
insegurança alimentar vivida por meninas e meninos e outros desafios para a vivência plena da primeira infância. CRÉDITOS: Divulgação
07-03-2025 às 08h27
Direto da Redação*
Em um instrumento para orientar e fiscalizar as políticas públicas voltadas à primeira infância, tribunais de contas lançaram “A Primeira Infância e os Tribunais de Contas: Desigualdades”. O livro mostra dados sobre a invisibilidade social das crianças indígenas, quilombolas e com deficiência; as desigualdades regionais no acesso a creches, escolas, vacinação e saneamento básico.
A publicação aponta ainda a insegurança alimentar vivida por meninas e meninos e outros desafios para a vivência plena da primeira infância. A obra foi lançada pelo Instituto Rui Barbosa (IRB) e pelo Tribunal de Contas do Estado de Goiás (TCE/GO) no Instituto Serzedello Corrêa, do Tribunal de Contas da União (TCU). “Ainda há um longo caminho a percorrer. Este livro nos faz refletir sobre as desigualdades que se impõem desde os primeiros anos de vida”, disse o presidente do IRB, conselheiro Edilberto Lima.
Entre os apontamentos da obra, está o levantamento de que, em 15 estados brasileiros, mais de 60% das crianças vivem em lares de baixa renda. Entre as 27 unidades da Federação, o pior índice, segundo os últimos dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está no Maranhão, com 78,25% das crianças em lares de baixa renda.
Educação
Para ter uma ideia da realidade brasileira, na Região Norte, mais de 70% das crianças entre zero e 6 anos inscritas no Cadastro Único (de família com renda mensal per capita de até meio salário mínimo, equivalente a R$ 660) nunca frequentaram uma creche ou escola.
No Brasil, o acesso à educação infantil é um direito assegurado pela Constituição de 1988. Pelos dados compilados no livro, os tribunais de contas apontam que o acesso e o investimento nessa fase educacional aumentaram ao longo dos anos. No entanto, o acesso ainda é desigual a depender da região, raça, localização.
Por isso, o livro traz uma série de recomendações para garantia dos direitos das crianças e um desenvolvimento adequado para as mais diversas realidades. São elas:
• Acesso às creches: aumentar o número de vagas disponíveis em creches de qualidade, com instalações adequadas, materiais apropriados e profissionais capacitados, para todas as famílias com crianças de zero a 3 anos, que precisam e queiram creches para seus filhos.
• Pré-escola para todas as crianças: universalizar o acesso à pré-escola de qualidade para todas as crianças de 4 a 5 anos, o que é uma obrigação, por lei.
• Creches e pré-escolas decentes: garantir em creches e pré-escolas instalações adequadas e próximas às residências das crianças, com infraestrutura completa para o desenvolvimento infantil seguro.
• Transporte escolar seguro: assegurar transporte escolar de qualidade para todas as crianças que precisam se deslocar até as escolas.
• Educadores qualificados: qualificar continuamente os diferentes profissionais de educação infantil e outros atores que trabalham com crianças, em parcerias as mais diversas, para capacitação em práticas pedagógicas para essa faixa etária.
• Inclusão: promover capacitação inclusiva para educadores e cuidadores, valorizando o afeto e as brincadeiras.
• Educação inclusiva: fomentar a educação inclusiva, criando ambientes seguros e eficazes para crianças com deficiência e/ou neurodivergentes.
• Várias infâncias: garantir o acesso às múltiplas infâncias, tais como as negras, indígenas, ribeirinhas, rurais, periféricas, entre outras, às políticas públicas para a garantia dos seus direitos.
Falta de infraestrutura
O levantamento de dados com recomendações também aponta que no Acre e no Amapá, por exemplo, quase metade da população sequer tem água potável. Em 12 estados, menos de 30% dos moradores têm acesso a esgotamento sanitário.
Durante evento de lançamento do livro, o ministro da Educação, Camilo Santana, reconheceu que o Brasil é um dos países mais desiguais do planeta. “Como podemos imaginar uma criança se desenvolver cognitiva e socialmente se ela não tem o que comer?”, afirmou.