
Época das florada das buganvílias - créditos: divulgação
28-06-2025 às 09h00
Gisele Bicalho (*)
Você é o tipo de pessoa que se apega aos detalhes? Eu sou. Mesmo quando o todo me atrai é nas entrelinhas que me reconheço. Acredito que sempre há algo mais a ser dito (ou a ser visto) além do que me salta aos olhos. Ou vai me dizer que você nunca reparou nas buganvílias?
Em época de chuvas escassas e de sol intenso, essa trepadeira linda e exuberante domina os muros da cidade. Floresce em abundância quando a temperatura despenca de repente. Suas cores variam de acordo com as estações: rosa e lilás no inverno, vermelho, amarelo e laranja na primavera e no verão.
– Tá bom, entendi. Mas e o detalhe?
O detalhe é que essa exuberância toda que a gente vê esconde um segredo: não são flores. São folhas modificadas. Elas se vestem com cores tão chamativas que seduzem polinizadores desavisados e, é claro, a gente, que fica boba com tanta beleza. As verdadeiras flores são tímidas, miúdas, amarelo-esbranquiçadas. Nem por isso menos bonitas, mas para enxergá-las é preciso chegar bem perto. É aí, nesse detalhe, que mora o encantamento.
Resistente e exuberante, a buganvília se espalha pelos quatro cantos das cidades. Não importa se é grande ou pequena. Ela tanto enfeita Conceição do Pará quanto os grandes centros. Em Belo Horizonte, por exemplo, a trepadeira ganhou vida nova pela arte urbana. Um grafiteiro transformou as folhas rosa numa cabeleira vibrante. A moça, que talvez seja a sua musa inspiradora, está estampada em uma base de concreto instalada na praça aos pés da Serra do Curral.
E vou mais além. Se enfeita, a buganvília também tem propriedades terapêuticas e gastronômicas. É uma planta alimentícia não convencional, as tais PLANCs. As folhas coloridas podem ser batidas em sucos e limonadas. Também estão presentes em saladas, patês e até na massa da tapioca. Depois de secas são ótimas para ornamentação.
Por coincidência, vi um post publicado pela Karen Grimmer, criadora de conteúdo que compartilha reflexões narrativas sobre mulheres na arte, cultura e filosofia. Uma delas é, acredite, sobre a descoberta das buganvílias.
Nesse post, Karen conta que a planta foi descoberta por Jeanne Baret, uma cientista que se vestiu de homem para participar de uma expedição. No Rio de Janeiro de 1777 Jane se embrenhou pelas matas, coletou plantas e manteve as amostras em boas condições. Não por acaso Jane é reconhecida como autora de uma história que potencializa a mulher na ciência. E sobre o nome da nova espécie é que Jeanne viajou para os trópicos a convite do capitão Bouganville. Ah, Jeane foi a primeira mulher a circunavegar o globo terrestre. Incrível, né? Danadinha demais essa moça.
Tá vendo que a realidade vai muito além do que a gente vê? Se no dia a dia tropeçamos no óbvio, o que, muitas vezes, pode nos parecer raso, não se deixe enganar. Quando olhado com calma revela camadas que podem nos surpreender. O que vemos de forma displicente pode mostrar que o importante está ali, disfarçado de simplicidade. Ou seja, o que é evidente nem sempre é simples. E isso vale para os nossos relacionamentos pessoais. Para a vida.
E sobre o uso culinário da buganvília, se aguçou a sua curiosidade e despertou as papilas gustativas que habitam a sua boca, segue a receita do chá. O sabor é suave e levemente floral. Indicações? É ótimo para relaxar, aliviar tosse e refrescar nos dias quentes, especialmente se for servido com gelo.
Chá de buganvílias
Ingredientes:
• 1 xícara de brácteas frescas (o que conhecemos como flores) de buganvílias (as “pétalas”, bem coloridas e lavadas)
• 2 xícaras de água
• Mel, gengibre ou limão (opcional)
Modo de preparo:
• Ferva a água e, ao levantar fervura, desligue o fogo. Adicione as pétalas e abafe por cinco a 10 minutos. Coe, adoce a gosto com mel ou pingue algumas gotas de limão. Sirva quentinho ou gelado
Beba e seja feliz!
(*) Gisele Bicalho é jornalista