
Dia dos namorados para se comemorar e refletir uma vida a dois - créditos: divulgação
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14-06-2025 às 09h09
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
No cotidiano, se percebem inúmeras relações amorosas instáveis e fugazes. O ser amado se performa enquanto um objeto descartável, por diversas vezes, já que a expectativa de um relacionamento supostamente perfeito se quebra com o tempo.
A maioria das pessoas deseja viver um amor idealizado, um conto de fadas. Quando em verdade, se apresentam desafios diversos. De outro lado, numa relação amorosa verdadeira, espera-se que se estabeleça confiança, cumplicidade, compromisso, propósitos e objetivos com alguma sintonia, entre os envolvidos.
Uma relação duradoura e sólida é o objetivo, mas as expectativas não se confirmam quando não há uma construção de bases sólidas, já que o amor não é algo a ser encontrado, mas construído.
É preciso se alinhar desejos e pretensões com possibilidades práticas. Sonho e idealização é uma coisa, outra bem diferente, é condição de possibilidade de efetivação. Relacionamento é algo trabalhoso, que envolve coragem, dedicação para lidar com diferenças, decepções e desalinhamentos de expectativas. Para se superar obstáculos numa relação afetiva é pressuposto diálogo franco e um despir-se de disfarces e ajustes constantes para agradar a outrem. Ninguém consegue manter máscaras por muito tempo.
O relacionamento não coloca indivíduos em uma zona de conforto, mas numa linha de negociações, aceitações, compatibilizações, conversas, ajustes e adequações. Não se compra o ser amado numa prateleira de supermercado, tampouco, se escolhe características deste com uma lista de predileções a ser suprida. Relacionar é aparar arestas e estabelecer convergências, sobrevivendo às divergências. Ninguém tem como obrigação completar outrem, porque todos já são completos. Não existe metade da laranja.
O primeiro ponto, talvez, para um possível sucesso de uma empreitada amorosa, seja uma negociação de expectativas e um desejo mútuo, uma inclinação para dar certo, ou seja, uma disposição para se relacionar por parte de cada um.
A incompletude é da vida, a precariedade inerente à existência humana, não dá para crer ou contar que alguém vá preencher as expectativas alheias. Ninguém faz o outro feliz, pois só o próprio indivíduo é capaz disto. O ser amado, na melhor das hipóteses, caminha lado a lado, porém, com a sua individualidade, desejos, sonhos, propósitos e angústias próprias. Numa relação afetiva como namoro ou casamento, um conta com o outro, se apoiam e ajudam na caminhada, não obstante, são seres com questões que os toca pessoalmente de modo diverso.
Seres humanos, nascem e morrem sós, ainda que tenham relações amorosas formadas por vínculos sólidos e até relacionamentos felizes. A linha de vida e morte, se faz com uma temporalidade específica para cada pessoa.
O amor tem muito de simbólico, idealização. A alegoria de um coração pulsante é abstração pura. Ousa sugerir a autora deste artigo, como um melhor símbolo do amor verdadeiro, a imagem de um “cérebro reluzente”, pois pessoas inteligentes, solares, bem-humoradas parecem ser mais suscetíveis de serem amadas. Porém, é importante se frisar, que as dimensões do amor se ancoram no real da vida prática que ultrapassa qualquer simbologia ou mera idealização. Pode-se amar, também, pelo contrário do que pareça óbvio ou desejável.
Amar e ser amado, implica na busca por prazer e aceitação. Portanto, idealizações são um perigo real. Intempéries são inevitáveis, já que o cotidiano é desafiador. A convivência muito próxima impossibilita a representação de papéis, falsear características e atitudes não se sustentam por muito tempo para quem vive sob o mesmo teto.
O bem-estar de um relacionamento implica em abandonar padrões repetitivos de excessivo ciúme, posse e desejo de controle do outro. Relacionamentos como todo o resto, sofrem desgastes. O ser humano envelhece, muda, assim é com as relações também. Aliás, o tempo pode ser um aliado e conceder aprendizados. O decurso de tempo nem sempre está contra, muitas vezes, é benéfico, concede amadurecimento e é um aliado para que aprendizados se consolidem e ensinem a viver de modo mais aperfeiçoado.
Algumas pessoas, pensam em se embelezar ou ficarem mais informadas para o outro, este é um pensamento equivocado. A métrica e escuta a que se deve suprir é somente a própria. Não se nasce com o propósito de agradar os outros, mas de se ser feliz mediante a própria história, conquistas e desdobramentos de vida.
Amar envolve também, quiçá, principalmente, um processo cognitivo. Admirar a inteligência do ser amado é agregador e estimulante. Já que para relacionamentos é fundamental a convivência.
Pergunte-se: O que um relacionamento representa em sua vida? O quanto está disposto a mudar? Lembre-se, mesmas atitudes conduzem aos mesmos resultados. A principal lua de mel, a que realmente importa, é consigo mesmo. Iniba possibilidades de abusividade, extirpe relações tóxicas. Tenha amor-próprio e seja protagonista de sua história.
Enfim, Dia dos Namorados, é data de celebração do amor. Amar a si próprio o torna, genuinamente, interessante. Só se oferece e compartilha, o que se tem. O principal amor da sua vida, é você mesmo. Um brinde ao enamorar-se! “Tim-Tim”!
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Residente Pós-Doutoral pela UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais (PPGD-UFMG). Autodidata na arte da vida e da pintura.