
Créditos: Divulgação
21-08-2025 às 09h20
João Abilio dos Santos e Sebastião Carlos Martins*
O Brasil é potência agroambiental, mas ao mesmo tempo dependente da importação de fertilizantes. Essa dependência pressiona os custos de produção, expõe o país a riscos geopolíticos e sobrecarrega municípios com altos custos de aterros. A integração entre Usinas de Recuperação Energética (UREs) com pirólise e produção de biochar surge como solução estratégica. Essa tecnologia possibilita transformar resíduos sólidos urbanos em energia, insumos agrícolas e receitas públicas, colocando o país em posição de liderança mundial na transição agroenergética.
Em unidades para industrialização quanto no caso dos aterros, na chegada dos resíduos já iniciamos a segregação, reciclamos separando os orgânicos que encaminhando para a Biodigestão, os Poliméricos para Planta Termoquímica e os rejeitos não processáveis para as células do aterro, otimizando assim os espaços e a vida útil dos aterros, diminuindo drasticamente a criação de passivos tão indesejados, diminuindo os impactos poluidores dos lençóis freáticos e dissipação de gases de estufa na atmosfera.
Um Moderno Conceito Filosófico para a destinação mais eficaz para os resíduos e lodos, com o respectivo Aproveitamento Energético, utilizando as três tecnologias em um só espaço como a termoquímica para produção de Gás de síntese, biochar e EE, a biodigestão para produção do biometano e venda para concessionárias e o aterro sanitário para destinação final dos rejeitos não processáveis e não aproveitáveis.
Benefícios do Biochar No Agronegócio. O biochar melhora a estrutura do solo, aumenta a retenção de nutrientes, eleva a produtividade e reduz a necessidade de fertilizantes químicos. Isso gera competitividade ao agronegócio brasileiro e reforça a segurança alimentar global.
Na Balança Comercial, o Brasil importa cerca de 85% dos fertilizantes que consome, gastando de US$ 18 a 20 bilhões por ano. A substituição parcial por biochar pode reduzir drasticamente essas importações, fortalecendo a soberania econômica e reduzindo a exposição cambial.
Aspectos Políticos e de Segurança. Menor dependência de fornecedores externos fortalece a soberania agrícola, reduz vulnerabilidades a crises geopolíticas e amplia o poder de negociação do Brasil em fóruns internacionais, como COPs, OMC e G20.
Benefícios Ambientais. O biochar é altamente estável e atua como sumidouro de carbono, reduzindo emissões de gases de efeito estufa. Seu modi operandi inclui o sequestro de carbono na forma sólida no solo, a diminuição da lixiviação de nutrientes, melhoria da retenção de água e a mitigação da poluição hídrica e atmosférica. Dessa forma, contribui diretamente para metas climáticas globais e para a agricultura regenerativa.
Impacto Econômico – Quadro Comparativo
Cenários de substituição de fertilizantes importados pelo biochar, considerando valores anuais de importação.
a) Base atual: US$ 18–20 bilhões/ano em importações.
b) Cenário Moderado (10%): Redução de US$ 1,8–2,0 bilhões/ano.
c) Cenário Avançado (25%): Redução de US$ 4,5–5,0 bilhões/ano.
d) Cenário Estratégico (50%): Redução de US$ 9,0–10,0 bilhões/ano.
Simulação de Monte Carlo e Mitigação de Riscos
O grande diferencial de nossos estudos de pré-viabilidade econômica e financeira está no tratamento das incertezas que envolvem projetos de energia limpa, como os de biocombustíveis e fertilizantes. Quando buscamos atrair investidores e obter financiamento, trabalhamos com estimativas de CAPEX, OPEX, receitas e tributos — informações fundamentais, mas ainda incertas no estágio inicial. Essa incerteza pode comprometer a clareza sobre a rentabilidade real do projeto.
