
Depois que a China reduziu as compras dos Estados Unidos, navios com soja brasileira apareceram um atrás o outro. CRÉDITOS: Reprodução
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02-05-2025 às 09h09
Direto da Redação*
O influente Yuyuan Tan Tian, ligado à emissora estatal chinesa CCTV, divulgou nesta segunda-feira (28/4) um vídeo que mostra vários navios descarregando soja no porto de Ningbo-Zhoushan, próximo a Hangzhou e Xangai.
Após reduzir as compras de soja dos Estados Unidos, a China tem intensificado as importações do Brasil. “Depois que a China reduziu as compras dos Estados Unidos, navios com soja brasileira apareceram um atrás do outro”, destacou um canal da plataforma Weibo.
Somente em abril, 40 embarcações brasileiras atracaram no terminal portuário chinês, um aumento de 48% em comparação às 27 registradas no mesmo mês de 2024. No total, estão sendo desembarcadas cerca de 700 mil toneladas de soja brasileira, volume 32% superior às 530 mil toneladas do ano passado.
Esse crescimento acontece em paralelo à recente inauguração do terminal da trader chinesa Cofco no porto de Santos — o maior da empresa no Brasil, com foco na exportação de soja.
Horas após a divulgação do vídeo com imagens do porto de Ningbo-Zhoushan, um dos principais pontos de entrada da soja na China, Zhao Chenxin, vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma — órgão máximo de planejamento econômico do país — afirmou que a China pode prescindir dos produtos agrícolas dos EUA, graças à diversificação de fornecedores e ao fortalecimento da produção interna.
O contraste com os portos americanos tem chamado atenção. Enquanto a movimentação na China aumenta, imagens recentes dos portos de Seattle e Los Angeles, nos Estados Unidos, mostram queda no fluxo de cargas. Segundo a imprensa local, o cenário reflete o impacto das tarifas impostas por Washington sobre produtos manufaturados chineses, que têm dificultado as importações e afetado a logística desses portos.
A tendência de independência em relação aos produtos agrícolas americanos não é recente. Desde 2016, Pequim vem reduzindo a participação dos EUA no total de importações de soja, que caiu de 40% naquele ano para apenas 18% em 2024.
Perda da China seria duro golpe para exportadores dos EUA, enquanto Ásia reforça laços com América do Sul
A possível perda do mercado chinês representa um impacto significativo para os produtores agrícolas dos Estados Unidos, que exportaram cerca de US$ 33 bilhões (R$ 187 bilhões) em produtos do setor para a China em 2023. Além disso, o país norte-americano enviou aproximadamente US$ 15 bilhões (R$ 85 bilhões) em petróleo, gás natural e carvão para o território chinês no mesmo período.
Em artigo recente, Yin Ruifeng — ligado ao Ministério da Agricultura da China — apontou que as importações de grãos da América do Sul, especialmente do Brasil, Argentina e Uruguai, podem ultrapassar 30 milhões de toneladas entre abril e o fim de junho. De acordo com estimativas da Bloomberg, esse volume configuraria um recorde trimestral.
Durante entrevista coletiva, Zhao Chenxin, vice-diretor da Comissão Nacional de Desenvolvimento e Reforma da China, reafirmou a confiança do país em sua trajetória econômica. “Não importa como a situação internacional evolua, manteremos o foco em nossos objetivos de desenvolvimento e nos concentramos em administrar bem nossos próprios assuntos. Estamos totalmente confiantes em alcançar as metas deste ano”, declarou.
A fala faz referência à meta de crescimento do PIB chinês para 2025, estimada em cerca de 5%. No entanto, analistas financeiros ocidentais têm expressado dúvidas quanto à viabilidade desse número, especialmente após o aumento das tensões comerciais e tarifárias entre Pequim e Washington no início de abril.