
Créditos: Divulgação
13-08-2025 às 08h05
Direto da Redação*
Hoje, uma hora antes do final da manhã, assisti o que peço licença para chamar de o lado mais chique da miséria humana. Chique no sentido imaterial.
Falado de outra forma, o que vi foi uma demonstração de amor; amor verdadeiro entre um casal, em plena 11h movimentada.
O dois dormiam na calçada ao lado do prédio do antigo Cine Brasil, na Avenida Amazonas, em pleno Centro desta Belo Horizonte a cada dia mais abandonada pela Administração Pública.
O casal se encontrava sobre panos, protegido por um cobertor, com exposição só do rosto dela, com o braço direito em volta do pescoço dele, como se o dois estivessem numa confortável cama em um ambiente perfumado.
Fiquei a imaginar para o casal uma cama confortável de um motel onde os dois viveram uma noite inesquecível e ao final se esqueceram de ir embora e nem mesmo todo o barulho do mundo não seria capaz de atrapalhar o sono dos dois. Um casal feliz, certamente, por dentro, porque por fora era o retrato em preto e branco, sem retoques de uma situação social que a administração pública parece não enxergar.
Sim, porque se enxergasse, estaria fazendo alguma coisa para amenizar o sofrimento de quem está numa penúria de deixar envergonhadas as pessoas que veem a situação e nada podem fazer para mudar o quadro porque cabe à Prefeitura de Belo Horizonte, por intermédio do seu trabalho social, dar uma solução digna para essas pessoas, geralmente gente vinda do interior do Estado com o intuito de melhorar de vida.
O casal visto na calçada ao lado do Cine Brasil antigo, pelo pouco que se podia ver de cada um, não parecia ser mendigo. A mulher tinha traços finos e cabelos pretos e grandes. Dele se podia ver só a parte de trás da cabeça e a orelha esquerda.
O movimento do trânsito de carros e ônibus era o de sempre; as pessoas passavam pela calçada onde o casal dormia com o falatório de sempre. Nada importava ao casal chique, a não ser os sonhos presumidos de que os dois eram as almas mais felizes deste planeta em cima do qual a humanidade em convulsão corre o risco de cometer autofagia.