
Diacomo Casa Nova, considerado o maior sedutor de todos o tempos - créditos: Facebook
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20-04-2025 `08h18
Paulo Roberto Cortella (*)
Sempre se lê com prazer e muita alegria obras de aventureiros e conquistadores. Hoje, tenho na casa do meu pai, o homem que lê Machado de Assis há mais de 70 anos, a obra de Marco Polo.
Lá está também uma das traduções de partes das Memórias de Casanova. Há uma edição completa das memórias, em cinco volumes, editada em 1947, pela Livraria José Olympio Editora. Tenho o último volume da biblioteca de pai.
De Casanova tenho três traduções. Ao longo do tempo, de décadas, viajando por cidades e países, entre sebos e livrarias, procuro em todas as estantes, a que tenho acesso, os cinco volumes das Memórias de Giacomo Casanova, considerado o maior sedutor de todos os tempos.
As traduções portuguesas, sempre editadas em pequenos volumes, centrados em relatos de episódios mais conhecidos e picantes. Às vezes, me interrogo, se as traduções ainda são, realmente, de textos de Giacomo Casanova.
Assim, li Sade e Bocage.
Ontem, na rodoviária de Belo Horizonte, onde cheguei duas horas e meia antes da partida do ônibus para Governador Valadares, passei nas três livrarias. Buscava um livro de bolso. A mochila já estava pesada.
Um livro para ler naquele tempo de espera.
De cara, bato os olhos em O Duelo, de Giacomo Casanova, edição da L&PM Pocket. Edição bem feita. Descobri na primeira folheada o que era precário naquela edição. O prefácio, introdução, o que seja, sem o nome do autor. A ilustração, reprodução da obra de J.S. Chardin, Le Château de Cartes. O ilustrador parte, com certeza do princípio de que escrever cartas é um jogo de baralho. De cartas, Casanova, segundo relata em O Duelo, página 49, jogava o 21.
O livro custou dois dólares e pouco. Caro para um livro de bolso, 122 páginas, papel pior do que o A4.
Surpresa e alegria, este relato, que está no quinto volume da edição da José Olympio, é a confirmação de que em um pequeno volume pode-se construir a literatura oceano de que fala Henry Miller.
Na leitura, que pretendia fazer naquelas duas horas, ficou claro que voltaria mais vezes nas Memórias.
Senti, mais uma vez, a sensação que tive ao ler Eça de Queiroz, em Os Maias, e Hemingway, de O Velho e o Mar. É o temor de acabar a leitura. Existem obras que se deve ler devagar, ir e voltar em trechos, capítulos, explorar a criatividade e a argúcia do estilo.
Com O Duelo, avancei 40 páginas, voltei à primeira, reli até mesmo o prefácio. Tudo de Casanova deve-se ler com cuidado e calma.
Nada de pressa.
Os velhos e os novos Casanova, as pesquisas, filmes etc. e análise dos costumes do século XVIII revelam uma constante na sociedade, assim como os que reescrevem e os que o vivem, agora no século XX, desde Apollinaire, Henry Miller, Bukowski. Ou serão, de fato, os verdadeiros Casanova, abstraindo épocas e costumes em novos e radicais costumes, que entram de chofre nos “tempos modernos”. O novo Engels sairá da “Origem da Família…” para a “Nova sociedade sem família” ou a “Estrutura da Família do Futuro”, que já dá sinais agora, onde, mais uma vez, o matriarcado, com nova face, se impõe a consolidar a perspectiva de um tempo de paz.
(*) Paulo Roberto Cortella é escritor