutas em defesa de melhores condições de vida. O jornal, que durou até julho de 1985, ajudou a criar dezenas de instituições na região: sindicatos, associações, centros culturais, casas de cultura, entre outras.
Em 03 de novembro de 1979 o GERAES realizou o “I Encontro de Compositores do Vale do Jequitinhonha”, que reuniu, em Itaobim, 22 artistas de 15 cidades da região. Em 1980 o Tadeu Martins idealizou um projeto, apoiado por todos os participantes, que já eram mais de 50 jovens, e realizaram a primeira edição do “Festivale – Festival de Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha”, em Itaobim, nos dias 25 a 27 de julho daquele ano.
Hoje, o Festivale é reconhecido como um dos maiores eventos de cultura popular do Brasil, e acontece cada ano em uma cidade, dura sete dias e é a mostra de todas as áreas do fazer cultural do Vale. Festival de música, Noite Literária, Feira de Artesanato, apresentação de grupos teatrais, encontro de grupos folclóricos, espetáculos de dança, shows musicais, debates, rodas de conversa e mais de uma dezena de cursos diversos, de 40 horas, na área cultural.
A 39ª edição do Festivale aconteceu agora, de 23 a 29 de julho, em Itaobim, cidade mãe, que não recebia o evento há 41 anos. Como sempre, foi um grande sucesso. O Jequitinhonha, que recebia títulos tão pejorativos, é hoje reconhecido como Vale da Cultura.
Dizem os historiadores que a cultura do Vale do Jequitinhonha se baseia em ciclos de 20 anos que se sucedem e perduram. Assim, o Ciclo do Artesanato (1960 a 1980), reconhecido internacionalmente. O Ciclo da Música (1980 a 2000), com a criação do Festivale, quando surgiu mais de uma centena de artistas, e que perdura até hoje. O Ciclo do Teatro (2000 a 2020), com grupos teatrais e corais que continuam atuantes. Por fim, o Ciclo da Literatura (2020 a 2040).
Em 2017, no 34º Festivale, na cidade de Felício dos Santos, sabendo que viveríamos o Ciclo da Literatura, buscamos a união dos poetas e escritores, que já eram muitos desde a criação da Noite Literária, há 26 anos. Os escritores e poetas do Vale vêm escrevendo páginas importantes, e os horizontes se ampliam significativamente em quantidade e qualidade. A discussão foi ampliada e, no Festivale de 2022, em Itamarandiba, foi oficializado o “Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha”, que já agrega mais de 100 membros.
Em 04 de abril de 2023 em reunião na Academia Mineira de Letras, em Belo Horizonte, foi criada a ALVA – Academia da Letras do Vale do Jequitinhonha. De abril a maio de 2023, de uma lista de 154 nomes foram eleitos os 40 acadêmicos efetivos. Cada acadêmico escolheu o seu patrono, de uma lista de quase 70 nomes indicados por todos. Foram também escolhidos acadêmicos Eméritos e Correspondentes.
Como não poderia deixar de ser, a posse dos acadêmicos aconteceu no Festivale, na abertura da sua programação no dia 23 de julho, no Auditório da Escola Estadual Chaves Ribeiro. É bom lembrar que, embora calcada nos padrões de tantas outras academias, a ALVA se propõe mais dinâmica, mais criativa e totalmente dedicada à promoção da cultura da região em que nasceu e que a abriga. Ali a ALVA se tornou parceira do Coletivo dos Poetas e Escritores do Vale do Jequitinhonha, da Federação das Entidades Culturais e Artísticas do Vale do Jequitinhonha (Fecaje) e do Instituto Sóciocultural ValeMais, na proposta de trabalharem conjuntamente, para promover a literatura e todas as áreas da cultura do Vale, em busca da valorização e divulgação da região e da união por melhores condições de vida para o povo do Vale.
Vinte e sete acadêmicos tomaram posse na belíssima solenidade em Itaobim e aprovaram a cidade de Diamantina como sede oficial da ALVA. Os treze acadêmicos que não puderam comparecer, tomarão posse em Belo Horizonte, na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, em data a ser definida brevemente.
* Tadeu Martins Soares é escritor, produtor cultural, contador de causos e apresentador de eventos