
Um indicativo de sapiência do ser humano é saber ouvir e observar, estar atento aos sinais. CRÉDITOS: Reprodução
Getting your Trinity Audio player ready...
|
07-05-2025 às 09h10
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
O professor ministra aulas, ensina, mas para fazê-lo, tem de estudar antes, não dá para falar de algo que não se conheça. Desta feita, acima de tudo, o genuíno mestre é um pesquisador nato, que busca conhecer com maestria, produzir conhecimentos, estimular aprendizados. Se dedica a compartilhar o que aprende, a transmitir suas pesquisas. Almeja provocar interesse, fazer brotar a curiosidade pelo conhecer, instigar o aluno a indagar sobre o senso comum e as respostas prontas.
Do educador, espera-se que encoraje os alunos a terem dúvidas, a desenvolverem métodos de pesquisa, a filtrar, selecionar conteúdos, ordenar as informações de forma lógica, para que construam argumentos e interpretem as informações e o mundo.
O docente não simplesmente transmite conhecimento, ele faz pensar, leva o aluno para o campo da pesquisa, para um interessar-se por conhecer. Estimular, despertar interesse e curiosidade são as palavras de ordem.
Encorajar pensamento crítico em tempos de ódio, desinformação e fake news é desafiador. O professor precisa ser ousado, estimular a prática argumentativa e o desenvolvimento de uma consciência que questiona o “status quo”.
Desafiador é lidar com a quantidade exponencial de informações, conseguir filtrá-las diante de um cenário de grandes incertezas, instabilidades e provisoriedades. Enfim, tempos de mudanças bruscas e estruturais, de novas conformações.
Educar não se faz de um dia para o outro, é processo complexo, contínuo e de estímulo adequado, que se posterga no tempo e demanda respeito às competências e habilidades alheias.
Não basta ao professor, dominar o conteúdo que pretende dividir, pois deste espera-se que estimule os alunos a pesquisarem e realizarem as próprias conclusões de modo mediado.
Também, é tarefa desafiadora avaliar. Ninguém recebe bem críticas. Não obstante, é importante com trato gentil dizer: “sim” e “não”, pontuar aspectos a serem melhorados, afinal do professor espera-se que ministre conhecimentos aos alunos que sirvam para viverem de modo mais aperfeiçoado. Algumas pessoas se vendem de modo diverso do que são, se dizem “experts” em um conteúdo e de repente não conhecem nem o básico do assunto.
Aulas são fóruns de discussões e professores partícipes do processo de aprendizado. Um encontro de qualidade entre docentes e discentes permite que o conhecimento circule. Um ambiente de sala de aula hierárquico com professores falando e alunos apenas escutando, apequenam o processo. Aulas devem ser conduzidas pelos mestres, mas a participação do maior número possível de envolvidos, é elemento salutar para aprendizados qualificados e interessados. Ninguém se interessa pelo que não lhe toca a realidade.
Sobre o processo de aprendizado, especificamente, este requer critério, avaliação de qualidade, disposição e dedicação. O professor, enquanto ser humano dotado de falibilidades, às vezes, falha na percepção do aluno que não mostra o que é verdadeiramente ou o que conhece e desconhece de fato.
Cabe ao professor, não se entregar nas mãos dos alunos, ter afeto, mas não perder o olhar sobre a sua missão de conduzir os aprendizados, dizer sim, parabenizar, mas saber a hora de realizar uma crítica construtiva, reconduzir o aluno às luzes do conhecimento.
Quando o professor distingue entre quem apresenta algo e quem apenas engana, esta é uma circunstância de experiência e aprendizado, diante de sua missão. O saldo de um dia assim é positivo. Aprende o docente que sempre é tempo de investigar melhor o educando. A vida concede elementos para que na vivência cotidiana da arte da docência se aprenda com os sinais a ler melhor as circunstâncias e pessoas e, deste modo, vai-se acertando mais o tom.
Assim, como há professores e professores, há alunos e alunos, alguns nunca aceitam que erram ou que precisam se refinar. Um indicativo de sapiência do ser humano é saber ouvir e observar, estar atento aos sinais.
Alunos mais inteligentes, normalmente, são despojados diante do processo de aprendizagem, sabem que seres humanos são eternos aprendizes, incompletos e inconclusos, diante da complexidade da vida e da multiplicação de aprendizados possíveis e disponíveis. A arrogância é o que mais desanima.
Saber é poder, meio de inclusão e libertação, que permite e promove novas maneiras para que o indivíduo lide com a realidade e a vida.
Enfim, a criatividade e o estudo detido devem ser estimulados, pois só quem tem uma sofisticação intelectual é capaz de lidar com os desafios do tempo presente, com os problemas atuais e propor-lhe soluções outras das já esgarçadas. É necessário se criar uma inteligência viva, ousada, no sentido de pensar para além do proposto. É fundamental conhecer a realidade, relacionar conteúdos, aplicar teorias à prática, reinventar as soluções aos problemas vigentes, reconectar saberes, revisitar as premissas, propor novos acordos e arranjos, soluções outras. Deve o mestre amar o que faz, ter fé no processo de ensino, refazer-se continuamente, pois o resto é contingencial.
* Daniela Rodrigues Machado Vilela é doutora, mestra e especialista em Direito pela UFMG.
Residente Pós-doutoral pela UFMG / FAPEMIG. Professora convidada no PPGD-UFMG.
Diletante na arte da pintura e da vida.