
O garimpeiro e sua bateia - créditos: artista plástico Laucides Inácio de Oliveira
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06-04-2025 às 08h38
José Altino Machado (*)
Rondônia – 1970. Início de uma das maiores caminhadas rumo a conquistas, mudanças em vidas, trabalhos e realizações de amplitudes nacionais e até estendidas ao exterior.
Ao Brasil, governo por imposição militar e na presidência gauchão de Bagé. Não menciono como ditadura pela existência de um Congresso que funcionava a pleno vapor com direito a oposição barulhenta, bastante vitoriosa nas bases nos pleitos municipais acontecidos então. Mais tarde revertida, pelos militares, ao providenciarem soldos a vereadores, dando início ao maior partido político do ocidente.
Essa história, é outra a ser recontada. Não agora, não hoje.
Na Amazônia, em construção a estrada Manaus – Porto Velho, no território federal de Rondônia. Trabalhando em sua construção uma empresa paulista de obras rodoviárias, na maior dificuldade, simplesmente concordatária.
Egresso de Minas Gerais e estando a trabalho naquela mesma região, um ambicioso engenheiro de Minas, com cobiça e ampla visão das grandes e boas fortunas minerais. Uma formidável mistura para incrível receita de apropriação a bens alheios.
Aquele território praticamente abastecia o Brasil e o fazia autossuficiente na produção de estanho com a extração de seu minério básico, chamado cassiterita.
Neste trabalho se encontravam milhares e milhares de homens reconhecidos e protegidos pelo Código Brasileiro de Mineração vigente, como garimpeiros.
Em espantoso conluio, motivado pelas preciosas informações do engenheiro de Minas, e sendo o proprietário da endividada empresa que jamais minerara, amigo íntimo do então Ministro de Minas Energia, nem foi tão difícil ser obtido daquele órgão a publicação de uma portaria reguladora de número 165/70 que incrivelmente proibia aquele minério ou como queira aquela riqueza de ser explorada via extração garimpeira.
Isto de imediato a partir de sua publicação.
Milhares desempregados nas ruas, nas estradas, tendo ocorrido até brutal acidente com um caminhão caçamba que transportava a alguns, tal qual animais, tendo perecido muitos deles. Evento desaparecido em registros da ocasião.
E o Brasil por alguns anos tornou-se importador de estanho.
Mais notável ainda, foi a disponibilização pela outrora grande parceira dos povos da Amazônia, a Força Aérea Brasileira, FAB, de seus aviões para serem usados em um dos maiores espianto (1) de nacionais brasileiros, dentro de nosso país. Hoje, acredito, que com seus velhos aviões, fariam inveja a Trump, com seus jatos de deportados.

Créditos: Repórter Brasil
Levas de homens desembarcaram no Vale do Tapajós, ampliando o enorme ciclo já existente, do ouro naquele Vale. Não cabendo mais ninguém por lá, a Força Aérea mirou seus destinos, rumo ao território federal de Roraima, talvez motivada pelo grande vazio demográfico e na época entregue à sua administração.
Aconteceu a eles, mandantes do que imaginavam ser malfadada intervenção às vítimas, posteriormente, serem obrigados a reconhecer talentos e valores daqueles homens.
O Tapajós, explodiu com riquezas, abrigando inclusive um dos mais movimentados aeródromos do mundo, permitindo ser possível dar trabalho a uma frota de mais de 600 aviões a cobrirem a necessária demanda.
Uma maravilhosa somatória de quem muito sabia trabalhar a outros audazes que também muito sabiam voar. Podendo hoje se dizer, embora a aeronáutica não reconheça, que tais pilotos de garimpo, sejam os mais voados e mais competentes no país de Santos Dumont.
Registre-se, o mundo sul-americano foi geográfica e economicamente bastante ampliado, pela e após a nefasta operação em Rondônia.
Quanto àqueles enviados ao longínquo rincão roraimense, a história além de espetacular, foi brilhante. Afinal, aqueles homens transportados a força, não eram bem de habitar ruas como hoje o fazem os deserdados e ignorados pelos governos democráticos.
Ganhando liberdade, ao descerem dos aviões, mesmo sabedores que como eles, de que quem faz carreira no mato é veado e quem gosta é onça, para as brenhas das selvas logo se dirigiram, iniciando a mais valorosa e digna epopeia nesse mundão brasileiro, apesar de dominado por “intelectuais”.
Muitos deles, cruzando fronteira, seguiram Venezuela adentro. Sendo responsáveis, pelas grandes descobertas minerais daquele país, cujos olhos de eurasianos ambiciosos, eram tão somente para as profundezas do golfo na retirada do lucrativo petróleo.
