Mauro Santayana, outro grande nome que passou pela redação do Diário de Minas impresso
Santayana é um nome com experiência internacional; trabalhou em vários países depois de 1964. Exilou-se por dez anos e foi autor dos discursos de Tancredo Neves, inclusive o de posse.
Direto da Redação
23-11-2022
07h:43
Alberto Sena
Mauro Santayana jornalista da melhor safra, conhecido em Belo Horizonte, em Minas Gerais, em São Paulo e no Brasil todo, dalém mar, trabalhou no Diário de Minas, na versão impressa, época em que a Redação era um celeiro de grandes repórteres, quando “furo de reportagem” era algo disputado. Ele foi chefe de reportagem do Diário de Minas, no período de 1955 a 1958.
Santayana, como era chamado nos meios jornalísticos foi dos profissionais mais completos que o Brasil produziu. Digo foi porque há muito tempo não se tem notícia dele e não se sabe por onde anda, se está vivo ou não. Tudo indica que vive porque o passamento dele seria notícia aqui e no mundo. Que ele esteja espargindo sua sabedoria em algum lugar.
Recordo-me de Santayana quando do conheci, em 1976, na Redação do jornal Estado de Minas, na Rua Goiás 36. Ele fazia uma crônica diária e numa delas fui citado por ter feito uma reportagem, e para mim, iniciando no EM, foi de grande valia, e mais ainda porque o amigo fez o comentário seguinte, “Alberto Sena, que muito promete”.
Exato meio século depois, não sei se o vaticínio dele se confirmou, mas posso dizer que serviu de lenitivo para um meio “foca”, digo meio porque já vinha de uma experiência no O Jornal de Montes Claros, onde de fato me iniciei em setembro de 1969.
Depois do Diário de Minas, Santayana andou pela Folha de São Paulo, Gazeta Mercantil, Correio Braziliense e Jornal do Brasil. Profissional de grande experiência política, era ele quem escrevia os discursos de Tancredo Neves, até mesmo o último, de posse, em 1985, discurso que o presidente não chegou a ler, porque morreu e o País entrou em comoção.
Na época, o jornal O Globo publicou um texto sobre a mostra “Centenário de Tancredo Neves”, no Museu Histórico Nacional, em cujo evento houve o lançamento de “Tancredo: O Verbo Republicano”, com organização do jornalista Mauro Santayana. O livro traz, entre outros, um discurso sobre liberdade e justiça social que poderia ter entrado para a história como um marco da redemocratização. Mas, quis o destino que ele nunca fosse proferido. No dia 15 de março de 1985, na sua posse como presidente da República, Tancredo iria propor aos trabalhadores a renegociação de um pacto social em prol da reorganização da economia, assim como falaria sobre os perseguidos no regime militar. O texto, de Mauro Santayana, nunca foi lido: Tancredo foi internado na véspera da posse, morrendo em 21 de abril.
“Santayana resumia o discurso quando soube da internação. Tancredo, no mesmo dia, havia exposto o temor de não conseguir ler todo o texto, de 30 minutos: - Comentei: “Posso reduzir para até cinco minutos. O discurso de Lincoln depois da batalha de Gettysburg levou menos de três minutos”. E ele: “não sou Lincoln, reduza para dez minutos”. Moderado, Tancredo manifestaria seu desejo pela conciliação: “Não chegamos ao poder com o propósito de submeter a Nação a um projeto, mas com o de lutar para que ela reassuma, pela soberania do povo, o pleno controle sobre o Estado. A isso chamamos democracia”, teria dito.”
Depois de 1964, Santayana se exilou por dez anos, no Uruguai, no México, em Cuba, em Praga, na Checoslováquia onde além de espargir a sua competência, teve a oportunidade de adquirir muita experiência profissional.
Ao voltar do exílio em 1976, foi diretor da sucursal da “Folha de S. Paulo” em Minas. Escrevia uma coluna diária sobre política. Depois, ele caiu no mundo de novo.
O objetivo não é publicar aqui o currículo de Santayana, que é enorme e de uma riqueza profissional incomum. A intenção era falar um pouco sobre ele e dizer, foi um dos grandes nomes que passaram pelo Diário de Minas impresso, e não podíamos deixar de falar dele um pouco nessa versão digital.