Desvendando a Angústia da Orientação Profissional no Ensino Médio. A pressão por escolher “o que ser na vida”, em um momento da vida em que a própria identidade está em construção
14-01-2025 às 09h54
Raphael Silva Rodrigues*
O término do Ensino Médio marca não apenas o fim de uma etapa, mas o início de uma jornada repleta de expectativas, desafios e, acima de tudo, decisões cruciais. É nesse momento que o jovem, muitas vezes ainda imaturo e desprovido de autoconhecimento sólido, se depara com a escolha profissional – uma decisão que ecoará por toda a sua trajetória.
A pressão por escolher “o que ser na vida”, em um momento da vida em que a própria identidade ainda está em construção, pode ser paralisante. O leque de profissões parece infinito e as dúvidas se multiplicam: seguir a razão ou a paixão? Priorizar a segurança financeira ou a realização pessoal? A ausência de maturidade para lidar com tamanha responsabilidade, somada à falta de informação qualificada e direcionamento adequado, transforma o que deveria ser um processo natural de descoberta em uma fonte inesgotável de angústia.
Nesse contexto, a escola e a família emergem como pilares fundamentais, atuando como bússolas para guiar o jovem por entre as inúmeras possibilidades. A escola, além de transmitir conhecimento acadêmico, precisa assumir um papel mais ativo na orientação profissional, despertando a consciência dos estudantes para seus próprios talentos e vocações.
É imprescindível ir além das tradicionais “feiras de profissões”. É preciso inserir a temática no cotidiano escolar, por meio de atividades dinâmicas, testes vocacionais, palestras com profissionais de diferentes áreas, visitas técnicas a empresas e universidades. Criar um ambiente propício ao autoconhecimento, incentivando o diálogo aberto e a reflexão sobre os próprios valores, habilidades e expectativas em relação ao futuro, é fundamental para que o jovem faça uma escolha consciente e alinhada com seus verdadeiros anseios.
Em paralelo, a família, como porto seguro do afeto e da segurança emocional, tem um papel igualmente crucial. É natural que pais e responsáveis, carregados de sonhos e expectativas, desejem influenciar a decisão dos filhos. No entanto, é preciso ter em mente que a escolha profissional é um processo individual e intransferível. Impor vontades, comparar trajetórias ou desmerecer aspirações só contribuirá para aumentar a angústia e a insegurança do jovem.
O papel da família nesse processo é o de acolher, oferecer apoio incondicional e incentivar o diálogo aberto e honesto. Compartilhar suas próprias experiências no mercado de trabalho – tanto os sucessos quanto as frustrações – pode ser enriquecedor para o jovem. Estimular a pesquisa sobre diferentes carreiras, auxiliar na busca por informações sobre cursos e universidades e, sobretudo, demonstrar confiança na capacidade de decisão do jovem, são atitudes que farão toda a diferença.
É importante salientar que a escolha profissional não é um veredito irrevogável. Mudanças de rota são naturais e podem ser positivas. O fundamental é que o jovem, ao concluir o Ensino Médio, tenha a maturidade para tomar suas próprias decisões, amparado pelos conhecimentos adquiridos e pelo apoio daqueles que o amam.
Desmistificar a ideia de uma “escolha perfeita” e estimular a busca por uma trajetória profissional que traga realização pessoal e felicidade são os maiores legados que a escola e a família podem deixar. Afinal, o sucesso reside em trilhar um caminho que faça sentido, independente do destino, a qual muitas vezes resume apenas em um suposto êxito de natureza econômica e/ou social.
Em suma, a escolha profissional não se resume a um momento isolado no tempo, mas a um processo gradual de descoberta que exige maturidade, autoconhecimento e, principalmente, o apoio da escola e da família. Estimular o protagonismo do jovem, fornecendo-lhe ferramentas para que ele possa trilhar, com segurança e autonomia, o caminho que o levará à realização pessoal e profissional, eis o verdadeiro significado de sucesso nesse contexto.
*Raphael Silva Rodrigues: Doutor e Mestre em Direito (UFMG), com pesquisa Pós-doutoral pela Universitat de Barcelona, na Espanha. Especialista em Direito Tributário e Financeiro (PUC/MG). Professor do PPGA/Unihorizontes. Professor de cursos de Graduação e de Especialização (Unihorizontes e PUC/MG). Advogado e Consultor tributário.