22-12-2024 às 10h00
Manoel Hygino dos Santos*
Dezembro fluindo, Natal chegando, o mundo cristão em festa e se preparando para participar. O jornalista Pedro Rogério Moreira, confrade na Academia Mineira de Letras, observa que os evangelistas não informaram nem o dia, nem o ano de nascimento de Jesus. Definiu-se o que se tem presentemente por pesquisas e documentos astronômicos, a partir de referências históricas dos Evangelhos, como o recenseamento da Palestina, meteorológicas e cósmicas.
Assim, Jesus teria nascido no fim do ano 748 de Roma, correspondente ao ano 6 da Era Cristã. Está em livro do conterrâneo Rogério. Ele acrescenta que a definição resulta de estudos feitos por Deonísio, o Exíguo, a quem a Igreja encarregara de fixar a data do nascimento de Jesus: Ele errou nos cálculos, indicando o ano 754, “e o mundo moderno lhe perpetuou o erro”.
Outro jornalista do grupo Globo, Rodrigo Alvarez, se transferiu para o Oriente (ele era correspondente em Londres) para escrever sobre Jesus e registrou a intensa expectativa em livro do filho de Deus, o Messias, que traria a salvação da humanidade, evocando um pergaminho, encontrado por um beduíno em uma biblioteca enorme escondida por quase dois milênios nas cavernas do Mar Morto.
“Os povos farão guerras… e batalhas se multiplicarão… Até que surgirá o reino do povo de Deus.
Ele será chamado Filho de Deusa… Eles o chamarão filho do Altíssimo”
OS DOGMAS
A Igreja Católica tem quatro dogmas marianos, dos quais os primeiros dois estão incluídos na tradição ecumênica, estudiosos do assunto, também presentes em algumas igrejas não católicas. Frederico Lourenço, da Universidade de Coimbra, observa que os textos apócrifos sobre a infância de Maria e de Jesus foram tidos, copiados e traduzidos na Antiguidade Tardia e na Idade Média, sem nunca serem alvo de reprovação com que os textos de teor gnósticos fossem estigmatizados”.
Repetindo o pesquisador português, “a bem-aventurada e gloriosa virgem Maria, da linhagem régia e da família de Davi oriunda, na cidade de Nazaré; a família materna era de Belém. A vida deles era simples e reta diante do Senhor; e junto dos homens, era irrepreensível a pia.
Ao longo de séculos, versões surgiram e desapareceram. O terceiro dogma, somente católico, declarado em bula papal, em 1854, por Pio IX, é o da Imaculada Conceição. Afirma que a própria
Maria tem origem virginal, sendo livre do pecado original e podendo ser “Mãe de Deus, sem mácula”.
MARIA, A ELEITA
O proto – evangelho de Tiago, escrito em meados do século I fala do nascimento de Maria, sua infância, seu casamento com José. Quando completou 12 anos, idade em que as meninas alcançavam a “maioridade”, e podiam casar, os sacerdotes perguntaram a Maria sobre seu futuro próximo, pois o templo não poderia ser manchado, referindo-se ao sangue da menstruação.
Zacarias, sacerdote, se incumbiu de orientar transmitindo a mensagem de um anjo que ditou os próximos passos aos viúvos do povo e aquele que recebesse a ordem da pomba que lhe pousou no cajado.
O ancião levou Maria para sua casa. Corrido o tempo quando saiu a buscar água para abastecer a moradia, o anjo novamente apareceu. Disse à Maria que ela seria a mãe do Altíssimo que se chamaria Jesus. O sumo sacerdote apareceu para revelar que José e Maria não cometeram pecado, pois a criança seria concebida a partir da poderosa Palavra de Deus, como anunciado pelo Anjo. O proto-evangelho se estende com a descrição do nascimento de Jesus, da visita dos magos e perseguição de Herodes.
O quarto dogma, também somente católico, é o da Assunção de Maria, aprovado em 1950 por Pio XII. Afirma que ela é a primeira mulher e primeira e única pessoa que já subiu aos céus, e o fiel pode a ela dirigir sua oração.
Outros fragmentos coptas muito interessam, já escritos nos séculos 5 e 6, numa das línguas egípcias antigas. Neles, descreve-se a traição de Judas a prisão e sacrifício de Jesus. Na ressurreição a mãe Maria aparece como protagonista. Maria se apressa em falar com o filho após o seu sacrifício e crucificação, mas o filho aconselha:
“Minha mãe, não me toques, espera um pouco, pois estou com a veste que meu pai me deu, quando me ressuscitou. Enquanto eu não for para o céu, não é possível que eu seja tocado por qualquer ser carnal. Este corpo é, contudo, aquele com o qual passei nove meses em teu seio… Dou-te certeza disso, minha mãe. Esta é a carne que recebo de ti… Fixa teu olhar em minhas mãos e nem seus pés. Ó maria, minha mãe, que eu seja teu filho. Sou eu que, quando me encontrava pregado na cruz, te entreguei às mãos de João. Agora, portanto, minha mãe, apressa-te em avisar a meus irmãos e dizer-lhes: “Ide à Galileia. Conforme as palavras que vos disse, ali, me vereis. Apressai-vos, pois não é possível ir para o céu de meu Pai sem vos encontrar’[…]”.
O fragmento copta destaca Maria como primeira mulher que viu o filho ressuscitado. Não é mais a concepção original de Jesus a questão, mas a sua ressurreição. Ele demonstra que Maria foi a primeira a anunciar o milagre. Somente bem depois, em outro capítulo, o documento revela os nomes de outros discípulos que vão ao túmulo e o encontram vazio.
*Da Academia Mineira de Letras e da Associação Nacional dos Escritores