
Professor Thales Ramalho, deputado federal por cinco mantados, um dos artífices da reabertura política brasileira ao lado de Tancredo Neves - créditos: Arquivo pessoal
Getting your Trinity Audio player ready...
|
20-03-2025 às 14h14
Alberto Sena*
Como repórter que sempre fui, desde aos 17 anos de idade, teria sido para mim uma oportunidade de fazer uma bela e histórica reportagem, se, aos 36 anos de idade, pudesse ter participado do casamento de Ana Clara, a filha única do deputado Thales Ramalho (MDB), pernambucano, um dos mais importantes artífices da redemocratização do Brasil, a partir do antes, do durante e depois da eleição de Tancredo Neves presidente, eleito pelo Colégio Eleitoral.
Recordo-me do casamento de Ana Clara porque foi marcante e os mineiros, principalmente, mas os brasileiros de modo geral ficaram chocados com o que se deu depois. Naquele dia do casamento de Ana Clara, tendo como convidado especial, Tancredo Neves, já eleito. Ele compareceu porque era o casamento da filha única do seu amigo e correligionário, a quem muito devia, porque ali ele já sentia as consequências do que o levou ao hospital para uma cirurgia e o final todos nós sabemos, Tancredo morreu e José Sarney, seu vice assumiu a Presidência da República e promoveu a redemocratização do País.
A atitude de Ana Clara, ao concretizar o que em vida era um sonho do pai (ele queria, mas não teve tempo para isso) ao publicar a biografia do pai, devido a importância histórica dos acontecimentos vividos em um período de ditadura militar, foi brilhante. Só mesmo uma filha dedicada e cheia de gratidão, tendo condição de bancar uma publicação primorosa, sob todos os aspectos, é capaz de expressar tudo isso em relação ao pai, Thales Ramalho, a “Bela Alma” no conceito grego, como bem definiu o político que ora fez 100 anos de nascimento.
O político que o professor, doutor e amigo Paulo Roberto Cardoso chamou de “Bela Alma”, deve sim, ter sido uma pessoa com a qual, particularmente, eu gostaria de ter conhecido e convivido. O doutor Paulo Roberto e Thales Ramalho, já com a vida definida, foram tão amigos que o jovem de 18 anos o considerava como o segundo pai, e mereceu da parte de Ana Clara um agradecimento logo na abertura do livro de 300 páginas.
“Agradecimento especial a Paulo Roberto Cardoso, pela ajuda que fez toda a diferença em vários momentos deste livro”, livro que deverá ser lançado, também, em Belo Horizonte, em data que Ana Clara cuida de ver a melhor, e também o lugar porque o pai dela tinha em Minas uma legião de amigos, amealhados durante a convivência com Tancredo Neves.

Evidentemente, falar de um livro desse, com essa densidade e importância política, porque é fruto da vivência de um democrata raiz que transpirava o fazimento de política, que quer dizer “cuidar das pessoas”, é difícil e não se pode dizer o tamanho da importância dele de tão grande.
O certo é que o livro, se se pudesse torcê-lo, dele sairia um caldo denso de articulações políticas de um homem, este sim, um autêntico e original patriota, que não mediu esforço para resgatar a democracia depois de 21 anos de um período militar que sem nenhuma dúvida prejudicou a vida brasileira até os dias atuais.
É um livro emocionante. Além de ser uma questão de coração de uma filha e netas, a publicação possui alma política de uma época que o Brasil e os brasileiros deram um exemplo ao mundo porque conseguiu reverter um regime militar sem disparar sequer um tiro.
Thales foi um predestinado, desde a ideia de se candidatar pela primeira vez, em 1966, quando foi criado o MDB, já com o pensamento na luta pela redemocratização do Brasil. E como se sabe, o semelhante atrai o semelhante, Thales se encontrou com Ulysses Guimarães e Tancredo Neves.
E assim, essa trinca de políticos raízes, encontrou pelo caminho muitos percalços, mas enfim o objetivo foi alcançado, fazer Tancredo Neves presidente. Mas o que ninguém esperava aconteceu, um golpe do destino. Felizmente, o vice-presidente de Tancredo Neves era outro democrata com quem Thales conviveu no Recife, onde José Sarney viveu.
E, na época atual, quando acabamos de passar por um momento tenebroso de uma tentativa de golpe de Estado, que é causa de apuração pelo Supremo Tribunal Federal (STF) e em breve deverão ser divulgados todos os resultados da apuração, o clima está criado para o lançamento do livro “Thales Ramalho – Política, Diálogo e Moderação”, obra bem escrita por Cícero Belmar, pesquisador e editor.
Alberto Sena é jornalista e Escritor