
Caminhar, caminhar e caminhar pelo menos durante duas horas para o organismo liberar a endorfina, droga segregada pelos tecidos nervosos que é expansora da consciência.
10-02-2025 às 09h45
Rufino Fialho Filho*
Dos peripatéticos até os carteiros.
Não há outro meio de levar a ideia, a notícia, a carta, senão caminhando e quando se caminha, em qualquer caminho, até no espanhol, se caminha para ligar, religar, fundir, dizer, transmitir, criar, anunciar, interpretar
Há caminhadas contra a neurose. Terapêuticas.
Aqui, é o relato da experiência da terapeuta Anna Sharp para transformar a experiência de caminhar numa forma de autoconhecimento e reflexão.
Anna criou um trabalho cuja chave é ensinar a cada um a aprender a conhecer os sinais do seu caminho
Caminhar, caminhar e caminhar pelo menos durante duas horas para o organismo liberar a endorfina, droga segregada pelos tecidos nervosos que é expansora da consciência.
O andarilho
Nietszche
Dos Poemas, 1871-1888
Um andarilho vai pela noite
(Um andarilho anda apenas pela noite?)
A passos largos;
(andarilho que anda rápido, tem objetivo,
lugar para chegar, o verdadeiro andarilho não tem pressa)
Só curvo vale e longo desdém
São seus encargos.
A noite é linda –
Mas ele avança e não se detém.
Aonde vai seu caminho ainda?
Nem sabe bem.
Um passarinho canta na noite:
“Ai! minha ave, que me fizeste!
(Minha estrela!)
Que meu sentido e pé retiveste,
E escorres mágoa de coração
Tão docemente no meu ouvido,
Que ainda paro
E presto atenção? –
Por que me lanças teu chamariz?” –
A boa ave se cala e diz:
“Não andarilho! Não é a ti, não,
Que chamo aqui
Com a canção –
Chamo uma fêmea de seu desdém –
Que importa isso, a ti também?
Sozinho, a noite não está linda –
Que importa a ti? Deves ainda
Seguir, andar,
E nunca, nunca, nunca parar!
Ficas ainda?
O que te fez minha flauta mansa,
Homem da andança?”
A boa ave se cala e pensa:
“O que lhe fez minha flauta mansa,
Que fica ainda? –
O pobre, pobre homem da andança!”
* Rufino Fialho Filho é jornalista.