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28-12-2025 às 10h00
Solange Mendes*
Quando criança, morando em Governador Valadares, o meu Natal era especial! Durante todo o mês, nas Rádios Educadora e Por Um Mundo Melhor, só tocavam canções Natalinas, o tempo todo… “Querido Papai Noel vou fazer o meu pedido para o dia de Natal, uma boneca bem grande, se for pequena não faz mal…”
Meu Pai podia estar no fim do mundo, mas para o Natal ele chegava. Lá em nossa casa, a arvore só era montada no dia que ele entrava pela porta a dentro, podia ser com uma semana de antecedência, na véspera, ou até no dia. Já aconteceu um dia de ele chegar depois do almoço, aí foi aquela correria… A casa entrava em festa, logo na sala, ao lado da TV em preto e branco, começavam a brilhar as bolinhas coloridas em um galho coberto de algodão.
Na minha casa de Valadares nunca teve árvore tipo pinheiro, pois meu pai explicava que lá não sei onde, a neve não deixava ver a cor das árvores e como neve é branca, toma algodão. Lembro que eu e uns amigos encapetados, saíamos a noite para ver as árvores das casas mais chiques, nas ruas próximas lá de casa. As portas ficavam abertas e o nosso olhar cumprido nem piscava, tinha umas com pisca-pisca, outras de bolas grandes coloridas, outras brancas….
Uma vez tinha uma árvore tão linda, numa casa lá perto do Hospital São Lucas, que paramos, ficamos lá rindo, conversando e fazendo planos com os presentes enormes que tinham debaixo dela, como se fossem pra nós. Quando a dona da casa chegou, deu um “raspa daqui” e bateu a porta em nossa cara, nós não pensamos duas vezes, buscamos umas pedras ali por perto e cada um jogou a sua, deram sorte que a porta não era de vidro, senão…
Na manhã de Natal tinha a missa lá na Catedral e depois, quando chegávamos em casa os presentes já estavam debaixo da árvore e podiam ser abertos. Depois eu ficava na calçada de casa exibindo, o presente de Natal, um só, e era aproveitado e cuidado o ano inteiro. Na nossa casa sempre tinham brinquedos da Estrela, que eram os melhores, bonecas, joguinhos de casa, bicicleta, só não gostei do dia que eu ganhei um acordeon.
Era um acordeon de 120 baixos, dentro de uma caixa preta e por dentro forrada de vermelho, ele era vermelha cintilante e linda. Quando minha mãe e meu pai me mandaram sentar, fechar os olhos e colocaram aquele trambolho no meu colo, ai eu confesso, fiquei revoltada, como eu ia sentar na calçada com um negócio daquele tamanho e que eu não conseguia tocar nada … Por uns dois meses meu pai tentou me fazer apreciar e ter vontade de aprender a tocar. Como não teve jeito, acabou vendendo para o dono de uma “venda” lá do mercado.
Há muitos anos, tenho árvores que parecem pinheiro, além de já ter tido de vários tamanhos, troco os enfeites e as luzes para ficarem mais bonitas! À noite, em vez do peru assado com arroz, farofa e vinho Sangue de Boi, temos uma ceia com tudo que se tem direito, o apetite não dá conta de comer tanta variedade de assados, frutas, castanhas e sobremesas, as bebidas de tudo quanto é jeito, vários presentes que os meninos até enjoam de tanto abrir…
E no dia seguinte, depois de colocar a casa em ordem, jogar no lixo um monte de papel de presente rasgado, espero os filhos, os netos e agora os bisnetos tomar rumo, e começo a lembrar do único presente que ganhei e não quis ficar…
Eu bem que podia ter aprendido a tocar, porque agora e em paz, eu poderia agradecer, tocando, lembrando meu pai, minha mãe e minha árvore de algodão!

