
Parque halfeld em Juiz de Fora, MG - créditos: wikpedia
05-03-2025 às 09h29
Wilson Cid (*)
Convidado pelo prefeito Bruno Siqueira para instruir e orientar ações imediatas em relação ao Parque Halfeld, o superintendente da Funalfa em 2014, Toninho Dutra, certamente não ignorava que está lidando com uma tradição do ponto mais conhecido e de maior visibilidade entre os bens tombados no coração do município. Essa tradição está em que ele sempre foi objeto de divergências, protestos, contradições e pontos de vista conflitantes. É o que dizem os historiadores; Paulino de Oliveira com maior frequência.
Esse logradouro nunca foi unanimidade, a não ser que deva ser preservado. Começou com uma confusão, que perdura até nossos dias. Não foi o fundador da cidade, Henrique Halfeld, que teria doado o terreno. Nem foi esse Halfeld nem foi doação. Em 1853, ele vendeu o terreno à Câmara por 1 conto de réis. Já aí alguns protestos, porque tendo vendido aquela área, o que ele realmente doou foi o terreno acima, onde se construiu a igreja de São Sebastião. Se um pedaço foi doado, por que o outro teria de ser vendido?
Em 1880, a Câmara contratou projeto do arquiteto Miguel Lalleman para ajardiná-lo e cercá-lo de gradil. Mais protestos, porque a população queria que ali continuasse sendo apenas local de touradas e montagem de circos.
Vinte e um anos depois, outro Halfeld – coronel Francisco Mariano – financiou a remodelação, com lago, repuxo, cascata, além de canteiros. Grata a essa generosidade, a Câmara decretou, em julho do mesmo ano, que aquela se chamasse “Praça Coronel Halfeld”, o que desagradou a muita gente, que preferiu adotar, e para sempre, o nome “parque” em lugar de “praça”.
O mesmo povo que, em 1880, reagiu à instalação de gradil, em 1922, contestou a decisão do presidente Procópio Teixeira de remover aquele cerco. Outro desacordo viria em 1934, quando o prefeito Menelick de Carvalho mandou substituir o pavilhão central, em estilo mourisco, por um prédio destinado a se tornar a sede da biblioteca municipal. Esse pavilhão foi apontado ironicamente por Pedro Nava, em “Baú de Ossos”, como um exemplo de desordem arquitetônica do Parque, pois tinha um confuso estilo “gótico-romântico-renascentista-neoclássico” … Chamou àquilo de estilo-bunda…
Valadares Pinto, prefeito nomeado por pouco tempo, mandaria derrubar as palmeiras, e por isso quiseram devolvê-lo a Belo Horizonte. Depois, Saulo Moreira, que assumiu em 1974, instalou uma lâmina d’água no lado de frente da Avenida Rio Branco. Durou apenas alguns meses, pois debochavam da obra, vendo-se ali um lugar de pescaria para desocupados.
Com Mello Reis, que faria a principal reforma no Parque, inspirado em ideias da arquiteta Rosa Kliass, também se pagou cota de desgaste nessa tradição contestatória. Poetas e trovadores, liderados por José Carlos de Lery Guimarães, cobriram os tapumes da obra, entre a Halfeld e a Rio Branco, com trovas críticas e satíricas, contudo insuficientes para quebrar o bom humor do prefeito.
Hoje, embora o superintendente da Funalfa tenha dito nada além de dados superficiais sobre a próxima intervenção, já há quem conteste o pouco que se sabe sobre a nova roupagem do Parque, como o “cerca ou não cerca?”; para manter a tradição.
(*) Wilson Cid é jornalista