Diante das guerras e violências que assolam o mundo hoje, a Macrofilosofia de Gonçal Mayos apresenta-se como um farol de esperança, apontando caminhos possíveis para a construção da paz global.
19-12-2024 às 08h59
Rodrigo Marzano Antunes Miranda*
Diante das guerras e violências que assolam o mundo hoje, a Macrofilosofia de Gonçal Mayos apresenta-se como um farol de esperança, apontando caminhos possíveis para a construção da paz global. A Macrofilosofia é definida como uma abordagem filosófica que transcende fronteiras individuais e culturais, buscando compreender questões fundamentais que afetam a humanidade. De modo contrário à Filosofia tradicional, que muitas vezes se concentra em questões específicas ou escolas de pensamento, a Macrofilosofia adota uma perspectiva mais ampla e holística, procurando explorar temas como ética global, interconexões humanas e ambientais, diálogo intercultural e inter-religioso, sustentabilidade e justiça social.
A paz global é uma aspiração compartilhada por indivíduos e nações, mas alcançá-la exige compreender profundamente as raízes dos conflitos e os caminhos possíveis para a reconciliação. A Macrofilosofia discutida aqui ilumina diversos aspetos relacionados à paz, que são imprescindíveis para o desenvolvimento da paz no mundo. Ela oferece contribuições essenciais que buscam: promover valores éticos universais; reforçar a interdependência humana e ambiental para uma cultura sustentável; incentivar o diálogo intercultural e inter-religioso, com foco em tolerância e entendimento mútuo; enfatizar a relação entre sustentabilidade e justiça social, vital para que os recursos do planeta sejam preservados para gerações presentes e futuras; e estimular abordagens pacíficas e alternativas para a resolução de conflitos.
Um dos pilares básicos para o estímulo à Macrofilosofia e, por conseguinte, à paz global, é a educação. Investir em uma educação de qualidade, que fomente valores como o respeito à diversidade, a resolução não violenta de conflitos e a consciência ambiental, é fundamental para moldar as mentes das gerações futuras e prepará-las para enfrentar os desafios do mundo contemporâneo. As instituições educacionais têm um papel central nesse processo, fornecendo espaço para o debate aberto, a reflexão crítica e a exposição à diferentes perspectivas culturais e filosóficas. Além disso, é importante integrar a Macrofilosofia e os princípios da paz global em currículos escolares em todos os níveis de ensino, desde a educação básica até o ensino superior.
Também enfatizamos que promover a paz requer o desenvolvimento de parcerias multissetoriais, incluindo o engajamento ativo de governos, da sociedade civil, do setor privado, da academia, de organizações internacionais e das organizações não governamentais. Essas parcerias podem fornecer uma plataforma para o intercâmbio de conhecimentos, recursos e melhores práticas, assim como podem facilitar a implementação de iniciativas conjuntas que abordem questões transversais, como pobreza, desigualdade e degradação ambiental. No entanto, para traduzir isso em ações concretas, é necessário o compromisso coletivo e coordenado entre os diversos setores mencionados. Fomentar a colaboração entre diferentes atores e setores sociais fortalece a construção de um mundo mais pacífico, justo e sustentável para todos.
Destacamos que sociedade civil e organizações não governamentais desempenham um papel vital na promoção da paz global, uma vez que executam diversas funções, desde a defesa dos direitos humanos até o desenvolvimento de projetos comunitários que promovem a coesão social e a resolução pacífica de conflitos. Esses setores podem pressionar por mudanças políticas, sociais e econômicas através de campanhas de conscientização, mobilizações sociais e projetos de base de modo a estimular a paz e a justiça em nível local, nacional e internacional. A promoção da paz é um desafio complexo que exige uma abordagem multifacetada e colaborativa. A Macrofilosofia oferece uma estrutura conceitual valiosa para entender as raízes dos conflitos e identificar caminhos para a reconciliação e a cooperação em escala global.
