A cozinha está sob o comando de Samira Abuid que mantém em seu restaurante as origens e temperos que guarda de família, com pitadas generosas de noz moscada, cravo e Bahar.
14-01-2025 às 09h25
Adriano Augusto Dias de Souza*
Em um momento no qual o mundo assiste o território nacional da Síria se tornar um grande espaço de exceção, com disputas de terras envolvendo grupos internos e diversos interesses internacionais, com ocupações e ataques turcos e israelenses convido os leitores a apurarem os sabores e conhecerem um pedacinho da Síria situado bem aqui em Belo Horizonte, no Bairro Lagoinha. O restaurante Prazer da Esfiha, que traz já em seu nome as delícias que oferece diariamente aos paladares, encanta a clientela que diariamente compartilham de um prazer ancestral: a tradicional culinária síria.
A cozinha está sob o comando de Samira Abuid que mantém em seu restaurante as origens e temperos que guarda de família, com pitadas generosas de noz moscada, cravo e Bahar. Há cerca de 106 anos, esta tradição vem sendo passada, desde sua avó que veio do país árabe para Belo Horizonte, bem no início da formação da cidade, e deu início ao trabalho, em seu próprio endereço, de produzir manualmente e vender esfihas. O negócio da família se encontra já em sua quarta geração de mulheres à sua frente, com Samira repassando para sua filha, Luiza Abuid, as práticas e saberes culinários que herdou de sua avó, Sara João Bajur. O que se iniciou como uma elaboração caseira com dona Sara hoje conta com uma produção elaborada, com maquinários e capacidade de preparar diariamente centenas de pratos como esfihas, quibes, shawarmas, kebabs, dentre outras delícias típicas da cozinha siríaca.
O Prazer da Esfiha está localizado na tradicional rua Itapecerica. Espaço com casarões da virada do século XX, tombados pelo patrimônio da cidade com estilos arquitetônicos ecléticos que vão do neoclássico, neocolonial ao art decó e art nouveau. Este endereço guarda consigo muitas das histórias das origens e da boemia de Belo Horizonte nos idos tempos de sua fundação. Atualmente é possível traçar um paralelo entre o Bairro Lagoinha e a própria Síria, como espaços que por vezes se encontram marginalizados e apartados do poder do Estado, repletos de populações passantes e carentes de ações do Poder Público.
Como alguém que acredita na melhoria do bairro e tem esperança no retorno aos seus dias de prestígio e belezas, Samira inaugurou recentemente, em comemoração aos 5 anos do estabelecimento naquele espaço, junto ao próprio restaurante a Galeria de Arte Culinária Felipe Thales, que leva consigo o nome do líder comunitário e fundador do movimento Viva Lagoinha. A galeria conta com um repertório de pinturas, grafites, poesia concreta, fotografias de cenas cotidianas do bairro e ainda apresenta um espaço interativo para os visitantes deixarem sua própria marca. As obras expostas são de autoria de artistas locais, inclusive a própria Luiza que além de empresária e cozinheira do restaurante também é fotógrafa profissional.
Para os amantes da boa comida com preço justo e sabor inigualável fica o convite de acessarem e conhecerem estas delícias árabes localizadas no coração de Belo Horizonte, com o acréscimo de desfrutarem da arte popular e 100% feita em Minas. A vocês, como diz o nome da própria exposição: Prazer, Lagoinha.
*Adriano Augusto Dias de Souza: