25-01-2025 às 08h36
Rogério Reis Devisate*
A Boeing focará em sistema de desempenho, desestruturando o seu departamento de diversidade, equidade e inclusão (USA, HRGrapevine, 01.11.2024), enquanto a Disney priorizará o entretenimento (Infonegocios Miami, 15.1.2025).
Esses fatos não estão diretamente ligados ao novo mandato de Trump, como alguns dirão, já que o esvaziamento dessa pauta política nos Estados Unidos decorre de decisão da Suprema Corte dos EUA, interrompendo “as admissões com base em critérios raciais em universidades de todo o país” (The Guardian, 29.6.2023).
No mesmo sentido, foi dito que “o destino da ação afirmativa baseada em raça foi oficialmente selado em 29 de junho de 2023, depois que a Suprema Corte dos EUA decidiu contra o uso deliberado de raça por escolas em admissões em faculdades, considerando tais práticas inconstitucionais na Universidade de Harvard, em Massachusetts, e na Universidade da Carolina do Norte, em Chapel Hill” (U.S. News, 08.8.2024).
Como se vê, a conduta de empresas americanas segue a linha do que plantou a Corte Suprema dos EUA. Tudo isso soa novo e surpreendente, diante do contexto com o qual nos acostumamos nos últimos anos.
Além disso, há dias ocorreu imenso incêndio em Los Angeles e o jornal americano Washington Stand (12.01.2025) ressaltou que se “as pessoas estão presas dentro de uma casa em chamas, elas não se importam com a raça, gênero ou identidade sexual da pessoa que as resgata.
Tudo o que importa é a capacidade da pessoa de resgatá-las. Em suma, elas querem um “serviço de bombeiros hardcore e tradicional”. A abordagem conclui dizendo que os “moradores de Los Angeles precisam de líderes que defendam o bom senso”.
É crível que, de fato, no momento do desespero, em afogamentos, incêndios ou salvamentos em situações críticas, as vítimas apenas queiram ser salvas – e isso é inegável. Óbvio também é o fato de que os serviços de socorro disponíveis devem ter a confiança das vítimas reais – ou potenciais e, nesse caso, toda a sociedade – inclusive por decorrer do pagamento de tributos.
O foco dos americanos e a decisão da Corte Suprema seguem parâmetros do texto-garantia da Primeira Emenda à Constituição dos Estados Unidos, que valoriza ao extremo o fundamental direito à liberdade, estabelecendo que “O congresso não deverá fazer qualquer lei a respeito de um estabelecimento de religião, ou proibir o seu livre exercício; ou restringindo a liberdade de discurso, ou da imprensa; ou o direito das pessoas de se reunirem pacificamente, e de fazerem pedidos ao governo para que sejam feitas reparações de queixas”.
A propósito, essa ode à liberdade é, nos EUA, tão fundamental quanto o era no universo da Revolução Francesa.
Embora vivamos época de florescimento de positividade e empatia, isso nem sempre é real, soando mais aparente pois, na realidade empírica do cotidiano, continuamos os mesmos humanos de sempre, tão bem representados nas nossas humanidades por Shakespeare e os arquétipos da Mitologia Grega.
Vivemos época de incertezas e com ciclos cada vez mais velozes. O que era total novidade há um ano logo soa ultrapassado por novas tendências. As tecnologias que duravam muito tempo são superadas a cada dia. Nossa capacidade de consumir nunca esteve tão em alta e a nossa dependência nunca foi tão evidente. Com o advento da inteligência artificial, tudo deverá se acelerar e modificar. O que sobreviverá das questões humanistas e dos valores mais extremados das nossas sociedades e culturas? Das raízes filosóficas, quem se lembrará?
Com tantas coisas em jogo e agora que Donald Trump acaba de ser novamente empossado na presidência dos EUA prometendo mexer em práticas políticas dos últimos anos, é natural que muitas perguntas despontem, inclusive se radicalizará o Executivo americano após o novo paradigma fixado pela Suprema Corte dos EUA?
Além disso, como se refletirão, no Brasil e no mundo, as novas tendências dessas grandes empresas e da novel postura do governo dos EUA, após a decisão da Corte Suprema dos Estados Unidos? Qual será a influência disso no nosso cotidiano? Qual será a dimensão da agenda global contra essas novas posturas? Qual seria a resistência a essa nova pauta e qual a resposta a essa
resistência?
*Advogado/RJ. Membro da Academia Brasileira de Letras Agrárias, da União Brasileira de Escritores e da Academia Fluminense de Letras. Presidente da Comissão Nacional de Assuntos Fundiários da UBAU. Membro da Comissão de Direito Agrário da OAB/RJ. Defensor Público/RJ junto ao STF, STJ e TJ/RJ.