30-01-2025 às 08h38
Wilson Cid*
Das famílias desses imigrantes originam-se duas atividades que cabe analisar, pelos valores de cada uma delas ou pelo que produziam quando unidas. O trabalho e a preocupação com a mútua solidariedade.
Foi no comércio e na indústria (em destaque a alimentícia) em que mais se destacaram, considerando-se as atividades econômicas. Muito do que aqui se fez no século passado e em alguns anos do anterior revela saliente a mão italiana. Não há setor de venda ou produção em que ela não tenha presença cativa.
A partir da família, distribuíam-se serviços e tarefas entre pais e filhos, o que, aliás, é algo sempre presente na vivência dos estrangeiros que se aglutinaram em Juiz de Fora. A loja e a fábrica eram questão de família, de pai para filho. Herança dos “capi”. E começavam cedo, como o velho Domenico Sirimarco, que chegou com apenas 15 anos, pelas mãos de Pantaleone Arcuri.
Quando os italianos foram enfrentar os tormentos da Hospedaria dos Imigrantes, em Santa Terezinha, em 1889, a cidade já conhecida alguns patrícios, respeitáveis chefes de família, com sobrenomes que venceram o tempo e se perpetuaram em atividades diversificadas.
Dessa época ou dos anos imediatamente seguintes: Condutti, Corriei, Arcuri, Tutela, Sirimarco, Grippe, Passarela, Colucci, Nardelli, Turola, Ciampi, Serpa, Saggioro, Altomar, Scanapieco. E Perry, que construiu o Mercado Municipal; comendador Francesco Brandi, que, em 1881, iniciou os serviços de bonde; Ivo Perini, com sua fábrica de instrumentos musicais; Eugenio Cavagnero, pioneiro dos “carros de praça”, antecessores dos táxis de hoje; Bigio de Giacomo, um dos primeiros hoteleiros; Pantaleone, Spinelli e Timponi, que organizaram aqui a maior construtora de Minas.
Seus vizinhos brasileiros podem lembrar, ainda hoje, alguma coisa do cotidiano das famílias italianas em casa, da mesma forma como têm na memória as generosas panelas do macarrão obrigatório das quintas-feiras e dos domingos, muitas vezes convidados comensais.
Com o relato de contemporâneos, sabe-se que no trabalho do dia ou nas tertúlias das noites e dos domingos é que nascia outra marca que saltou para o tempo, ajudando a compor o coletivo da imigração e a biografia individual dessa gente. A solidariedade. Se está em questão a radiografia do potencial étnico de sua gente, não é permitido olvidar as preocupações com a benemerência, aquele sentimento prevalente que iria inspirar a Casa de Anita e a Casa D’Italia, ambas essas entidades com as atenções divididas entre assistência e iniciativas culturais. Mas sempre a preocupação com o outro. “Uei paisano, como stá?”