
A existência é complexidade, não pode ser definida com exatidão. CRÉDITOS: Divulgação
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23-05-2025 às 09h00
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
A busca por respostas que ultrapassem a compreensão do sujeito, leva-o para o campo das crenças. A fé caracteriza-se enquanto um jogar-se de modo não racional. Tentar compreender a origem do universo e da vida é também um ato de fé, pois não há certezas incontestáveis. Têm-se teorias, correntes de pensamento, crenças e a cientificidade. A dilemática questão: razão de um lado e fé de outro.
A existência é complexidade, não pode ser definida com exatidão e rigor, há potencialidades várias e a ausência de uma verdade absoluta, existem limites de racionalidade e lógica, por outro lado, encontra-se o campo da fé com aptidão de propor acolhimento ao que não pode ser racionalizado.
Se de um lado, fala-se de fé, espírito e transcendência, de outro, haverá como contraponto, a racionalidade, a matéria e a objetividade.
A superficialidade impera na vida humana, o “ser” perde espaço. A questão da identidade, da formação do “eu” enquanto ser ético e humano, que busca se aperfeiçoar intelectualmente e culturalmente, tem valor ímpar, mas é desprezada mediante os valores da pós-modernidade de imediatismo.
A vida é contingência e o “ser” não se limita a sua exterioridade. Importa de modo substancial sua interioridade: essência, caráter e valores. A significação objetiva e subjetiva e a díade de corpo e espírito fazem parte do que compõe o humano e seus desdobramentos.
A consciência humana é formada por vários aspectos e elementos, envolve percepção, reflexão, imaginação, capacidade de interrelacionar fatos e acontecimentos, visões de mundo. O homem lê a própria realidade e a interpreta. Já a imaginação faz do ser capaz de extrapolar os limites da razão. O processo imaginativo propicia abertura para o não racional e o sensorial.
Não dá para aprisionar o ser apenas na perspectiva do racional. A existência não se limita a categoria meramente explicável, conhecível, desdobrável. A vida apresenta seu traçado de mistério.
A existência é factual, impermanente e a morte convocará a todos. A única certeza subjacente, é o fim de tudo que é corpóreo. O homem é acossado pela dor da imprevisibilidade. As escolhas são limitadas e a realidade bruta se impõe.
O ser humano é composto pela dualidade do corpo e da alma, vida terrena e espiritual. O ser é potência que deságua em possibilidades, entrecortado por condicionantes das mais variadas, é produto de sua condição econômica, política e social e ainda de sua fé.
O vazio existencial encontra morada na angústia de supostas seguranças forjadas. É inautêntico o homem reduzir a vida ao corpóreo e ao meramente racional.
O eu e seu processo constitutivo abrangem infinitas questões em aberto e respostas inúmeras. O possível, necessário e o sonho estão em choque constante. O desespero humano e a dor de viver necessitam do imanente. O ser no mundo busca angustiantemente por obter caminhos e respostas.
Enfim, o homem é a junção de corpo, alma, espírito, razão, fé e emoção. A vida é este equilíbrio desafiador e tênue. Faça sua parte, um dia você chega lá. Onde? Isto, ninguém sabe, bem-vindo ao mistério da vida.
(*) Daniela Rodrigues Machado Vilela é doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Residente Pós-doutoral pela UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG. Diletante na arte da pintura e da vida