Para reduzir esse risco, aplicamos a Simulação de Monte Carlo, uma técnica quantitativa reconhecida internacionalmente. Ela permite rodar milhares de cenários de risco, variando parâmetros críticos como preço da energia, CAPEX, OPEX e receitas de coprodutos (como o biochar). Assim, conseguimos avaliar a sensibilidade dos resultados a cada variável-chave.
O resultado é um planejamento mais robusto, transparente e confiável, que dá aos investidores e financiadores maior segurança para a tomada de decisão, aumentando as chances de sucesso na implementação de projetos sustentáveis.
Neste sentido, é fundamental para investidores e financiadores que sejam propostas ações mitigadoras de risco, baseadas no conhecimento da influência das principais variáveis que afetam a rentabilidade e o payback dos projetos. Entre essas ações, destacam-se:
• Contratos de longo prazo (PPAs), que asseguram previsibilidade de receitas;
• Hedge cambial, para proteger contra variações no câmbio;
• Manutenção preventiva, garantindo maior disponibilidade e eficiência operacional;
• Diversificação de mercados, reduzindo a exposição a oscilações de demanda e preço em um único segmento.
Essas medidas tornam o projeto mais resiliente, confiável e atrativo, fortalecendo a confiança de quem investe e financia iniciativas de energia limpa.
A Análise SWOT (Strengths, Weaknesses, Opportunities, Threats) é uma ferramenta estratégica usada para identificar pontos fortes e fracos internos, além de oportunidades e ameaças externas ao projeto. Ela auxilia investidores, governos e parceiros a compreender o posicionamento competitivo e as áreas de atenção.
a) Forças: multiproduto, redução de passivo ambiental.
b) Fraquezas: CAPEX elevado, necessidade de operação qualificada.
c) Oportunidades: agricultura regenerativa, substituição de fertilizantes importados.
d) Ameaças: mudanças regulatórias, oscilações de preços.
Descrição Técnica do Processo. O processo de produção de biochar envolve recepção e triagem de resíduos, pré-tratamento e secagem, seguido de pirólise lenta entre 350°C e 700°C sem oxigênio. Os principais produtos são: Biochar (sólido estável e poroso), Óleos combustíveis e Syngas. O biochar pode ser aplicado diretamente no solo ou ativado para uso industrial. O syngas gera energia elétrica e térmica, fechando o ciclo de aproveitamento.
A DBEST PLAN como Parceira Estratégica
oferece consultoria completa para projetos de aproveitamento energético a partir de resíduos, com expertise em biochar, energia limpa e descarbonização. Atua desde estudos de viabilidade até gestão da implantação, apoiando investidores na transição energética. Seu histórico inclui atuação em projetos internacionais e nacionais, fortalecendo a segurança energética e a sustentabilidade.
Impacto Global e COP30. O biochar vai além de um insumo agrícola: é uma solução estratégica para segurança alimentar, energética e climática. Para o Brasil, representa oportunidade de reduzir dependência externa, gerar empregos, aumentar a competitividade e liderar a agenda da sustentabilidade. Na COP30, o projeto reforça o papel do país como protagonista agroambiental e parceiro global na luta contra as mudanças climáticas.u
*João Abilio dos Santos é engenheiro civil com mais de 30 anos de experiência prática no setor público e privado, atuando nas áreas de saneamento básico, tratamento de resíduos, especialista em túneis não destrutíveis, eletrofusão e termofusão. Elabora estudos de viabilidade técnica e econômica para aplicação de tecnologia de pirólise lenta no tratamento de resíduos urbanos, industriais e hospitalares.
*Sebastião Carlos Martins é engenheiro eletricista formado pela UFRGS em 1971, foi professor universitário e atuou em grandes projetos de siderurgia e mineração no Brasil. Possui conhecimentos em Direito Tributário, Contabilidade, Economia e Auditoria. Nos últimos seis anos, se dedica a estudos de viabilidade econômica e financeira para usinas eólicas, fotovoltaicas e unidades de recuperação de energia a partir de RSU, aplicando a Simulação de Monte Carlo e escreve semanalmente para o Diário de Minas e para A PROVÍNCIA DO PARÁ.