
Academia Mineira de Letras - créditos: divulgação
16-08-2025 às 09h49
Caio Brandão (*)
Durmo pouco. A insônia vem com a idade. Depois dos setenta, faz parte do vislumbre do sono compulsório e definitivo que se alinha no horizonte.
Ontem, por e-mail, em vigília refratária durante madrugada companheira, recebi a visita do imortal J.D Vital, membro da Academia Mineira de Letras, onde figura dentre os seus mais ilustres confrades. Vital é velho companheiro de jornadas como jornalista, profissão que adotei durante os meus primeiros anos de inserção na atividade laboral.
Depois, sempre existe o depois, troquei as letras pelos números, estes mais excitantes do que as primeiras, mas mantendo a condição de diletante nessa aventura que distrai o espírito e acalanta a alma.
Vital, o J.D, comentou sob elogios artigo de minha autoria, publicado no Diário de Minas, sobre o doutor – ele também é médico – Geraldo Alkmin, ex-governador de São Paulo e atual vice-presidente da República. Partindo do J.D o elogio soa alto, porque ele não é de distribuir afagos imerecidos e coloca sempre em pauta a sua capacidade de escrever bem, o que faz de forma correta, concisa e elegante.
Fiquei feliz com o mimo, todos gostamos do aconchego do elogio, mas a acuidade que sobrevive aos meus 75 anos apontou para um senão: Vital escreveu do Geraldo, o Alkmin de forma diferente da grafia que adotei no texto que avaliou. O meu ALKMIN estava escrito como grafado aqui, e o dele veio ALKIMIN. Enxerguei de pronto a letra i abelhuda, colocada entre a letra K e a letra M. Maldita letra i, em plena madrugada insone, a estimular dúvidas sobre a inserção de caracteres em sobrenome próprio de outrem. Ora, errar o nome do vice-presidente do Brasil no título da matéria era imperdoável e, escanteado o sono remanescente, fui à luta.
Na troca de mensagens, Vital foi direto ao ponto, visitando o GOV BR, site criado pelo governo federal, que suga toda a privacidade dos cidadãos, mas que também traz informações relevantes. E lá no GOV BR estava a biografia do Geraldo ALCKMIN, com o seu nome completo, a saber Geraldo José Rodrigues ALCKMIN Filho, sem a letra i oferecida pelo Vital e acrescido da letra c omitida por mim. Viva, aprendemos com a dúvida, que gerou certeza desconfortável para o texto que publiquei, forçando-me à penitência de sobrepor ao anterior algo criativo e expiante.
Errar a grafia de nomes e sobrenomes próprios é comum. Eles, por serem próprios, têm total liberdade de serem criados com escritas recheadas de consoantes, e remetidos às origens ancestrais de famílias oriundas de países distantes e de idiomas exóticos.
No Brasil, o nome Alkmin se tornou muito conhecido através da figura carismática do político José Maria Alkmin, vice-presidente do marechal Castello – com dois LLs – Branco, primeiro presidente da Revolução de 64 – também chamada de Movimento – cujo nome se escreve sem a letra C contemplada no sobrenome do Geraldo, e sem a letra i, acrescentada pelo J.D Vital.
O José Maria era de Bocaiúva, pequena cidade do agreste mineiro, e tinha o mesmo sobrenome do empresário José Augusto Silveira de Alkmin, mineiro de Montes Claros que não foi político, mas empreiteiro, e acabou dos mesmos enfrentando as demandas mais imoderadas, e sobreviveu.
No meu caso, peculiar, fui batizado com o nome do imperador romano Gaius – ou Caius – Iulius Caesar, Caio Júlio Cesar em bom português – desprezados os acentos aleatoriamente distribuídos -, mais conhecido como Caio Brandão e, pelos adversários, como Caio Pinto, sobrenome paterno que coroa o meu nome civil.
Aliás, a escolha do meu nome implicou na desconsideração da maldade alheia, com a aplicação da gravidade insidiosa aplicada sobre o Pinto do Caio. Melhor contemplados estão o Inácio Pinto, o Clécio Pinto, o Armando Pinto, embora também penalizados estejam o Serafim do Pinto e o Caio Pinto, este último, infelizmente, por motivos óbvios.
Ainda sobre nomes, vem à tona o J.D. Vital. Do meu companheiro de imprensa até agora só conheci o Vital. Não sei traduzir nem o J e nem o D. Procurei no Google e ele também não soube explicar. Fui aos anais da Academia Mineira de Letras e lá só encontrei o J.D. Vital. Poderia consultar outras fontes, mas preferi respeitar essas duas letras e manter sob discrição a escolha do querido amigo.
Contudo, um informante aludiu à possibilidade do J se referir a João e o D a Deus. Se for assim, aleluia, ao Vital respeitosa homenagem por preservar oculta a divindade, o que lhe permitiu mais liberdade no convívio com o seu meio, os seus circunstantes e os seus propósitos e não me consta que ele tenha feito algum milagre. Ademais, Vital, no tocante ao seu modo de ser e na discrição que pontua as suas atitudes, também foi seminarista, o que deve em muito ter contribuído para os valores que pautam os rigores moral e intelectual que incorpora.
Sobre o Geraldo, fiquei sabendo que o sobrenome controverso, de origem árabe, tem a ver com química e alquimia, o que explica em parte a sua trajetória política.
Enfim, meu caro, J.D Vital, você talvez possa me ajudar a decifrar o sobrenome Kubitschek, do nosso saudoso Juscelino, diamantinense também eleito presidente do Brasil, apesar do nome complicado. Tivesse nascido Juscelino da Silva, teria sido coroado imperador.
(*) Caio Brandão é jornalista