
CRÉDITOS: Ricardo Stuckert/Reprodução
26-07-2025 às 09h51
Ilder Miranda Costa*
À primeira vista, Lula, suas fotos ao lado de Janja carregam uma mensagem revolucionária e podem servir como prova social de que vocês estão juntos em um relacionamento comprometido, enfrentando tempestades políticas.
Para ser sincero, Lula: nas fotos, o foco é Janja, flagrada em locais públicos, interagindo, por um desses acasos da vida, com celebridades. Aliás, nas imagens, você parece desconfortável em ambientes de cores fortes combinadas, inusitadamente: amarelos, verdes e vermelhos, repetidas de Roma (abril/2025) a Moscou (maio/2025), de Pequim (maio/2025) a Paris (junho/2025).
No funeral do papa, o que se vê é um Lula perplexo em face de uma Janja sorridente que transborda de alegria por trás de óculos escuros.
Na celebração da vitória sobre nazistas, na Segunda Guerra Mundial, você hesitou ao se aproximar de Putin e estendeu a mão muito antes de poder tocá-lo; ela percebeu seu erro. Aliás, Lula, Janja estava tão à vontade com o buquê que o presidente lhe deu que tem vídeo com você tentando afastar-se e deixar a mulher para lá. O líder do Kremlin teve que segurar seu braço e, para não cair, você chegou a dar um pulinho para trás para se equilibrar, de tão forte que foi o puxão.
O que você pensava ser mais um passo para fortalecer o programa de intercâmbio “China e Brasil” deu errado. Diante das câmeras, Janja ostenta túnica Mao na cor cinza, arriscando no estilo: mangas em forma de cones, midi e botas de cano alto. Na foto oficial, você posa fazendo tinindo com os dois polegares. Mas, nos bastidores, “alguém teve a pachorra de ligar para alguém e contar uma conversa” sobre Tik Tok, na oportunidade em que você perguntou “ao companheiro Xi Jinping se era possível ele enviar para o Brasil uma pessoa da confiança dele para a gente discutir a questão digital”.
Pior foi você sem paletó, descalço, deitado no chão do picadeiro do Grand Palais, no coração de Paris. A cena é aquela do meio da madrugada com o bêbado jogado na calçada e a filha mais velha resgatando o sujeito caído na sarjeta. Na foto, quem faz esse papel é Janja, apoiada pela mão carinhosa de Macron em suas costas. E você de bobo da corte francesa, jogando a própria imagem na lata de lixo porque não sabe lidar com impopularidade.
No avião de volta ao Brasil, Lula veio refletindo sobre essas coisas. Em Roma, foi a dor do vexame: “Janja riu diante do cadáver de Francisco…” Mas não teve tempo de sentir vergonha por causa disso. A vontade de se esconder foi dissipada pela necessidade de responder às exigências que, naquele momento, em pleno voo, um assistente lhe recitou:
– “Ponto um: explique que não há erosão do poder de compra da população.”
– “Falar o quê? Que perdi o controle da inflação?”
O assessor ficou atônito e, na brecha, Lula voltou seu pensamento à Rússia. Em Moscou, foi a dor de corno: Janja recebeu flores de Vladimir… Daquele momento em diante, a lembrança desse detalhe não deixou de atormentá-lo; e afundou dedos em forma de gancho duas ou três vezes na barba branca.
– “Ponto dois”, disse o assistente, tentando manter Lula no chão, e, antecipando manchetes que apareceriam nos jornais populares assim que Lula pisasse em Brasília, apregoou: “gastos fora da meta fiscal ultrapassam trezentos bilhões de reais”; interrompeu o gesto no ar e perguntou, em tom de zombaria: “o que você vai fazer com isso?”.
– “O que eu vou fazer com isso? Olha, companheiro, equilibrar imposto e gasto não é da minha conta, não me importo com proposta fiscal e acho que dívida pública não deve ter limite.”
