
Cuidados com visão após os 50 anos - créditos: divulgação
03-08-2025 às 09h00
Alessandra Garcia (*)
Durante muito tempo, trabalhar era sinônimo de vencer. Vencer o cansaço, vencer os boletos, vencer a expectativa dos outros. Acordar cedo, estar presente, “dar conta”, essa era a regra de ouro. Para uma geração que cresceu ouvindo que esforço era virtude, seguir em frente, mesmo exausto, virou quase um código de honra.
Mas o tempo passa, o corpo vai mudando, e a mente vai desacelerando. E, de repente, o que sempre funcionou começa a pesar de um jeito diferente. Chegar aos 50 anos, ainda ativo profissionalmente, não é mais exceção e sim uma realidade que cresce a cada ano. O que nem sempre muda, mas precisa mudar, é a forma como a carreira é vivida nessa fase.
Muitos profissionais com 20 ou até 30 décadas de experiência continuam no mercado, mas sentem que estão empurrando uma engrenagem que já não gira com leveza e não é por desinteresse ou falta de energia vital, mas sim, um descompasso entre o ritmo que a maturidade pede e o ritmo que o mercado exige. Uma contradição, que aos poucos vai se instalando em forma de irritação constante, lapsos de memória, crises de ansiedade e uma pergunta incômoda que insiste em voltar: “Será que ainda dou conta?”
Dar conta de que, exatamente?
O tempo que trouxe bagagem, clareza e profundidade também trouxe novos limites. E com eles, uma outra lógica de carreira. O que funcionava aos 30 como jornadas longas, tudo urgente, mil reuniões, poucas pausas, já não serve mais como medida de valor aos 50. Mas poucos têm coragem de dizer isso e quase ninguém quer ouvir.
Falar sobre saúde mental nessa fase da vida ainda é tabu porque existe uma expectativa velada de que o profissional maduro deve ser o mais forte, o mais equilibrado, o mais resiliente. Como se a maturidade blindasse o cansaço, ou se a experiência tornasse alguém imune ao esgotamento. Só que não.
A verdade é que muitos profissionais experientes estão adoecendo em silêncio. Continuam entregando, continuam presentes, continuam disponíveis, mas estão esgotados. E por trás do sorriso profissional, carregam uma exaustão emocional profunda, aquela que não aparece nos relatórios de desempenho, mas se revela no olhar perdido, na dificuldade de se concentrar, na vontade secreta de parar.
É nesse ponto que a longevidade de carreira precisa ser revisitada. Porque viver mais não pode significar apenas trabalhar por mais tempo. Precisa significar trabalhar de um jeito mais inteligente, mais respeitoso com o corpo, mais alinhado com o tempo interno.
Manter-se relevante depois dos 50 não é seguir fingindo juventude. É encontrar novas formas de contribuição que considerem o que se acumulou e também o que se perdeu. É mudar a pergunta de “como produzir mais” para “como produzir com mais sentido”.
A saúde mental, nesse contexto, não é um luxo. É pilar estratégico de sustentabilidade da carreira. Não apenas para seguir no mercado, mas para seguir inteiro e trabalhar sem se adoecer precisa ser parte do plano.
Mas isso exige coragem. Coragem para rever ritmo, renegociar prioridades, dizer “não” sem culpa, redesenhar a agenda sem medo de parecer menos comprometido. Coragem para defender pausas, para pedir ajuda, para nomear o cansaço sem vergonha.
Há quem diga que isso é fraqueza, que é coisa de quem não aguenta mais. Eu diria que é o contrário. É coisa de quem já entendeu que não vale mais a pena adoecer para ser aceito. Que saúde mental não é descanso, é estrutura.
E talvez seja esse o novo valor da maturidade profissional: ensinar o mercado que não é só o talento jovem que importa. Mas também a presença serena de quem, mesmo cansado, escolhe continuar com dignidade, com limite, com saúde.
Aos 50+, é possível viver uma nova fase da carreira. Mas só se ela couber em quem você é agora. Não em quem você foi. Nem em quem o mercado ainda espera que você finja ser.
(*) Alessandra Garcia é consultora e mentora de carreiras