23-12-2023 às 07:21h.

Bento Batista*

Não é saudosismo, mas sou uma testemunha do tempo, e mais ainda, por ser jornalista e escritor, tenho claramente registrado na memória mais de sete décadas de natais. Nunca vivi um Natal tão estranho como este, não por mim nem por minha família, mas por toda a humanidade, considerando que cultivo pensamento holístico e atuo localmente, como o faço agora ao redigir este texto.

Hoje, mais do que nunca, as pessoas têm à disposição múltiplos meios de comunicação e, no entanto, também nunca se desentenderam tanto. Em tempo algum deu tanta demonstração de maus sentimentos, e estes parecem ter o poder de se multiplicar com mais eficiência. Um espanto!

Natal, infelizmente, se vai tornando a cada ano sinônimo de Papai Noel, porque a multimídia fez com que a figura dele ocupasse o lugar do aniversariante do dia, o Menino Jesus, que insiste, há mais de dois mil anos, em nascer no dia 25 para “salvar a humanidade”. Mas parece que a humanidade não quer ser salva.

Ele não veio – aliás, Ele vem a todo momento – para salvar os adeptos das igrejas católica, evangélica, budista, umbandista ou a o que for, veio e vem para salvar a humanidade porque ela sim é a igreja Dele.

Tudo é questão de prática no dia a dia. O que irá adiantar viver um dia ou noite de Natal sem assimilar o sentido verdadeiro, usando a data para vender mais, extorquir mais? Sem ao menos lembrar que estamos comemorando o nascimento do Deus encarnado – e isso merece a maior das reflexões. Ele se tornou homem para transmitir pessoalmente a Verdade. Verdade que não é propriedade de nenhuma das igrejas.

Diante de tanta guerra entre nações, diante de tantos fenômenos decorrentes das mudanças climáticas, diante da deterioração da vida no planeta, mas consciente de que o Menino Jesus nasce mais uma vez, dúvida não há, Ele será crucificado na Sexta-Feira da Paixão porque a humanidade, renitente, consciente ou não pretende destruir a si mesma. E está no caminho certo.

*Jornalista e escritor