
Quem quer ser um milhonário? Programa da Rede Globo de Televisão - créditos: divulgação
06-07-2025 às 10h10
(*) Gisele Bicalho
– Nossa, Gisele! Você ainda assiste televisão? Que coisa mais antiga! A internet traz tudo em tempo real.
Ouço essa pergunta e essa afirmação com frequência. E a minha resposta é sempre a mesma: é óbvio que sim. Gosto especialmente dos telejornais, dos programas de gastronomia e de programas como “Show do Milhão e “Quem Quer Ser um Milionário?”. O primeiro é transmitido pelo SBT e, o segundo, pela Globo.
Assim como no original, “Quem Quer Ser um Milionário?” é um jogo de perguntas e respostas em que o participante pode ganhar até R$ 1 milhão, avançando por etapas com questões de conhecimentos gerais. O formato inclui recursos como ajuda de amigos e possibilidade de desistência com o valor acumulado. Desde sua estreia, o quadro tem emocionado o público com histórias inspiradoras e desafios de raciocínio.
Eu me incluo no quesito emoção. Esse substantivo traduz a minha relação com o quadro. Papai adorava o programa. Sempre me convidava para assistir com ele. Vibrava a cada acerto meu. E dizia:
– Filha, você deveria participar. Acerta todas (na verdade, quase todas).
Sorria para ele e dizia: um dia ainda vou. Nunca fui e certamente nunca irei. Dizia aquilo só para alegrá-lo.
Nessa semana lembrei demais desses momentos de encantamento com o nosso Velho do Rio. É que li uma matéria com comentários pouco elogiosos sobre o desempenho dos universitários nesse tipo de programa. A matéria dizia que em uma edição do Show do Milhão três universitários foram alvo de críticas e memes nas redes sociais após errarem uma pergunta considerada básica de História: “Em que ano Cristóvão Colombo chegou à América?”. Em vez de responder 1492, os estudantes confundiram o episódio com a chegada dos portugueses ao Brasil, escolhendo 1500 como alternativa correta, inclusive com explicações equivocadas sobre o tema, o que intensificou a repercussão.
A mesma matéria diz que nas redes, internautas e educadores se mostraram surpresos com o erro. Comentários variaram entre tom humorístico e indignado, questionando a eficácia do quadro como estratégia publicitária para instituições de ensino. Muitos apontaram que até alunos de ensino fundamental saberiam a resposta e lamentaram o despreparo dos universitários ao vivo.
Mas nem todas as perguntas são fáceis assim. No “Quem Quer Ser um Milionário?”, um dos participantes impressionou ao acertar perguntas de alta complexidade, demonstrando conhecimento sobre temas variados. Um dos momentos mais tensos ocorreu quando ele foi questionado sobre o ano de divulgação das Sete Maravilhas do Mundo Moderno, dúvida que surpreendeu até Luciano Huck. Matheus acertou a resposta (2007) e acumulou R$ 20 mil.
Na sequência, ao enfrentar uma pergunta técnica sobre o tempo exato de rotação da Terra, Matheus utilizou uma ajuda, mas acabou errando por apenas dois minutos. Apesar disso, saiu do programa com R$ 100 mil e ainda foi aplaudido pelo auditório e reconhecido pelo público por seu desempenho acima da média.
Eu acertaria? Como é de múltipla escolha, talvez sim. Tenho memória associativa, o que ajuda muito. Sempre agrego algum conceito a algo que preciso memorizar. É quase um jogo. Lembro que no cursinho pré-vestibular nosso professor de geografia criava códigos para que a gente memorizasse informações, uma delas sobre a origem dos povos originários das Américas. Jamais esqueci: Peru e inca têm quatro letras; México e asteca, seis letras. Dá pra errar? Impossível.
Tem outra: quais os verbos que quando flexionados ganham vogal dupla um acento circunflexo? Para saber a resposta basta usar a “palavra “credelevê”. Traduzindo: creem, veem, deem, veem. O acento caiu com a reforma, mas ficou a lição. Ontem, Beto, um dos meus irmãos, veio com uma mais complexa sobre quem tem duas corcovas: dromedário ou camelo? Difícil. Para acertar é preciso saber que o camelo é um bacteriano. Daí para regra: D (1 corcova) e B (2 corcovas).
Voltando à falta ou ao pouco conhecimentos dos universitários, Papai ficaria orgulhoso caso me perguntassem, como ocorreu no “Show do Milhão”, em qual continente vive o diabo-da-tasmânia. Enquanto os estudantes ficaram entre Ásia e África, o participante Raphael optou por parar o jogo e garantir R$ 30 mil. Após a desistência do candidato, a apresentadora Patrícia Abravanel arriscou a alternativa correta, Oceania, já que o animal é nativo da Tasmânia, na Austrália. O episódio gerou repercussão por evidenciar a dúvida dos universitários diante de uma questão que envolvia conhecimento básico de geografia e fauna.
Voltando ao que “Quem Quer Ser um Milionário?”, até hoje, apenas uma pessoa conseguiu levar o prêmio máximo. Em 2023, a jornalista Jullie Dutra, de 38 anos, respondeu todas as perguntas e levou para a casa a tão desejada maleta com R$ 1 milhão. Na ocasião, a pernambucana havia sido a terceira participante a chegar na pergunta, mas única a dar a resposta certa e zerar o quadro.
Pensando aqui que para ficar rica e viajar pelo mundo talvez o caminho mais curto não seja as tentativas, até agora infrutíferas, de ganhar na Mega Sena. Quem sabe eu deveria arriscar e botar a cara a tapa no “Show do Milhão” ou no “Quem quer ser um milionário?”? Papai certamente comemoraria.
(*) Gisele Bicalho é jornalista