01-02-2025 às 08h18
Por Rodrigo Marzano Antunes Miranda*
Um Novo Paradigma para a Paz Global na Era da Diversidade
A construção da paz em um mundo cada vez mais complexo, interconectado e algoritimizado exige uma profunda revisão dos paradigmas tradicionais de relações internacionais. Acordos unilaterais e imposições diplomáticas, frequentemente enraizadas em assimetrias de poder e desconsiderando a riqueza da diversidade cultural, demonstram-se insuficientes para lidar com os desafios contemporâneos.
Na busca pela PAZ em uma era dominada pela “Algorocracia”, onde interesses diversos moldam os dados que definem conflitos e harmonia, a Auditoria de Algoritmos emerge como uma necessidade premente, conforme enfatizado pelo prof. dr. Gilberto Pinto Monteiro Diniz, presidente do Tribunal de Contas de Minas Gerais, em diversos pronunciamentos e escritos, o que nos revela a vanguarda de seu pensamento. Esta auditoria é crucial para atenuar vieses e discriminações em sistemas de tomada de decisão baseados em Inteligência Artificial, que, embora eficientes, podem perpetuar injustiças. A promoção da diversidade nas equipes de desenvolvimento de IA, aliada a estratégias como transparência, explicabilidade e regulação algorítmica, torna-se fundamental para construir um juízo algorítmico não enviesado. Tal abordagem não apenas mitiga preconceitos de religiosidade, raça, gênero e sexualidade, mas também contribui significativamente para a justiça social e, consequentemente, para a construção de uma PAZ sustentável e inclusiva em nossa sociedade cada vez mais digitalizada.
O Plano de Paz proposto durante a administração Trump para o conflito israelense-palestino serve como um exemplo emblemático dessa insuficiência. Elaborado sem a participação efetiva de uma das partes, o plano não apenas negligenciou a complexidade histórica e cultural do conflito, mas também reforçou dinâmicas de exclusão, perpetuando o ciclo de violência e desconfiança. Nesse contexto, a Macrofilosofia de Gonçal Mayos Solsona emerge como um novo paradigma para a construção da paz, oferecendo uma perspectiva inovadora que se fundamenta na interconexão, na empatia e na busca por uma consciência mais integral.
A Macrofilosofia desafia a lógica das imposições unilaterais, propondo uma abordagem holística que reconhece a interdependência entre nações, culturas e indivíduos. A macroperspectiva, central nessa filosofia, nos convida a enxergar o mundo como um sistema interconectado, onde as ações de cada parte reverberam no todo. Compreender essa interconexão é fundamental para superar as divisões e conflitos que impedem a paz global. No caso do conflito israelense-palestino, a Macrofilosofia nos impele a ir além das narrativas simplistas e binárias, buscando compreender as múltiplas perspectivas e aspirações envolvidas. A proposta de enclaves palestinos, a rejeição de Jerusalém Oriental como capital e as condições restritivas impostas pelo plano demonstram uma profunda incompreensão dessa complexidade, perpetuando a injustiça e a desigualdade. A Macrofilosofia, ao contrário, defende uma abordagem baseada no diálogo, no respeito mútuo e no reconhecimento da dignidade de todos os envolvidos.
Essa mesma lógica de imposição unilateral se manifesta em outras esferas das relações internacionais, como nas políticas migratórias restritivas. A abordagem atual adotada pela administração Trump, que afetou milhões de imigrantes, incluindo brasileiros residentes nos Estados Unidos, exemplifica um modelo de governança global fundamentado na exclusão e no controle. A substituição do termo “imigrante” por “alien” (estrangeiro) revela não apenas uma escolha linguística, mas uma concepção ideológica que desumaniza e estigmatiza grupos inteiros.
A Macrofilosofia, em contraponto, propõe o desenvolvimento da consciência integral, que integra razão, intuição e emoção, promovendo a empatia e a compaixão. A empatia, a capacidade de se colocar no lugar do outro e compreender suas experiências, é fundamental para a construção de uma cultura de paz e para a superação de preconceitos e estereótipos que alimentam conflitos.
