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26-04-2025 às 08h28
Marcelo Barros(*)
O Brasil possui, em seu litoral, uma janela privilegiada para o Atlântico Sul: o Saliente Nordestino, região mais próxima da África e ponto-chave para a defesa e soberania nacional. Nesse contexto, ilhas oceânicas como Fernando de Noronha e o Arquipélago de São Pedro e São Paulo tornam-se peças estratégicas para operações militares que visam garantir o controle da Amazônia Azul, área marítima rica em recursos naturais e alvo de interesse internacional.
Plataformas de defesa no coração do Atlântico Sul
As ilhas oceânicas brasileiras funcionam como verdadeiros porta-aviões naturais no meio do Atlântico. O Arquipélago de São Pedro e São Paulo, mesmo com sua dimensão reduzida, é estratégico por sua localização equidistante entre a América do Sul e a África, possibilitando ações de vigilância, monitoramento ambiental e patrulhamento marítimo. Já Fernando de Noronha, com infraestrutura mais consolidada, além das citadas, tem como realizar a operação de aeronaves, embarcações e ações de presença contínua na região.
Essas áreas permitem ao Brasil estender sua presença militar para além da costa, tendo um apoio na proteção da Zona Econômica Exclusiva (ZEE) e no monitoramento de rotas de navegação e áreas sensíveis da Amazônia Azul, um espaço com mais de 4,5 milhões de km², equivalente a mais da metade do território continental brasileiro.
É importante destacar que a defesa das ilhas oceânicas envolve componentes não somente do Poder Naval com navios da MB e fuzileiros navais, mas do Poder Aéreo e Marítimo como um todo. Faz-se necessário, por exemplo, um esforço logístico continuado por meio da mobilização de navios mercantes para o deslocamento dos suprimentos necessários para as ilhas e do emprego de aeronaves da FAB a partir do Arquipélago de Fernando de Noronha para a realização de ações de vigilância.
Depreende-se também a necessidade da importância de implementação do Sistema de Gerenciamento da Amazônia Azul (SisGAAz), uma dos Programas Estratégicos da MB, de forma que seja possível o monitoramento da nossa Amazônia Azul. Nesse contexto, é importante lembrar do derramamento de óleo em águas brasileiras que afetou o litoral brasileiro em 2019 e evidenciou a necessidade de um sistema eficiente de monitoramento e resposta para lidar com esse tipo de incidente, reforçando a importância do SisGAAz.
Além disso, algo a ser pensado seria aproveitar o posicionamento estratégico das ilhas oceânicas para a instalação de radares e equipamentos de detecção para o aumento da consciência situacional.
Um oceano de valor para o Brasil e para o mundo
A Amazônia Azul abriga reservas significativas de petróleo, gás, biodiversidade marinha, minerais estratégicos e rotas de comércio internacionais, sendo considerada uma das zonas marítimas mais cobiçadas do planeta. Garantir a soberania sobre essa imensidão marítima é proteger o patrimônio coletivo do povo brasileiro.
Nesse sentido, as operações militares nas ilhas oceânicas, além de ser dissuasório, também cumprem um papel social: educar, mobilizar e engajar a sociedade civil da importância na defesa desses ativos estratégicos. Além disso, projetos de pesquisa científica, turismo controlado e cooperação internacional também são importantes, e a presença das Forças Armadas nessas regiões, só amplia o valor estratégico do mar brasileiro em múltiplas dimensões.
Saliente Nordestino: ponte entre continentes e escudo do Brasil
Geopoliticamente, o Saliente Nordestino é mais do que um acidente geográfico: é uma fronteira avançada do Brasil, voltada para o Atlântico e para o mundo. Historicamente reconhecida como zona de interesse estratégico desde a colonização, a região continua sendo hoje um eixo central da defesa nacional, especialmente diante de novas ameaças como pirataria, narcotráfico marítimo, exploração ilegal de recursos e disputas por áreas marítimas.
A atuação coordenada das Forças Armadas no litoral nordestino e nas ilhas oceânicas fortalece a diplomacia de defesa, assegura a presença do Estado brasileiro e reforça a percepção internacional de que o Brasil tem capacidade, vontade e estrutura para proteger seus mares.
(*)Marcelo Barros é jornalista