
Negócio nobre e sustentável para empreendedores ousados - créditos: divulgação
16-08-2025 ás 11h11
Sebastião Carlos Martins (*)
Em meio à crescente dependência de fertilizantes importados e às incertezas do mercado internacional, uma solução brasileira começa a ganhar espaço e a mostrar seu valor estratégico: a produção de adubos organominerais (vídeo) a partir do reaproveitamento de resíduos sólidos urbanos (RSU) e rejeitos agroindustriais.
A proposta, tecnologicamente viável e ambientalmente sustentável, é especialmente adequada para municípios e consórcios com até 200 mil habitantes, que enfrentam desafios históricos na destinação correta dos seus resíduos. Ao implantar Unidades de Recuperação Energética (URE) com capacidade de cerca de 120 toneladas por dia, essas localidades podem transformar o lixo urbano — até então destinado a aterros sanitários — em fertilizantes e insumos agrícolas de alto valor agregado.
A Crise dos Fertilizantes e a Vulnerabilidade Nacional
O Brasil, quarta maior potência agrícola do planeta, depende de importações para suprir mais de 80% de sua demanda por fertilizantes. Essa dependência representa uma vulnerabilidade estratégica em tempos de instabilidade global, guerra, tarifações e restrições logísticas. O atual modelo expõe o agronegócio nacional — responsável por cerca de 25% do PIB e metade das exportações brasileiras — a choques de preços e riscos de desabastecimento.
Nesse cenário, os fertilizantes organominerais surgem como alternativa inteligente e sustentável. Ao utilizar matéria orgânica dos resíduos urbanos combinada a minerais ricos em carbono, é possível produzir insumos agrícolas eficientes e adaptados às características dos solos brasileiros, com menor impacto ambiental e maior aproveitamento de nutrientes pelas plantas.
Benefícios ao Campo e à Soberania Nacional
Ao contrário dos fertilizantes minerais importados, que muitas vezes apresentam alta fixação em solos ácidos e demandam reaplicações constantes, os organominerais liberam nutrientes de forma gradual, acompanhando o ciclo natural das culturas. Isso se traduz em aumento de produtividade, menor desperdício e maior eficiência do insumo por hectare aplicado.
O uso combinado de organominerais com fertilizantes nitrogenados, por exemplo, reduz significativamente o consumo desses últimos — cuja importação também é elevada. Esse modelo de fertilização híbrida promove dilação no uso dos nitrogenados, reduzindo custos para o produtor e diminuindo a dependência externa do Brasil, o que fortalece a segurança alimentar e econômica do país.
Além disso, os fertilizantes produzidos localmente podem ser vendidos a preços mais acessíveis para os pequenos e médios agricultores, contribuindo para a inclusão produtiva e gerando impacto direto na economia regional.
A Solução para o Lixo das Pequenas Cidades
A mesma tecnologia que produz fertilizantes pode resolver, de forma definitiva, o problema da destinação final dos resíduos em cidades pequenas e médias. Em vez de enterrar RSU em aterros — prática que contraria a Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei 12.305/2010), que exige a máxima valorização dos materiais antes da disposição final —, as URE podem converter esse passivo ambiental em produtos úteis e comercializáveis.
Essa alternativa também evita a contaminação do solo e das águas pelo chorume gerado em aterros e reduz a emissão de gases de efeito estufa, como o metano, um dos principais responsáveis pelo aquecimento global. Assim, além de contribuir para o agronegócio, o modelo representa um avanço na agenda ambiental, climática e sanitária dos municípios.
Viabilidade e Replicabilidade
O projeto, analisado pela DBEST PLAN – Engenharia e Tecnologia da Informação, demonstra que a implementação de plantas de adubos organominerais pode ser tecnicamente adequada, socialmente justa e ambientalmente correta — especialmente em cidades com menor porte populacional.
Por meio da integração de resíduos urbanos, agropecuários e minerais, é possível estruturar modelos escaláveis de negócios sustentáveis que envolvem cooperativas de catadores, agroindústrias locais e redes de distribuição agrícola, fortalecendo cadeias produtivas regionais.
Hora de Agir
Em tempos de crise global, guerras e escassez de insumos estratégicos, projetos como esse não podem mais ser ignorados. Eles apontam um caminho possível — e necessário — para garantir resiliência agrícola, soberania nacional e desenvolvimento local sustentável.
Caberá aos gestores públicos, autoridades ambientais e aos próprios produtores organizados avançar com propostas que unam saneamento e produtividade no campo, dando fim ao modelo ultrapassado do descarte em aterros e inaugurando uma nova era para o aproveitamento inteligente dos resíduos no Brasil.
DBEST PLAN: Soluções Técnicas para o Agronegócio Sustentável
Com sólida experiência em estudos de viabilidade técnica e econômica de projetos ambientais e energéticos, a DBEST PLAN – Engenharia e Tecnologia da Informação – coloca-se à disposição para analisar casos específicos de plantio agrícola e características de solo, oferecendo soluções personalizadas que visam maximizar a produtividade e reduzir os custos operacionais no campo.
A empresa atua com rigor técnico e conhecimento prático, reunindo dados sobre produtividade, tipos de solo, composição dos resíduos e necessidades regionais para propor modelos sob medida para cada realidade agrícola. Dessa forma, a DBEST PLAN contribui não apenas com diagnósticos, mas com propostas viáveis e seguras, alinhadas aos desafios do setor e às exigências do futuro.
(*) Sebastião Carlos Martins é engenheiro