A Macrofilosofia postula que a humanidade se encontra em um processo de evolução consciente, um desenvolvimento moral e ético que nos leva a reconhecer a importância da paz, da cooperação e da solidariedade. Essa evolução consciente implica em uma ressignificação radical dos paradigmas diplomáticos tradicionais. A verdadeira construção da paz não se limita à negociação de territórios ou ao estabelecimento de fronteiras, mas envolve um processo complexo de reconhecimento mútuo, compreensão das diferenças culturais e superação de narrativas históricas de antagonismo.
A Macrofilosofia nos convida a construir pontes de diálogo onde antes existiam muros de separação, promovendo a unificação do conhecimento e o diálogo intercultural. A integração de diferentes áreas do saber, como filosofia, ciência, arte e religião, contribui para uma compreensão mais ampla e profunda da realidade, permitindo-nos transcender as visões reducionistas e maniqueístas que frequentemente alimentam conflitos.
A Macrofilosofia não se limita a teorias abstratas, mas oferece ferramentas práticas para a construção da paz no cotidiano. A prática da meditação, por exemplo, pode contribuir para o desenvolvimento da consciência integral e da empatia. A participação em comunidades e grupos que promovem a cultura de paz, o voluntariado e a educação para a paz, baseada nos princípios da Macrofilosofia, são igualmente importantes.
Temos de superar o atraso do pensamento conservador, pois a busca pela paz global, um anseio perene da humanidade, se confronta hoje com os desafios e as complexidades de um mundo em constante transformação. Paradoxalmente, enquanto a tecnologia e a interconexão global alcançam níveis sem precedentes, o pensamento conservador, muitas vezes enraizado em visões obsoletas de poder e dominação, se apresenta como um obstáculo significativo na construção de um futuro mais pacífico e justo. A Macrofilosofia, com sua ênfase na macroperspectiva e na interconexão global, oferece um caminho para transcender as limitações desse pensamento retrógrado e construir um novo paradigma para a paz na era da diversidade.
O contexto da construção da paz no mundo moderno é marcado por contradições profundas. De um lado, a globalização e a revolução digital criam novas possibilidades de interação e colaboração entre diferentes culturas e povos. De outro, a persistência de desigualdades econômicas, conflitos geopolíticos e discursos de ódio alimentam tensões e dificultam o diálogo intercultural. Nesse cenário, o pensamento conservador, frequentemente associado a homens brancos em posições de poder, se mostra inadequado para lidar com os desafios contemporâneos. Sua visão de mundo, muitas vezes baseada em hierarquias rígidas, preconceitos e resistência à mudança, impede a construção de uma sociedade verdadeiramente inclusiva e pacífica. (Assim pensa Trump – quando discursa falando do mundo só observa o próprio umbigo e sucumbe ao medo particular de ser superado pelo novo que se apresenta).
A resistência à mudança, característica marcante do pensamento conservador, revela um profundo medo de um novo mundo onde o poder e os privilégios tradicionais sejam questionados. Esse medo se manifesta na defesa de políticas excludentes, na demonização do diferente e na negação da complexidade dos problemas globais. O Plano de Paz proposto pela administração Trump para o conflito israelense-palestino só exemplifica essa visão limitada e desatualizada. Tal plano ignorou décadas de história e as aspirações legítimas de um povo, impondo uma solução unilateral que apenas agravou o conflito.
A Macrofilosofia, como viés relativamente recente na investigação filosófica, oferece uma lente inovadora para compreender os desafios da construção da paz no mundo moderno. Assim como a macroeconomia analisa os sistemas econômicos em sua totalidade e a macrossociologia estuda as estruturas e processos sociais em larga escala, a Macrofilosofia busca uma compreensão abrangente dos fenômenos humanos, considerando as interconexões entre diferentes áreas do conhecimento e as complexas interações entre indivíduos, culturas e nações. Nesse contexto, a Macrofilosofia do Direito, propõe uma análise dos algoritmos jurídicos como o verdadeiro núcleo da tecnologia da informação jurídica. A compreensão dos algoritmos, seus vieses e seus impactos na sociedade, é crucial para garantir que a tecnologia seja utilizada a serviço da justiça e da paz, e não para perpetuar desigualdades e injustiças.
