
Governar a tecnologia é, em última instância, governar o futuro da humanidade. CRÉDITOS: Freepik
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26-03-2025 às 10h13
Marina Madeira*
A Quinta Revolução Industrial já está reconfigurando o mercado de trabalho — a questão é se vamos ser substituídos ou reinventados.
Vivemos um ponto de inflexão histórica. A inteligência artificial (IA) não é apenas mais uma inovação tecnológica — é o epicentro de uma nova era: a Quinta Revolução Industrial. Diferente das anteriores, essa revolução não se limita à automação ou ao aumento da produtividade. Ela nos convida (ou obriga) a repensar o que significa ser humano em um mundo digitalmente expandido.
Estamos diante de uma convergência de tecnologias — IA, robótica avançada, biotecnologia, neurociência e sistemas ciberfísicos — que não apenas transformam indústrias, mas redefinem o papel do ser humano no centro da inovação.
A IA já ultrapassou as fronteiras do trabalho manual e entrou nas tarefas cognitivas. Hoje, algoritmos de IA redigem textos, analisam dados, respondem a clientes, criam músicas, traduzem idiomas e auxiliam diagnósticos médicos. Máquinas assumem funções antes humanas — manuais e analíticas — alterando profundamente as estruturas sociais, os modelos de negócio, os sistemas educacionais e as formas de trabalho.
A cada revolução industrial, surge a mesma inquietação legítima: vamos perder nossos empregos para as máquinas? Historicamente, a resposta sempre foi sim… e não.
Durante a Primeira Revolução Industrial, a introdução das máquinas a vapor substituiu inúmeros trabalhadores braçais, mas também criou novos setores, funções e especialidades. O mesmo aconteceu com a eletricidade, com os computadores e, agora, com a inteligência artificial. A tecnologia elimina, sim, empregos, mas também cria novas economias, novas habilidades e novos modelos de trabalho — antes impensáveis.
Antes do YouTube, não havia youtuber.
Antes do TikTok, não existia tiktoker.
Antes do Instagram, ninguém falava em influenciador digital.
Antes dos algoritmos de recomendação, ninguém imaginava viver como criador de conteúdo em tempo integral.
Essas profissões não surgiram apesar da tecnologia — surgiram por causa dela.
O que isso nos ensina? Que o futuro do trabalho será moldado não apenas por tecnologias disruptivas, mas por nossa capacidade de adaptação, educação continuada e governança responsável.
Hoje, profissionais que treinam, auditam e supervisionam sistemas de IA são cada vez mais demandados. Existem profissões que sequer eram cogitadas há uma década: desenvolvedor de IA, engenheiro de prompt, moderador de conteúdo, analista de dados, criador de conteúdo digital. A transição para esse novo mundo exige preparo, mas também oferece uma chance de redefinir o valor do trabalho humano.
A chave está em como preparar pessoas para essa transição e para esses novos papéis. Isso envolve formação técnica, mas também senso crítico e ético. Trata-se de um desafio ao mercado de trabalho tradicional, que pressiona governos, empresas e sociedade a pensarem formas de transição laboral justas e sustentáveis.
A Quinta Revolução Industrial não é uma previsão distante: é o momento presente. E cabe a nós decidir que tipo de futuro queremos construir — um em que a tecnologia esteja a serviço do ser humano, ou o contrário.
A inteligência artificial pode aprofundar desigualdades — ou reduzi-las. Pode concentrar poder — ou democratizá-lo. Tudo depende das escolhas que fazemos agora. A governança da tecnologia não é apenas um campo técnico: é um projeto de futuro.
Governar a tecnologia é, em última instância, governar o futuro da humanidade.
Trata-se de decidir se vamos usar a inteligência artificial para ampliar oportunidades, democratizar o acesso ao conhecimento e promover bem-estar — ou se vamos repetir velhas assimetrias com novas ferramentas.
Estamos diante de uma era em que a inteligência artificial será parte do cotidiano, como a eletricidade ou a internet. Mas a direção que essa revolução tomará depende das escolhas que fizermos agora. Precisamos de regulações claras, educação adaptada ao novo cenário e lideranças comprometidas com o uso responsável da tecnologia.
A Quinta Revolução Industrial não é um futuro a ser temido, mas um presente a ser governado. E a inteligência artificial, com todos os seus riscos e possibilidades, é a principal chave dessa transformação.
Vamos perder nossos empregos para as novas tecnologias? Meu palpite seria: não perderemos nossos empregos para as tecnologias, mas perderemos para alguém que sabe operá-las.
* Marina Madeira – Cientista do Estado e Advogada especialista em Compliance e Governança de Inteligência Artificial