
Anos oitenta e jovens sem noção em suas máquinas possantes - créditos: divulgação
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13-04-2025 às 08h28
Henrique German (*)
No início dos anos oitenta, como, de resto, antes disso, não era incomum que os pais dessem aos filhos menores motocicletas as mais variadas, normalmente, entre cento e vinte e cinco e quatrocentas cilindradas, dependendo do bolso do freguês.
Tive vários amigos e conhecidos que se enquadraram na situação acima descrita, sendo certo, também, que alguns deles se foram, muito cedo, deste mundo, exatamente cavalgando os indomáveis cavalos de aço. Para ser justo, ressalto que indomáveis não eram, propriamente, as motocicletas, e sim os jovens pilotos.
De fato, somente entre 1981 e 1986, em cerca de cinco anos ou quase, perdi nada menos que quatro amigos, cujas idades variavam entre quatorze e dezoito anos. Uma lástima!
As famílias dos quatro, todas minhas conhecidas, viram-se duplamente abaladas, ou destruídas, se preferir, primeiramente, pela mais óbvia das razões, qual seja, a perda dos filhos amados e, em segundo lugar, por causa da culpa, uma vez que asmotos eram presentes dos pais, dados após, naturalmente, grande insistência por parte dos que morreriam sobre elas, logo em seguida.
Realmente, naqueles tempos, os meninos e suas máquinas voavam, não raras vezes, em disputas de velocidade, fazendo os conhecidos pegas e rachas, nas madrugadas desertas de Belo Horizonte, notabilizando-se, como famosos pontos de encontro, para tal fim, dentre outros, a BR-356, continuando na avenida Nossa Senhora do Carmo, passando pela curva do Ponteio, a avenida Raja Gabaglia, em toda a extensão, a esplanada do Mineirão e suas vastas adjacências e, ainda, as famigeradas seis pistas, no bairro Belvedere, então quase só um monte de mato.
Não falarei os nomes dos quatro mortos, porém cada um deles morreu em um lugar distinto: um, bem na curva do Ponteio, fechadíssima, difícil de completar em alta velocidade, outro, na avenida Raja Gabaglia, também em uma curva, na qual havia uma grande árvore, o terceiro, no Mineirão, após um choque com outro corredor, e o quarto, no Belvedere, de dia, em uma tarde de domingo, durante um pega de motos que bateram contra um carro de passeio. Uma tragédia pior que a outra, cada acidente mais grave que o outro, os garotos moídos, mortos no local, sem chance alguma.
Outros meninos morreram nas suas motos, fora de rachas, porém em acidentes comuns, digamos assim. Lembro-me de um que se foi sobre o seu grande amor, a sua Honda CB 400, metálica, que foi contra um poste, na avenida Agulhas Negras. Sempre a mesma tristeza, os mesmos velórios arrasadores. Eu, de minha parte, jamais quis uma moto, sequer aprendi a pilotar. Graças a Deus, escapei de morrer tão moço, de modo tão estúpido, contudo, não escapei de ver muitas corridas, algumas das quais, fatais.
(*) Henrique German é escritor