
Manutenção preditiva é uma das formas mais eficazes de garantir desempenho, segurança e economia. CRÉDITOS: Reprodução
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16-04-2025 às 09h30
Lucas Evangelista*
Quando vemos uma escavadeira ou um caminhão gigantesco trabalhando em uma mina ou até mesmo em uma construção, é comum imaginar que eles são quase indestrutíveis. Afinal, são feitos para aguentar peso, barro, pedra e todo tipo de desafio, certo?
A verdade é que, por mais robustas que essas máquinas sejam, elas exigem cuidado constante e muito “carinho técnico”. E sabe por quê? Porque quanto maior a força, maior também o desgaste!
Para facilitar a comparação, pense no seu próprio carro. Se você não troca o óleo, não calibra os pneus e não faz revisões, ele pode até funcionar por um tempo, mas logo começa a apresentar problemas. Agora imagine isso em uma máquina que pesa mais de 70 toneladas e trabalha 22 horas por dia, muitas vezes em temperaturas extremas e terrenos hostis.
Pequenas falhas viram grandes problemas
Componentes como motores, sistemas hidráulicos, transmissões e freios trabalham sob pressão constante. Um simples vazamento de óleo, se ignorado, pode causar uma falha em cadeia e parar a operação inteira. E quando uma máquina para, não é só ela que fica parada, muitas vezes, toda a produção é impactada.
Além disso, peças como mangueiras, buchas, filtros e rolamentos têm vida útil limitada. Deixar de trocar um item desses na hora certa pode comprometer toda uma estrutura. É como não tratar uma dor de dente e acabar precisando de um canal — ou pior, perder o dente.
A manutenção é o check-up da máquina
Na engenharia de manutenção, usamos uma combinação de conhecimento técnico e ferramentas de monitoramento. Fazemos inspeções regulares, aplicamos sensores que “ouvem” a máquina, usamos softwares que analisam dados em tempo real, e também fazemos a análise de fluidos — o famoso “exame de sangue” da máquina.
Esse cuidado nos permite tomar decisões mais inteligentes: podemos, por exemplo, trocar uma peça no momento exato em que ela começa a dar sinais de desgaste, evitando que a falha aconteça. Isso se chama manutenção preditiva — uma das formas mais eficazes de garantir desempenho, segurança e economia.
Mais do que técnica: é preciso sensibilidade
Quem trabalha com máquinas há algum tempo sabe que, mais do que entender a ficha técnica, é preciso sentir o equipamento. Um operador atento percebe na vibração, no som ou no comportamento da máquina que algo não está bem — mesmo antes de qualquer alarme aparecer no painel.
Essa sensibilidade, construída com experiência, é tão valiosa quanto qualquer sensor de última geração. E é por isso que o cuidado com grandes máquinas não ésó uma questão técnica: é também uma questão de cultura. Envolve disciplina, responsabilidade e, principalmente, respeito.
Respeito pelo equipamento, pelas pessoas que dependem dele, e pelo resultado de toda uma operação que começa — muitas vezes — no simples ato de observar um detalhe fora do lugar.
A tecnologia evoluiu, os equipamentos estão cada vez mais inteligentes, mas nada substitui o olhar humano.
O conhecimento técnico é essencial, claro, mas ele ganha valor real quando é aplicado com sensibilidade, comprometimento e uma boa dose de atenção genuína.
E é justamente aí que mora a diferença entre apenas “fazer manutenção” e realmente cuidar da máquina.
* Lucas Evangelista é Engenheiro Mecânico, Técnico em Mecânica Industrial e Mecânico de Usinagem. Especialista em análise de falhas, análise de fluidos, suporte ao produto e otimização de custos operacionais.
Atua no setor de Construção/Mineração na SOTREQ -MG.