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01-05-2025 às 09h00
Rita Prates*
Ela chegou brilhando com o seu sorriso largo cheio de alegria. Sempre bem humorada alegrava a todos a sua volta e para finalizar, vestia um macacão vermelho cobrindo-a de jovialidade.
Maria é espontânea. Quando fala todos se voltam para escutá-la, e assim foi na noite de encontro de amigas, onde procurei saber a fundo sobre a sua vida.
A história de Maria começa de forma inusitada. Tocaram a campainha da casa de Maria. Ela, ao abriu a porta se deparou com um jovem que se identificou e, sem mais nem menos, a pediu em casamento.
– Foi isso mesmo, ele apareceu em minha casa e me pediu em casamento. Falou que me via na rua e se apaixonou por mim. Sabia que eu tinha um namorado há dois anos, mas era com ele que eu deveria me casar.
Ele era um jovem que transmitia segurança e estava determinado a ser o meu marido. Falou que ia me fazer feliz, pois era um homem de palavra, e que eu não iria me arrepender de ficar com ele.
-Tudo foi tão rápido, que em três meses noivamos e seis meses depois casamos. Carlos era sargento, e até ser promovido a tenente passamos muitos perrengues por falta de dinheiro. Quando completamos dois anos de casados Carlos me propôs termos logo filhos, para sermos avós ainda jovens. Aos vinte e seis anos eu já tinha três filhos; de cinco, três e dois anos.
– O que a fez acreditar em um estranho, perguntei-lhe. Ela falou que foi a forma madura e decidida dele, inspirou confiança, se encantou e depois se apaixonou pelo jovem dono de si.
A mãe de Maria era católica, ela espírita e ele evangélico. Com o tempo ela foi participando dos cultos com o marido, e passou a se dedicar as causas sociais da igreja.
A vida do casal se transformou, quando encheram a carroceria da camioneta com doações de roupas e cestas básicas e levaram para a cidade de Carlos no interior do estado.
No caminho uma mulher pediu carona, ao pararem viram que ela carregava várias sacolas. Ela contou que ia levar alimentos para uma creche próxima a cidade. Ao chegarem à creche, Carlos desceu do carro e foi entregar junto com a mulher as sacolas pesadas. Maria ficou esperando no carro e nada do marido voltar.
Passado muito tempo ao sol, Maria nervosa com o atraso entrou na creche para chamar o marido. Ao abrirem a porta da creche deparou-se com várias crianças carentes. No fundo do pátio havia uma menininha negra grudada no pescoço de Carlos. Ela não o largava, ela o prendia em seus braços, como se agarrasse uma boia salva vidas.
Emocionada com a cena, Maria e Carlos tomaram uma decisão, adotariam a menininha. A freira falou que ela tinha uma irmã gêmea, e que seria adotada por um casal de estrangeiros. De imediato se inscreveram para serem pais adotivos das crianças, não seria justo separar as duas irmãs.
Não falaram nada para a família enquanto corria a papelada. Uma tarde, Maria recebe um telefonema da creche comunicando que as meninas tinham um irmão de cinco anos. Maria chamou o marido aos gritos e contou sobre o irmão das meninas.
– Vamos adotar também o menino, não é justo deixá-lo só, sem as irmãs.
No dia da audiência o juiz ficou intrigado com a adoção de três crianças por um casal jovem, ela com vinte seis anos e o marido com vinte oito anos.
Ele queria explicações de como podiam aumentar a família de três para seis filhos e os sustentarem. Convenceram o juiz ao alegarem que, onde come três come seis. Como militar, ele tinha plano de saúde e escola para todos.
Quando foram buscar as crianças ficaram chocados com a cena que presenciaram. A responsável pela creche trouxe os meninos e os apresentou como irmãos. Falou para as meninas que elas eram gêmeas e que o garoto também era irmão.
Pasmem, as crianças viveram anos na creche sem saberem que tinham a mesma mãe.
Ao chegarem em casa já era noite e todos estavam dormindo. Deram de comer aos recém chegados e os colocaram no quarto das crianças.
Quando os filhos despertaram, ficaram surpresos ao verem os meninos deitados com eles, correram para a mãe e perguntaram quem eram aquelas crianças. Ela falou que a família aumentou, e de agora em diante eles eram os seus irmãos; um de dois anos, três de três anos e dois de cinco anos.
Maria ensinou para as crianças que quando perguntassem quem eram os três, tinham que darem as mãos e falarem: somos irmãos. Durante anos repetiram o mesmo refrão: somos irmãos.
Todos foram criados com as mesmas regras rígidas de respeito e obrigações. Os seis irmãos brigavam entre eles como em qualquer família.
Maria ensinou-os a se defenderem de comentários insensatos que atingisse a dignidade de qualquer um deles.
Maria recordou de um caso envolvendo duas irmãs. A irmã mais clara estava passando mal e a irmã morena a levou ao hospital onde trabalhava. Ao preencher a ficha, a atendente olhou para a mais clara e perguntou se eram realmente irmãs, devido aos sobrenomes iguais.
– Sim, somos irmãs, falou a mais clara e que completou; a mãe dela me adotou quando eu era pequena. Sorriu e olhou para a irmã com olhar de amor e cumplicidade.
Quando os meninos completaram dezoito anos, os pais deram a cada um dos filhos adotivos a certidão de nascimento original e a certidão de um novo renascimento cujos pais eram eles.
Há um mês, uma das irmãs gêmea foi levada ao altar pelo pai orgulhoso em casar o último filho da prole.
Maria me mostrou radiante as fotos da família, do casamento da filha gêmea, de um filho com os dois netos, das comemorações onde sorrisos se misturavam. Agora todos estão casados, diz aliviada e mostra outra foto tirada no dia anterior, nela as quatro filhas conversam pelo celular, printaram o encontro entre sorrisos e mandaram no grupo de filhos do WatsApp.
Novos planos surgiram para a família. A irmã mais velha mora no Canadá. Certa de que naquele país os irmãos teriam melhores oportunidades, convenceu dois deles a seguirem para a terra prometida, onde teriam mais possibilidades de ganhos e segurança. Os outros irmãos seguirão quando os filhos estiverem na idade escolar.
Os pais vendo os filhos alçarem voo, resolveram também voarem na mesma direção. Partiriam para um novo desafio; ele foi fazer mestrado e ela arrebanhar novos membros para sua célula religiosa.
Maria me mostra a casa e o carro grande que caberá os netos. Afirma que a casa no estrangeiro é enorme o suficiente para acolher todos da família, até que criem asas e voem por conta própria. Finaliza, ao dizer orgulhosa, que os filhos desejam aumentar a família através de adoção.
Me encantou esse caso de Maria e Carlos tão jovens e determinados, que através do amor formaram uma grande e bonita família.
* Rita Prates é escritora, mestre em Administração, professora de graduação e de pós-graduação em Gestão e possui grande vivência em consultoria na área de Gestão Empresarial.