
Balada dos anos 80 - créditos: Visor
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Henrique German (*)
11-05-2025 às 10h10
Nos idos anos oitenta, para me referir a um período específico, havia, em Belo Horizonte, algumas casas de espetáculos e apresentações musicais nas quais as pessoas se reuniam, eminentemente, para dançar.
Normalmente, de quinta a domingo, era possível frequentar diversos estabelecimentos do gênero, em vários pontos diferentes da cidade e, neles, escolher o ritmo preferido para a noitada. Via de regra, tais lugares apresentavam cantores e grupos musicais consagrados na noite belo-horizontina, os quais tocavam — e cantavam — do bolero ao sertanejo, do forró ao brega. Ia-se, com facilidade, de Nelson Gonçalves e Orlando Silva a Demônios da Garoa e Adoniran Barbosa, de Lupicínio Rodrigues e Noel Rosa a Nelson do Cavaquinho e Cartola, passando por Reginaldo Rossi, Trio Parada Dura, Amado Batista, Odair José, Antônio Marcos, Joaquim e Manoel e Lourenço e Lourival, dentre outros. O som era curtido e saboreado às mesas, com cerveja, uísque e os mais atrevidos tira-gostos da noite de então.
A conversa fluía solta no salão, sempre respeitosa, embora malandra, no ritmo das músicas, da dança e, sobretudo, da paquera, que, afinal, era o grande tempero em todas as casas.
Destaco, com saudades, dentre tantos bons lugares e tão valorosos artistas da noite, o nosso sempre lembrado e celebrado Tony Rey, excelente intérprete e cantor — de fato, o rei da noite belo-horizontina — que desfilava, pelas ruas iluminadas da cidade, em sua limusine compridíssima, constituída de um Chevrolet Monza emendado em outras várias carcaças. Lembro-me, com especial carinho, de certa noite na qual Tony Rey cantou, com força e entusiasmo, a canção “Carcará”, fazendo delirar a plateia presente, na pista e nas mesas, todas lotadas.
Quanto aos lugares, menciono os dois de minha maior preferência, misto de gafieira, boate e casa de espetáculos: os extintos “Tulipão” e “Nova Camponesa”, ambos na avenida Brasil, um, no Funcionários, outro, em Santa Efigênia. Frequentei os dois, regularmente, por longo tempo, geralmente, às sextas e sábados.

Aos domingos, eu gostava de ir ao “Sindicato dos Bancários”, na rua Tamoios, no Centro, ou ao “Marissol”, na mesma rua, na calçada do então frequentadíssimo motel “Sunflower”, exatamente na esquina com a avenida Paraná. Essas noites de domingo, porém, são já uma outra história.
Ocorriam, nas casas noturnas referidas, coisas que só nelas se viam, como correio-elegante e noite da Maria Cebola. Em ambas as casas, ainda, existiam vendedoras de rosas, que circulavam, com os seus cestos de flores frescas, pela pista de dança ou às mesas, para que os cavalheiros pudessem presentear as damas de seu interesse e, obviamente, vice-versa. A oferta de uma flor, quase sempre, abria todas as portas, digamos assim, naquele âmbito social tão especial e peculiar.
Devo registrar, contudo, que o público habitual daqueles estabelecimentos era o mais velho, ou maduro, se preferir. Jovens, como eu era, na época, na casa dos vinte anos, constituíam-se em verdadeira raridade. Eu, de minha parte, gostando das músicas que tocavam, sentia-me bem e integrado ao ambiente, particularmente quando recebia, não raras vezes, bilhetinhos do correio-elegante, com ofertas como um lugar à certa mesa, uma taça de champanhe, uma dança — tudo, invariavelmente, acompanhado de manifestações alegres, simpáticas, elogiosas e carinhosas.
No mais, devo dizer que me divertia bastante, tendo conhecido mulheres interessantíssimas, sempre mais velhas que eu, com as quais tive oportunidade de trocar muitas rosas vermelhas.
No que diz respeito às impagáveis “noites da Maria Cebola”, posso revelar que dancei muito, com todas que me convidavam e, apesar de tanto haver praticado, jamais aprendi a dançar. Mas foi ótimo assim mesmo!
(*) Henrique German é escritor