A análise dos algoritmos jurídicos, sob a ótica da Macrofilosofia, requer uma abordagem que considere tanto os aspectos técnicos quanto os valores éticos e sociais. Os conceitos noéticos e noemáticos, propostos por Husserl, oferecem um framework para essa análise. O aspecto noético, que incorpora o conceito de imperativo categórico de Kant, se refere à intenção e aos princípios que guiam a criação e a aplicação dos algoritmos. O aspecto noemático, por sua vez, considera os valores jurídicos, políticos e sociais construídos ao longo da história da civilização. A Macrofilosofia nos convida a questionar os vieses embutidos nos algoritmos, garantindo que eles reflitam os valores de justiça, equidade e respeito aos direitos humanos.
A hermenêutica jurídica, com sua metodologia tradicional de interpretação e aplicação das normas, também contribui para a compreensão dos algoritmos jurídicos. A análise hermenêutica permite contextualizar os algoritmos, considerando as especificidades de cada caso e as diferentes interpretações possíveis. Essa abordagem enriquece o conhecimento do direito e confere legitimidade ontológica aos algoritmos, indo além da mera operosidade técnica. A Macrofilosofia, assim, integra a dimensão técnica dos algoritmos com a dimensão humana da justiça, buscando um equilíbrio entre eficiência e equidade.
A concepção sistêmica da sociedade, proposta por Luhmann, complementa a visão da Macrofilosofia, enfatizando a interdependência entre os diferentes sistemas sociais. A construção da paz, nesse contexto, não se limita a ações isoladas, mas requer uma transformação sistêmica que envolva todos os atores sociais. A Macrofilosofia nos convida a superar a visão fragmentada da realidade, promovendo a colaboração e o diálogo entre diferentes setores da sociedade. O futuro da humanidade, como aponta o texto, oscila entre o domínio da razão e o triunfo da barbárie. A Macrofilosofia, com sua ênfase na evolução consciente, na empatia e na interconexão, nos oferece um caminho para construir um futuro onde a razão, a justiça e a paz prevaleçam.
O algoritimo que se revela nas ações de Trump quanto a imigração é na verdade uma resposta ao medo de perder privilégios para diversidades que batem o tempo todo a porta e numa compreensão do humano mais holística, pelo óculos macrofilosofico que impomos aqui, um misto de sentimento de perda, com raiva. Logo, as deportações não precisam ser “efetivas”, só espetaculosas para responder ao sentimento coletivo cultivado por muitos que a ‘culpa’ do que estão perdendo é dos imigrantes e não de sua própria ignorância.
A implementação da Macrofilosofia como caminho para a paz global, no entanto, enfrenta desafios significativos. A resistência a mudanças de paradigma, a complexidade dos conflitos globais e a necessidade de um engajamento coletivo e global são alguns dos obstáculos a serem superados. No entanto, a Macrofilosofia oferece uma visão esperançosa para o futuro, baseada na crença na capacidade humana de evoluir, de aprender com os erros do passado e de construir um mundo melhor. Temos de educar macrofilosoficamente para que o mundo enxergue a diversidade como algo bom e não como medo da perda.
* Doutorando do Programa de pós-graduação em Cidadania e Cidadania, Direitos Humanos, Ética e Política da Faculdade de Filosofia, da Universitat de Barcelona, linha de pesquisa: 101157 Filosofias do Sujeito e da Cultura (UB 2019-), orientado pelo Prof. Dr. Gonçal Mayos Solsona, mestre em Direito pela UFMG (2019), especializado em Formação Política (lato sensu) PUC-RJ (2007), Graduado em Filosofia (bacharel licenciado) PUC-MG (2005). Membro de grupos de pesquisa: o Grupo de Pesquisa dos Seminários Hegelianos (UFMG), Grupo de Pesquisa em Estudos Estratégicos Raul Soares (UFMG) e o Grupo internacional de Pesquisa em Cultura, História e Estado (UFMG-UB). Sócio efetivo colaborador da Sociedade Hegel Brasileira. Membro da SOAMAR-MG Sociedade dos Amigos da Marinha em Minas Gerais. Assessor do Centro Nacional de Fé e Política Dom Helder Câmara. Cf. http://lattes.cnpq.br/8767343237031091. E-mail: agendamarzano@gmail.com.