Há um grito parado no ar
Não adianta tapar o sol com a peneira: há um descrédito do cidadão comum nos partidos políticos envolvidos em denúncias de corrupção. De um lado, tal descrédito, no primeiro momento, parece salutar
25-09-2024 às 07h:19
Mário Lúcio Quintão Soares*
Vamos separar o joio do trigo. Daqui uns dias, especificamente no dia 6 de outubro, haverá pleito municipal, no qual elegeremos prefeitos e vereadores. Em síntese, em plena primavera, teremos de acordar cedo, abrir a janela, respirar o ar puro, fazer uma figa, orar e sufragar nas urnas as nossas escolhas.
Trata-se de momento de agradecer a Deus pelo pão nosso de cada dia, pelas liberdades públicas conquistadas, com muitas lutas, e pelo direito de votar, periodicamente, em eleições livres, na perspectiva de propiciar novo perfil ideológico à democracia.
Não obstante, a perda de confiança da população brasileira no modelo de representação política, adotado neste país tupiniquim, é evidente. Há uma onda conservadora, nestes tempos sombrios, que elegeu parlamentares que, por conveniência, fazem um discurso pautado na moral e nos bons costumes.
Para agravar a situação, com a reforma política equivocada, o fundo partidário, produto de dinheiro público, permitiu a reeleição de políticos tradicionais. Mesmo com a eleição de número expressivo de empresários, pastores evangélicos e militares reformados, o Congresso Nacional, por incrível que pareça, continua dominado por velhas raposas, escondidas em siglas partidárias desgastadas.
Não adianta tapar o sol com a peneira: há um descrédito do cidadão comum nos partidos políticos envolvidos em denúncias de corrupção. De um lado, tal descrédito, no primeiro momento, parece salutar, em termos de decantação do processo democrático.
Por outro, indaga-se sobre o perfil ideológico dos parlamentares que se constituem na base de sustentação do atual governo federal. A resposta gera inquietação. O pragmatismo tomou conta do Congresso Nacional.
As redes sociais são responsáveis por cenário dantesco, mediante narrativas distorcidas da realidade. Este espaço público democrático para debate de propostas de candidaturas foi, maquiavelicamente, desvirtuado.
A postagem de “fake News”, ou seja, de mentiras plantadas sobre candidaturas e fatos, compromete ideologicamente as campanhas eleitorais.
A onda conservadora transformou-se em cruzada ideológica contra o populismo petista, considerado como causador de todos os males da República. O preço pago foi alto. Com correção moral e monetária.
Agremiações políticas tradicionais que emergiram na nova República diminuíram o seu tamanho nas bancadas do Senado e da Câmara dos Deputados. Realmente, o mau uso do dinheiro público deixou cada cidadão, que tenha consciência política, perplexo.
Os partidos políticos tradicionais, gradativamente, são rejeitados nas urnas, como punição democrática. Mesmo assim, percebe-se que alguns políticos, com seus cabos eleitorais, filhos da arrogância, sobreviveram e se julgam acima das leis.
Esses políticos, na trilha fisiológica de vinculação ao poder, tão somente querem preservar seus privilégios e cargos públicos. Querem simplesmente mamar nas tetas estatais. Quando denunciados pelo Ministério Público, sempre conseguem se safar das garras do Judiciário. Até quando não se sabe. Entretanto, sem nenhum escrúpulo, na práxis política, deixam de lado os interesses da população, para defender seus interesses particulares. Pura hipocrisia.
A dinâmica atual da democracia em nosso País revela, pois, a triste realidade. O Brasil permanece dividido. Sem diálogo.
Há um grito de medo parado no ar.
Que Deus ilumine o povo brasileiro!
*Mário Lúcio Quintão Soares é advogado militante e professor universitário. Mestre e Doutor em Direito Constitucional pela UFMG