A despeito disso, ressaltamos que o desenvolvimento da paz é um processo contínuo e dinâmico, sujeito a desafios e obstáculos. Questões como conflitos regionais, instabilidade política, desigualdade econômica e mudanças climáticas são apenas alguns dos desafios que podem ameaçar a paz e a estabilidade. Diante disso, é essencial que abordagens baseadas na Macrofilosofia sejam flexíveis, capazes de responder de maneira eficaz às mudanças nas condições globais e às novas formas de conflito e desigualdade. Isso requer um compromisso com a inovação, a aprendizagem e a colaboração entre diferentes atores e setores da sociedade. Para além dos aspectos estruturais e institucionais dos conflitos, é fundamental promover uma cultura de paz que valorize a não violência, o diálogo e a cooperação como meios legítimos para resolver disputas e diferenças. Isso inclui a promoção dos direitos humanos, da igualdade de gênero, do respeito à diversidade cultural e da proteção do meio ambiente.
Em um mundo cada vez mais interconectado e interdependente, a Macrofilosofia oferece uma abordagem interdisciplinar e holística para fomentar a paz global. Embora o seu arcabouço conceitual seja valioso, precisamos ficar atentos aos desafios de implementação prática. Um dos principais desafios é a resistência a mudanças de paradigma e a adesão a visões de mundo estabelecidas. Superar essas barreiras requer um esforço permanente de educação, conscientização e engajamento da sociedade civil, governos e instituições internacionais. Para além disso, a Macrofilosofia precisa ser complementada por ações concretas em níveis local, nacional e global. Isso inclui o desenvolvimento e implementação de políticas públicas que promovam a justiça social, a sustentabilidade ambiental e a resolução pacífica de conflitos. Também é essencial fortalecer as instituições internacionais e os mecanismos de cooperação multilateral para enfrentar desafios globais de forma eficaz.
Por fim, no futuro, argumentamos ser necessário continuar a pesquisa e o diálogo interdisciplinar sobre as implicações práticas da Macrofilosofia para a promoção da paz global. Isso envolve a colaboração entre filósofos, cientistas sociais, ativistas e formuladores de políticas para desenvolver abordagens inovadoras e sustentáveis para resolver os desafios globais mais prementes. A Macrofilosofia oferece uma abordagem abrangente e interdisciplinar para estimular a paz global nos próximos anos. Ao adotar uma perspectiva ampla e holística, podemos explorar questões fundamentais que afetam a humanidade como um todo e identificar soluções sustentáveis e pacíficas para os desafios globais. No entanto, alcançar a paz global requer um compromisso coletivo e contínuo com os princípios da justiça, da solidariedade e do respeito mútuo. Com esforços coordenados em múltiplos níveis, podemos construir um mundo mais pacífico, justo e sustentável para as gerações presentes e futuras.
Para ler mais sobre o assunto, acesse:
MAYOS, Gonçal. Macrofilosofía de la Modernidad. Barcelona: dLibro, 2012.
MAYOS, Gonçal. Turbohumanos. Barcelona: Linkgua-edición.com, 2023.
MIRANDA, Rodrigo Marzano Antunes. A Paz em Kant: uma abordagem macrofilosófica do projeto de paz. Belo Horizonte: Conhecimento Livraria e Distribuidora, 2019.
*Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Cidadania e Direitos Humanos: Ética e Política na Faculdade de Filosofia da Universitat de Barcelona, linha de pesquisa: 101157 Filosofias do Sujeito e da Cultura (UB 2019-), orientado pelo Prof. Dr. Gonçal Mayos Solsona, mestre em Direito pela UFMG (2019), especializado em Formação Política (lato sensu) PUC-RJ (2007), Graduado em Filosofia (bacharel licenciado) PUC-MG (2005). Membro de dois grupos de pesquisa: o Grupo de Pesquisa dos Seminários Hegelianos (UFMG) e o Grupo internacional de Pesquisa em Cultura, História e Estado (UFMG-UB). Sócio efetivo colaborador da Sociedade Hegel Brasileira. Assessor do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara. E-mail: agendamarzano@gmail.com.