
Créditos: Divulgação
04-09-2025 às 08h46
Sérgio Augusto Vicente*
Ontem, após passar o dia lendo sobre a viagem do naturalista Louis Agassiz ao Brasil, entre os anos 1865 e 1866, ocorreu-me a ideia de pesquisar sobre o Museu de Cambridge. Dentre as páginas encontradas no Google, deparei-me com outro Museu de Cambridge: não o da Inglaterra, mas o da pequena cidade de cerca de dois mil habitantes, situada em Illinois, nos Estados Unidos. Para minha surpresa, o idealizador desse museu é um menino de apenas 10 anos de idade, super proativo, que organiza as coleções, faz campanha de arrecadação de “money” para adquirir um prédio pra melhor abrigar suas coleções e ainda faz visitas mediadas com os turistas – muitos dos quais da sua faixa etária. Nesse ano, ele ainda comemorou o primeiro aniversário de seu museu.
Não me contive: enviei-lhe mensagem para perguntar quando e como começou a colecionar, ao que me respondeu: “aos 3 anos de idade, após assistir a um ‘dinosaur show'”.
Perguntando-lhe sobre o que gostaria de ser quando crescer, respondeu-me que seu maior sonho era trabalhar em museus. Dei-lhe muitos “congratulations” e, em troca, ofereceu-me uma visita guiada quando eu for a Illinois. Seria um prazer, é claro, desde que depois da “Era Trump”…
Toda essa história me remeteu, automaticamente, à trajetória de Alfredo Ferreira Lage (1865-1944), fundador do Museu Mariano Procópio, aqui em Juiz de Fora (MG). O mesmo cujo pai, em 1865, teve a fazenda visitada pelo naturalista Agassiz. O mesmo que, certa vez, confessou ter começado a sua prática colecionista na infância, com um mineral.
Relato tudo isso por um simples motivo, leitor(a): para dizer que a sensibilidade para o conhecimento, a cultura, a ciência e a educação começa na infância. Coisa mais óbvia, não é mesmo?! De tão óbvia, até se parece com um desses jargões proferidos por levianas bocas de políticos demagogos. Mas também é verdade que o óbvio tem se tornado coisa rara nesse mundo. É por isso que não podemos parar de repetir a máxima segundo a qual a base da civilidade de um país está na educação básica. Nela é que são – ou deveriam ser – plantadas as sementes que formam as raízes e os troncos que emancipam os indivíduos, transformando-os em cidadãos capazes de sonhar, planejar, lutar, sustentar e defender a soberania de um país.
Não que o país de Alfredo Lage e o do “menino de Cambridge” sejam exímios exemplos a serem seguidos. Pelo contrário! Mas o fato é que nunca deveríamos nos cansar de ouvir boas e inspiradoras histórias, principalmente quando extraídas de terras onde “Bolsonaros” e “Trumps” parecem se multiplicar como vírus mortais, minando as nossas esperanças civilizatórias e humanísticas.
*Sérgio Augusto Vicente é Professor de História e Historiador. Doutor, Mestre, Bacharel e Licenciado em História pela UFJF. Colunista do jornal “Diário de Minas” e colaborador de outros periódicos. Membro correspondente da Academia de Letras, Artes e Ciências Brasil (Mariana-MG). Trabalha na Fundação Museu Mariano Procópio (Juiz de Fora-MG).