
A força e resiliência da mulher guerreira - créditos: divulgação
08-03-2025 às 13h13
Raphael Silva Rodrigues*
Cresci em um lar moldado pela força feminina, um lar onde a figura materna não era apenas sinônimo de afeto e cuidado, mas também de perseverança e resiliência. Minha mãe, matriarca incansável, sempre trabalhou arduamente para garantir nosso sustento, sem jamais renunciar a suas responsabilidades com a família. Observá-la equilibrando com maestria as demandas profissionais e as tarefas domésticas, sem jamais esmorecer, foi a minha maior lição de determinação e força de vontade. Sua trajetória, marcada pela dupla jornada e pela busca incessante por conciliar os múltiplos papéis que a vida lhe impunha, é a inspiração por trás da minha admiração pela força da mulher no mercado de trabalho e na sociedade.
A presença da mulher no mercado de trabalho transcende uma simples análise histórica; ela representa uma luta constante por reconhecimento, igualdade e superação de barreiras sociais e culturais profundamente arraigadas. Desde os tempos antigos até a atualidade, a força feminina se manifesta em diferentes contextos, sempre desafiando estereótipos e moldando, a cada passo, uma nova realidade.
Em um passado distante, o papel da mulher se restringia, em grande parte, ao ambiente doméstico, relegada a tarefas de cuidado com o lar e a família. A figura do homem como provedor único e inquestionável era hegemônica, limitando o acesso feminino à educação formal e, consequentemente, ao mercado de trabalho.
No entanto, mesmo nesse cenário restritivo, a força da mulher se fazia presente. Em atividades agrícolas, por exemplo, sua participação era essencial, assim como em trabalhos artesanais e no comércio local. Essa presença, embora muitas vezes invisibilizada e desvalorizada, demonstra a capacidade feminina de adaptação, resiliência e contribuição para a sociedade, mesmo em condições adversas.
Com o advento da Revolução Industrial, a inserção da mulher no mercado de trabalho se intensificou, impulsionada pela demanda por mão de obra nas fábricas. No entanto, essa maior participação não significou igualdade de condições. As mulheres eram submetidas a jornadas extenuantes, salários inferiores aos dos homens para as mesmas funções e condições precárias de trabalho. Além disso, a dupla jornada, dividindo-se entre as responsabilidades domésticas e o trabalho fabril, se tornava uma realidade cada vez mais presente, sobrecarregando física e emocionalmente a mulher.
Ao longo do século XX, a luta pelos direitos femininos ganhou força, impulsionada por movimentos sociais e pela crescente conscientização sobre a necessidade de igualdade de gênero. O acesso à educação, ainda que gradual e permeado por desafios, se ampliou, abrindo portas para novas profissões e áreas de atuação. As mulheres conquistaram o direito ao voto, à independência financeira e passaram a ocupar espaços antes inimagináveis em diversas esferas da sociedade.
Apesar dos avanços inegáveis, a realidade atual ainda está longe de ser ideal. A disparidade salarial entre homens e mulheres persiste, o assédio e a discriminação de gênero continuam sendo obstáculos a serem superados, e a maternidade ainda impacta negativamente a trajetória profissional feminina. A representatividade em cargos de liderança ainda é desproporcionalmente baixa, evidenciando o longo caminho a ser percorrido na busca por igualdade de oportunidades.
No entanto, a força da mulher no mercado de trabalho contemporâneo se manifesta de forma cada vez mais contundente. A crescente qualificação profissional, a busca constante por aprimoramento, o empreendedorismo em alta e a capacidade de conciliar múltiplos papéis com maestria são características marcantes da presença feminina na atualidade.
As mulheres têm conquistado espaço em áreas tradicionalmente dominadas por homens, como ciência, tecnologia, direito, engenharia, entre outras, demonstrando sua competência e excelência em campos que antes lhes eram inacessíveis. Além disso, a liderança feminina, marcada pela empatia, colaboração e inteligência emocional, tem se mostrado cada vez mais eficiente e inovadora, transformando a cultura organizacional de empresas e inspirando novas gerações.
É fundamental ressaltar que a igualdade de gênero no mercado de trabalho não beneficia apenas as mulheres, mas a sociedade como um todo. Um ambiente profissional mais justo e igualitário contribui para o desenvolvimento econômico, a justiça social e o bem-estar coletivo. Investir na educação de meninas, garantir acesso igualitário a oportunidades, combater a discriminação e valorizar a liderança feminina são medidas essenciais para a construção de um futuro mais próspero e igualitário. Seria utopia?
A força da mulher no mercado de trabalho é uma força em constante transformação, moldada por desafios e conquistas. É preciso reconhecer e valorizar essa força, não apenas em datas comemorativas, mas em cada ação e política pública que vise construir um futuro mais justo e igualitário. A luta por um mercado de trabalho livre de discriminação e desigualdades é uma luta de todos, homens e mulheres, que almejam uma sociedade mais justa e plena para as futuras gerações.
Raphael Silva Rodrigues: Doutor e Mestre em Direito (UFMG), com pesquisa Pós-doutoral pela Universitat de Barcelona, na Espanha. Especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.