Um lampejo de alegria brilhou nos olhos do assistente. O círculo branco ao redor de sua pupila pareceu dilatar-se; em sinal de satisfação, ele aproximou-se de Lula, querendo abraçá-lo.
– “Ah, sai daqui!”, Lula empurrou o assistente. E voltou às suas reminiscências.
Em Pequim, foi a dor do constrangimento: ela quebrou protocolo… era a minha vez de falar…
Em Paris, foi a dor da humilhação: Janja nada fez para impedi-lo de agir daquela maneira. “O que foi aquilo?” Lula suspirou, evidentemente exausto.
Perturbado, o assistente fechou o bloco de anotações e juntou seus pertences – bolsa, caneta, celular etc. – e voltou para seu canto, um assento na parte de trás do avião.
Uma vez no Alvorada, Lula afundou-se no velho sofá, aninhando-se ao primeiro copo que encontrou.
Tarefas iminentes voaram por sua mente.
A reunião do G7; Janja…; vamos ou não? Olhos fixos num ponto qualquer do teto do salão, Lula escondeu sua ansiedade. “Meu terceiro mandato está chegando ao fim e, embora ainda esteja claro, parece-me que eu, num sótão iluminado, estou projetando sombras em paredes rachadas.” E continuou a divagar: “o que sei dessa mulher? De sua relação com o pai? De que tipo de abuso ela quer vingar-se?” O horror da hipótese que lhe veio à cabeça trouxe-o de volta à realidade e o fez inventar uma coisa qualquer: ir ao Canadá convidar para a COP-30.
Cúpula de chefes de estados do Mercosul, Buenos Aires; Janja…; “mas como, se ainda não falamos de Roma e Moscou continua preso em minha garganta?” Lula sorveu o último gole da garrafa e, num relance entre lucidez e perversão, viu correntes de ferro caindo do céu e pilhas de carvão seco flutuando no ar das celas do país. Não resistiu e disse baixinho, para que ninguém ouvisse: “Uma faísca e, aí, você veria o que é um fogo ardente.” E murmurou: “De fato, olho para ela e me parece que há uma verdade a ser desenterrada.” Reunião dos líderes dos países dos BRICS, Rio de Janeiro. “Xi Jinping não vem, mas meu medo é Janja resolver fazer com ele o que fez com Elon Musk.
Diz-se que “há uma confusão entre a pessoa que tem uma militância política histórica e o seu papel como esposa de um presidente. Esse é que é o grande problema que gera as críticas com relação a ela. (…) De outro lado, ela cria na militância a ideia de que tem alguém preocupado e voltado para defender a população de situações consideradas prejudiciais.”
Ativista é alguém inserido em uma organização política, sujeito à sua ordem de poder e movido por senso de comunidade e conspiração. Sem rede de ativistas, não há ação política, nem ela, visando a ampliar o poder do partido, consegue estender-se a todos os setores da coletividade. Ao custo de afundar a vida humana em hipocrisia e duplicidade, apenas para acelerar a revolução via propaganda contra a degradação moral e intelectual da sociedade deteriorada pelos propagandistas.
Ao perguntar “cadê meus vira-latas?”, Janja, por um lado e em consonância com os valores que defende, justificou suas ações perante o público. Por outro, cumpriu objetivos sutis da transição revolucionária em curso, conhecidos, apenas, por líderes do partido.
O fato é que Janja estava a poucos passos do grupo formado por Lula e pelo presidente indonésio, quando começou a procurar seus vira-latas. Lula não quebrou a cerimônia com o colega, nem olhou para trás. Deu a entender que não se incomodou, mesmo porque já tinha avisado (março/2025) que Janja “vai estar aonde ela quiser, vai falar o que ela quiser e vai andar para onde ela quiser”.
“Ela vai continuar fazendo o que ela gosta, porque a mulher do presidente Lula não nasceu para ser dona de casa.”