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O filósofo e pensador Heráclito dizia que ninguém pode entrar num mesmo rio duas vezes, porque tanto o rio quando o homem, se modificam, no tempo e no espaço.
12-02-2025 às 10h40
Daniela Rodrigues Machado Vilela*
Aprender é um processo que necessita de tempo para que se consolidem resultados. Não há imediatismos. São elementos primordiais ousadia e disposição para pensar, refletir e um mobilizar-se diariamente com abertura para o processo de apreensão e compreensão do mundo e seus desafios. Acessar “o saber” pressupõe: dedicação, interesse e estímulos para que se construa pensamento crítico. Pensar reflexivamente é, de certo modo, ato ousado, muitos indivíduos não se dispõem.
Contemporaneamente, como outrora, a incerteza e a transitoriedade são palavras de ordem e desordem. Todo momento histórico permite que se lancem luzes sobre o saber e os modos de enfrentamento das indagações postas. Os entendimentos vão se tornando mais complexos e em sintonia com os desafios esboçados, assim, modelam-se e remodelam-se as respostas, haja vista, que não só o mundo muda, mas o olhar do sujeito que o interpreta.
O filósofo e pensador Heráclito dizia que ninguém pode entrar num mesmo rio duas vezes, porque tanto o rio quando o homem, se modificam, no tempo e no espaço. Logo, o tempo a tudo consume, modifica e deixa marcas. Aprendizado é ato constante, que se realiza de modo sempre inacabado durante uma vida inteira.
Dos professores, nunca se intentou tanta ousadia e coragem para que estimulem a produção acadêmica e o compartilhamento de conteúdo, de modo a que instiguem, provoquem e despertem o interesse dos alunos pelas reflexões propostas. Espera-se que o estudo dos conteúdos se faça de modo aplicado e detido, com muitas variáveis e que seja apto a criar consciência crítica para que os estudantes sejam capazes de construir e, para além, remodelar as respostas.
É elemento indispensável estimular a criatividade, para que se faça possível ao estudante enxergar os problemas e lhe propor soluções outras, desenvolver, desta feita, uma inteligência aplicada, capaz de reinventar as soluções e não apenas se conformar com o que já está posto, chacoalhar as conexões e proposições dos conteúdos, dando-lhe novos contornos e conformações.
Vive-se tempos de transformações, reorganizações e, por isto, é momento de criar e promover novas formas para lidar com a vida e seus desafios esboçados.
Da incompletude humana, nasce o desejo de aprender, de conhecer, de interagir. A convivência pode nos ensinar quem pretendemos ser, sobre quem somos e o que não querermos nos tornar. Ou seja, nem tudo que vemos queremos reproduzir. Uma exemplificação possível, seria: Alguém cai no buraco, você se aproxima deste para socorrer quem está lá dentro, não para cair igualmente. Para isto, existem as experiências e os exemplos, para ensinar sobre a tomada de melhores decisões. Um bom observador, acerta mais o passo da caminhada, porque observa a trajetória alheia para nela se espelhar ou dela se afastar.
Educar não é impor uma visão de mundo, mas esboçá-la, com a abertura para ouvir outros posicionamentos. Tampouco, é apenas transferir uma base de conteúdos, e sim, instigar dúvidas e curiosidades, com a finalidade de desvendar novas respostas. Para que se faça possível observar os acontecimentos com o olhar renovado, mais apurado e, desta feita, investir nas dúvidas e se afastar das certezas inquestionáveis.
Viver é um descobrir constante, que pressupõe a capacidade de esperançar e se mobilizar diante dos percalços. As dúvidas e quedas ensinam.
Aprendizagem envolve alegria, prazer e um descobrir constante e renovado. Não deve haver imposição de um saber único, pois é fundamental o respeito às diferentes visões de mundo.
O objetivo dos mestres deve ser formar pessoas com pensamento livre, capazes de voar. O homem inteligente, não é apenas conteudista, centrado no acúmulo de informações, mas aquele que sabe manejar as perguntas, os dados e interconectá-los. Lida com o improviso, com a capacidade de criar, indigna-se com a miséria do mundo, com a precariedade humana, ambiciona mudar o estado das coisas, aperfeiçoá-las.
Uma pesquisa, quando bem realizada transforma a percepção, agrega novos saberes. O estudante não pode ser um espectador, deve ser partícipe ou até mesmo protagonista do processo de aprendizagem, se envolver com o objeto de estudo.
Enfim, a escola, a universidade, são centros, espaços vivos, por excelência de aprendizagem e saber, mas se aguçarmos o olhar, perceberemos que os aprendizados estão por toda parte. Educação é um processo contínuo e ininterrupto. Não acaba ou fica de todo completo, nunca se basta. Para apreender e compreender a complexidade do mundo têm que se exercitar. Mãos à obra, caro leitor!
*Doutora, Mestra e Especialista em Direito pela UFMG. Atualmente, residente Pósdoutoral pela também UFMG, com financiamento público da FAPEMIG. Professora convidada no Programa de Pós-Graduação em Direito da Universidade Federal de Minas Gerais.