Índio pede a Mata Atlântica de volta
Os Maxakali dançam pedindo aos espíritos para trazerem a Mata Atlântica de volta, diante de embaúba, árvore famosa por reflorestar áreas degradadas pelos brancos gananciosos
30-09-2024 às 09h:00
Bento Batista*
Li na mídia que os índios Maxakali resistem ali no Vale do Mucuri e estão dançando, pedindo aos espíritos para trazerem de volta a Mata Atlântica que perderam para a ganância do homem branco, responsável por tudo que estamos vivendo atualmente, em termos ambientais.
Eles estão em busca de uma árvore considerada como multiplicadora das espécies de modo geral, chamada embaúba. Bela árvore! É uma espécie que atrai os passarinhos que vêm de longe para comer dos seus frutos e eles – os passarinhos – são os responsáveis por disseminar as sementes e em um tempo razoável, a floresta está de volta.
Se me permitem abrir um parêntese: aqui, em Belo Horizonte, no Bairro Santo Antônio, no final da Rua Professor Aníbal de Matos, quase na Avenida Prudente de Morais, tem um exemplar de embaúba. Grande, ele está meio tombado para dentro da rua e queira Deus continue ali, firme. Toda vez que por ali passo, dou um abraço nela, com respeito porque se trata de um espécime importantíssimo para recompor área degradada. Se em uma área degradada existir um pé de embaúba, é sinal de que a floresta irá se recompor. Fecho aqui o parêntese.
Que os índios Maxakali obtenham êxito na dança porque os brancos estão a destruir tudo. E não é de hoje. Recordo-me de que, em missão de cobertura jornalística da chamada “Operação Aciso” (“Ação-Cívico Social”), patrocinada pelo Comando Geral da Polícia Militar de Minas Gerais, fui por meio do jornal onde trabalhava na década de 1970 fazer a cobertura e tive a oportunidade de visitar a aldeia dos Maxakali.
Na ocasião, estava em companhia dos jornalistas Leopoldo José de Oliveira, já falecido. Ele era correspondente do jornal O Globo e assessor de imprensa da Secretaria de Segurança, além de responsável por transmitir para a Agência Nacional as manchetes dos jornais da capital mineira. Estava conosco o jornalista Kenedy Albernaz Corrêa, pelo Jornal de Minas, vivo no meio de nós e pode confirmar o que passo a narrar.
Recordo-me que, já naquela época, a aldeia vivia numa pobreza de fazer dó. Os sacanas dos fazendeiros invadiam as terras indígenas empurrando as cercas e já naquela época as matas nativas eram usadas pelos usineiros para fazer carvão, a fim de alimentar as suas fornalhas.
Além de se apossar das terras dos indígenas, os fazendeiros faziam questão de enfiar cachaça neles e nas ruas de Bertópolis a cena mais comum era ver índio trocando as pernas, bêbados e enrolando a língua.
A “Operação Aciso” consistia em levar assistência médica e alimentos para a região do município de Bertópolis. Incluso estava a aldeia dos índios. Uma das cenas chocantes que se viu na ocasião foi o índio alcoolizado pelos brancos, que de alguma forma os exploravam.
Na cabana de lona do cacique, ele só o esqueleto porque além de já estar velho, certamente não dispunha de alimento. Podia-se ver uma fileira de insetos andando pela madeira de sustinha a lona.
Infelizmente, no País, os índios são maltratados, logo eles, que eram os donos do território antes do português Pedro Álvares Cabral invadir o Brasil.
O conterrâneo professor Darcy Ribeiro fez o que pode para amparar os índios, mas o que ele conseguiu não foi o suficiente para o resgate da dignidade indígena.
*Jornalista e escritor