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Era da informação e do consumo desenfreado -créditos: divulgação
09-02-2025 às 08h18
Brunello Stancioli*
Na era da informação e do consumo desenfreado, os emergentes se destacam como protagonistas de uma narrativa que mistura autoconfiança e superficialidade. O que antes pertencia a figuras de destaque, como empresários e artistas, agora se democratizou. Hoje, qualquer um com uma conexão à internet e um desejo insaciável de validação pode se tornar um “influencer” ou “empreendedor digital”.
Esses emergentes, que ganham quantias que fariam muitos chorarem de inveja, parecem ter encontrado o Santo Graal do sucesso: a capacidade de transformar cada curtida em uma medalha de honra. Para eles, não importa se a conquista é um simples “check-in” em um restaurante da moda ou a compra de um carro que mais parece uma extensão da insegurança do que uma verdadeira necessidade. Os novos status são medidos em potência e seguidores, não em educação ou experiência.
A autopromoção virou um esporte. Eles vivem como se estivessem em um reality show, onde cada movimento precisa ser filmado e compartilhado. O “foco, força e fé” se tornou o mantra de uma geração que acredita que a consistência nas redes sociais é equivalente a um diploma universitário. O que mais importa é a aparência, e o conteúdo é apenas um detalhe que pode ser encaixado em uma legenda curta.
As vitórias morais são celebradas como conquistas olímpicas. Não conseguiu o emprego dos sonhos? “Foi apenas um empate honroso.” Aumentou o número de seguidores em 50? O brinde à “comunidade” é mais do que justificado. Para esses emergentes, o fracasso é uma oportunidade disfarçada — e se você não consegue enxergar isso, bem, provavelmente não está “pronto para o jogo”.
O uso de jargões financeiros e vocabulário de vestiário é um ponto alto desse fenômeno. O “contrato milionário” que nunca chegou é sempre mencionado em conversas, como se apenas o ato de mencioná-lo conferisse glamour à vida deles. E claro, a lesão invisível, que pode ser uma “contratura existencial” ou um “entorse de motivação”, é frequentemente a culpada por não ter alcançado as metas estabelecidas. Um verdadeiro espetáculo de autoengano!
As coincidências entre esses emergentes são dignas de nota. Por exemplo, Tio Patinhas, o icônico personagem da Disney, já havia ido à Lua com capital privado muito antes de Elon Musk sonhar com viagens espaciais. Enquanto o pato mais rico do mundo explorava novos horizontes em busca de tesouros, os novos emergentes se contentam em alugar Ferraris e Porsches em Nova Lima, uma cidade que se destaca pela ostentação de seus habitantes. A ironia é palpável: alugar um carro de luxo em uma cidade com pavimentação duvidosa e estradas que mais parecem obstáculos em um jogo de vídeo game. O risco de assalto é alto, e a possibilidade de sequestro não é apenas uma história de terror, mas uma realidade para muitos. Mas, ah, tudo isso vale a pena pela ostentação!
Os emergentes do futebol e os emergentes da favela compartilham semelhanças curiosas. Ambos buscam reconhecimento e validação, mesmo que em contextos diferentes. Enquanto o jogador de futebol se vê como uma estrela em ascensão, o emergente da favela procura um espaço na sociedade que muitas vezes o marginaliza. Ambos usam suas conquistas — reais ou ilusórias — para se destacar em um mundo que valoriza cada vez mais a imagem do que a substância.
O criptoentusiasta, por sua vez, é o novo alquimista do século XXI, que troca conhecimento por promessas de enriquecimento súbito, enquanto a única coisa que realmente se multiplica são os memes sobre suas perdas financeiras. E quem pode esquecer o estilo de vida extravagante que muitos adotam, como se a riqueza fosse um estado de espírito e não o resultado de um trabalho árduo? Ah, a doce ironia de viver em um mundo onde a autenticidade é apenas mais uma hashtag.
Contrastando com essa superficialidade, existe o verdadeiro “old money”, que personifica uma riqueza discreta e um estilo de vida pautado por hábitos que muitas vezes passam despercebidos. Esses indivíduos podem ser os verdadeiros magnatas da sociedade, mas preferem o silêncio à ostentação. Investem em cultura, frequentam museus e apoiam iniciativas artísticas e educacionais. Muitas vezes, estão envolvidos em causas sociais, mostrando um compromisso real com a sociedade e o país que os acolhe. O “old money” não ostenta, mas cultiva um legado que valoriza a educação e a tradição.
Enquanto isso, o emergente contemporâneo, sempre com um toque de cafona, nem tem ideia do que é ser rico de verdade. Para ele, a verdadeira riqueza é medida pelo brilho das rodas de um carro alugado ou pela quantidade de seguidores em suas redes sociais, e é improvável que ele venha a alcançar uma compreensão mais profunda do que significa o verdadeiro sucesso. Assim, continuamos a observar essa nova geração de emergentes, que nos lembra que, no final das contas, o que realmente importa é a impressão que deixamos — mesmo que essa impressão seja apenas um holograma brilhante.
### Bibliografia
KAHN, Daniel. A Era da Superficialidade: O Impacto das Redes Sociais na Autopercepção. São Paulo: Editora Nova, 2021.
MARTINS, Clara. Influência e Autenticidade: O Paradoxo da Vida Digital. Rio de Janeiro: Editora Futuro, 2020.
Brunello Stancioli é professor residente do IEAT (Instituto de Estudos Avançados Transdisciplinares) da UFMG, professor do corpo permanente do Programa de Pós-Graduação em Direito na UFMG e de Pós-Graduação em Inovação Tecnológica da UFMG
### Aviso
Este texto foi elaborado com o auxílio de uma inteligência artificial, que contribuiu para levantar dados e informações pertinentes ao tema abordado. A interpretação e a crítica contidas no texto são de responsabilidade do autor.