Eles foram responsáveis pelas riquezas de Tumeremo, Ell Callao, Carabobo, Rio Caroni, Ikabarú, 88 e tantas outras criando uma base à economia popular o que tornou o país, possível de ser reconquistada pelos descendentes dos povos ocupantes originais, 76% da população, erroneamente denominados índios, mas…
Ajudando ao abastecimento e sustento básico, proporcionaram também àquele povo a capacidade de resistir ao vingativo bloqueio econômico norte americano, que deseja de volta a famélica parceria que mantinha com os descendentes dos conquistadores.
Toda essa bonita história, foi homenageada por aqueles que ficaram em Roraima com um maravilhoso monumento na praça central da capital daquele hoje estado. Por isso, apesar de muitos ignorarem, aquela escultura representa um marco granítico do heroísmo de homens que, egressos de uma tragedia, foram de grande importância para ao país vizinho.
Em tempos recentes, a imbecilidade e ignorância de algumas falsas lideranças indígenas, “catequizadas” por padres estrangeiros de uma ordem italiana extremamente politizada, andou até dizer que deveriam destrui-la.
Aqui, os de sentimentos mais abrasileirados, obtiveram sucesso nem tão menor daqueles que se foram. Mostraram ao mundo uma das regiões geologicamente mais ricas do planeta. E, como devastadora ironia, as maiores minas de estanho existentes em todo o mundo. Este mencionado estanho que à época diziam acabar em trinta anos, tornou-se mais longevo.
A grande diferença é que no país vizinho houve o entendimento que eram homens necessários, pelos talentos e conhecimentos, somadas a capacidade de trabalho, de extrema utilidade ao Estado. Jamais foram perseguidos, achacados ou espoliados por aquele governo, que mantem todo o controle preservando o olhar de justiça.
Aqui, em nosso Brasil de bandeirantes, agora sem militares, mas administrado pela ignorância, falta de cultura e entendimento do que sejam diferentes seres humanos, a discórdia entre governo e sociedade amazônica continua instalada.
Mesmo tendo sido enviados por governos anteriores, agora governantes atuais vão atrás para persegui-los, os retirando apenas do trabalho e das fontes de sustento. Estou desconfiado que o atual governo gostaria de mandá-los aos quintos dos infernos, só que…
Tudo se repete. Esses espiantados garimpeiros de hoje, de Roraima e Tapajós, se tornaram responsáveis pela economia popular interiorana da Guiana, com nove mil cadastrados oficialmente, do Suriname, onze mil cadastrados, e de um estado francês, a Guiana. Por sinal, nesta última, o garotão presidente francês, tão amado pelo nosso, tendo se desentendido com nosso presidente anterior, praticamente ordenou que de lá fossem retirados. O que resultou em um episódio diferente: administradores e povo daquele departamento francês apenas disseram:
“Aqui não, precisamos deles”.
Essas histórias ninguém conta. Executivos de governo com viseiras da ignorância, ignorando a força da tenacidade desses homens, permitem ao Brasil perder o maior exército trabalhador autônomo existente nas Américas. O próprio partido dito como dos trabalhadores, envia os melhores exemplos do trabalho que poderiam ter, para onde hoje estão. Empregando aqui aqueles que apenas se denominam como tais.
Venezuela, Guiana, Suriname, Peru, Guiana Francesa e incrivelmente agora até no Paraguai, que agradecidos os tem recebidos e os mantendo protegidos.
Em Roraima, a luta entre o reinado de Brasília e estes garimpeiros egressos de antepassados dos tempos da coroa portuguesa, continua. Porém, eles são uma realidade. E a questão indígena avocada ao problema, é apenas uma narrativa construída por muitos que apenas amealham riquezas para junto a notoriedades imaginarem a vida como um sonho.
Enquanto isso, inovando, não só desassistidos tem morrido, como muitos, sendo mortos por projéteis governamentais, algo que os ditos “tiranos” militares, jamais ousaram.
Mesmo com este exemplar histórico, gostaria que nada disso fosse verdade…
Responsabilidades exigidas, deveriam retirar as viseiras daqueles que acreditam ser a Nação uma grande carroça. E tão somente deles próprios, produzida e puxada…
Belo Horizonte/Macapá, 06/04/2025
José Altino Machado é jornalista
Notas:
1. Espianto, da palavra italiana “espiantare”, ou seja, arrancar pelas raízes.
2. Rondonienses também estiveram em rios de Muriaé-MG, porém tendo dominado os cabarés do lugar, “coronéis” contrariados, pediram socorro aos órgãos ambientais, que os tangeram de volta.